quinta-feira, 30 de abril de 2020

Aprender a Fazer

Livro: Mereça Ser Feliz
Autora Espiritual: Ermance Dufaux

Capítulo 16

Não nos referimos, porém,  à educação moral pelos livros e sim à que consiste na arte de formar os caracteres, à que incute hábitos, porquanto a educação é o conjunto dos hábitos adquiridos.

Os rumos educacionais do século XXI apontam o ato de "saber fazer" como um dos quatro pilares do processo de desenvolvimento dos potenciais humanos. Extremamente coerente com a evolução, este "aprender a fazer" leva-nos a ricas inferências para o modelo espírita da educação.

A informação espírita é cultura, e a cultura em si não abriga o saber, porque o saber implica o uso da informação para gerar a transformação - meta essencial da proposta espírita.

Conciliando as assertivas educacionais da modernidade, percebemos, através de avaliações sinceras, que nossas agremiações doutrinárias cumprem com a valorosa missão do esclarecimento, apontando as diretrizes do que se "deve fazer", contudo, ficam evidentes as necessidades prementes sobre o "como fazer". Indicar roteiros nem sempre será garantia de melhoria, porque cada individualidade traz em sua bagagem maior ou menor facilidade de compreensão das Verdades Cósmicas. Por essa razão o estudo minucioso do "saber como fazer" inclui a interação do aprendiz com os veiculadores do conhecimento em tarefas grupais, participativas, dialogais, com plena troca de informações na construção do saber.

Podemos deixar algumas questões, entre diversas, que nos compete formular, a fim de aquilatar a extensão do quanto temos que aprender acerca do "como fazer". São elas:

Como aprender a dialogar? Como amar a si mesmo? Qual a fórmula para efetivar o perdão verdadeiro? Qual o remédio para o melindre? Existe uma forma de controle da irritação? Como vencer os conflitos sexuais? Como amar inimigos? Como superar os impulsos mentais de violência? Como dominar as desordens nos raciocínios, quando nos encontramos sob pressão? Como discordar e criticar sem gostar menos? Qual o caminho para formar uma equipe harmoniosa? Qual a forma prática para sermos bons parceiros dos bons espíritos? Como penetrar nos labirintos do personalismo em nossa intimidade? Como fazer o autoconhecimento?

O momento das vivências espíritas conclama uma tomada de posição nova. A ênfase dada à instrução precisa ser seguida de uma pedagogia mais palpável que permita aos estudantes espíritas a melhor absorção vivencial dos conhecimentos. Levemos o ensino da casa espírita para “fora de si mesma” em atos e decisões que comprovem sua efetiva adequação ao entendimento; somente dessa forma estaremos trabalhando pela construção do saber em nós mesmos. A isso denominamos contextualização - aplicação prática e o desenvolvimento de habilidades a partir dos conteúdos espíritas adquiridos nas abençoadas tarefas do estudo.

Nesse prisma, a convivência ganha conotações de caráter disciplinar e motivador a inestimáveis lições no cadinho do autoburilamento espiritual.

O "saber fazer" implica um compromisso de grandes proporções, concitando-nos a mudanças de profundidade.

O centro espírita quando escola do espírito apresenta, na sua operosidade, elementos estimuladores a esse imperativo de solidificar em grupo os alicerces individuais do saber que cada qual dará conta na sua faina renovadora, contextualizando-o na intimidade.

Em auxílio a esse assunto, enumeremos quatro referências que merecem reciclagem e aperfeiçoamento na criação de ambientes educativos, que melhor permitam aos partícipes um eloquente encontro consigo mesmo, que, sem dúvida, é o ponto de partida para deflagrar o "aprender a fazer".

- A Transmissão do Conteúdo - não é mais importante acumular informação, mas saber pensar, saber organizar o trabalho, saber gerenciar o conhecimento. Contextualizar é aprender a estabelecer uma relação de parceria com o conhecimento espírita, a fim de transformá-lo em instrumento do crescimento pessoal. A forma tradicional de transmitir conteúdos, centrados em programas e divulgadores do ensino doutrinário, reduz a capacidade comunicativa, que deve ser uma via de mão dupla, e incentiva a adoção de dogmas na informação doutrinária, sob o influxo de velhos atavismos da alma.

- A Pedagogia do Afeto - é a didática da relação dialógica, relação parceira, interativa, pois na vida social a relação nunca é monologal. A massificação é fator dispersivo, daí o valor dos grupos. Quando esse conhecimento é passado como conteúdo - informação pronta - o educando deixa de ter a oportunidade de dar a ele os seus significados, seus sentidos, e então o saber perde o colorido da representação individual capaz de contextualizar as vivências gerando a "Ética do ser." Ter conhecimento é diferente de "ser" o conhecimento.

- Os Projetos Vivenciais - além de gestor do conhecimento, o centro espírita deve ser um laboratório de encontros humanos, com projetos de estudo e oficinas para esferas específicas de necessidades, mentalidade educativa centrada em valores pelo desenvolvimento de competências, dinâmicas de expressão e criatividade nos campos da vida interpessoal.

- Os Relacionamentos Educativos - os projetos não podem ser artificiais. Sua eficácia é comprovada no próprio círculo onde se efetiva, através de relações de afeto que são tecidas entre os convivas, base segura e produtiva para grupos que buscam contextualização. Os valores do respeito e da solidariedade mútua garantem a expressão dos significados pessoais e a valorização de todas as atividades.

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