sábado, 4 de julho de 2020

Obsessão e Orgulho

Livro: Mereça Ser Feliz
Autora Espiritual: Ermance Dufaux

Capítulo 25

“Todas as imperfeições morais são outras tantas portas abertas ao acesso dos maus Espíritos. A que, porém, eles exploram com mais habilidade é o orgulho, porque é a que a criatura menos confessa a si mesma”.

O Livro dos Médiuns – Capítulo 20 – Item 228

A obsessão é um fenômeno da vida mental independente da mediunidade. Podem ser obsidiadas quaisquer pessoas, desde que haja um processo de domínio mente a mente. Conquanto essa seja uma verdade clara e assentada no princípio natural das leis vibratórias, costumeiramente associa-se a presença da obsessão somente naqueles que são portadores de faculdades extra-sensoriais.

Nos médiuns, graças à sua facilidade de captação que foge da escala comum das percepções humanas, podem ser verificadas com maior ostensividade nos seus efeitos e associadas aos transtornos mentais e desequilíbrios de conduta.

Contudo, essa patologia espiritual expressa-se de formas subliminares em quem não possua a sensibilidade mediúnica, tornando-se um quadro de difícil diagnose pelas expressões sutis que alcança. Existe uma “loucura silenciosa” ou “loucura controlada” acometendo muitas criaturas - fortes indicadores da presença de um adversário que torpedeia os campos do pensamento e do sentimento.

Como sempre, a base para a existência da obsessão é a presença de um elo justificável entre quem se encontra no corpo e quem se encontra na erraticidade. Pode ser um insucesso de outras vidas, um vício do presente, uma busca comum de ideais inferiores, uma sintonia decorrente de más escolhas, um interesse partilhado por ambos e outras tantas causas que unem as almas na paixão e na vingança, no ódio e no egoísmo, gerando dependência e posse.

Considerando a realidade espiritual dos habitantes da Terra, raramente alguém estará totalmente livre de um acometimento psíquico pelas malhas da obsessão, ainda que esporadicamente. Os hábitos, as tendências e o estilo de vida do homem facilitam esse contato, atraindo para perto de si os espíritos que ainda se apegam aos costumes sociais. Assim, a alimentação, a diversão, o sono, a vida social e familiar, as profissões, a formação escolar e tudo que envolva as atividades humanas na sociedade sofrem o cáustico das frequente explorações espirituais de natureza enfermiça.

Equívoco enorme será pensar a obsessão apenas como lago escandaloso e de proporções evidenciáveis. Existem interferências obsessivas muito particulares e únicas, conforme os temperamentos e a trajetória evolutiva das almas que dela fazem parte.

Até mesmo nas tarefas doutrinárias encontramos aspectos muito graves dessa enfermidade da vida mental.

Os centros espíritas tem se tornado um "enxame de almas" nos dois planos da vida em razão de sua maior procura para solucionar problemas e doenças, que não encontraram respostas em outros valorosos caminhos.

O amor, mesmo sendo a divina virtude da vida, compra-nos a inimizade e a revolta naqueles corações fora do corpo, porque buscamos beneficiar suas vítimas em nossas tarefas de alívio e orientação. É da Lei que o sacrifício faça parte de algumas vivências daquele que ama, a fim de poupar temporariamente o sofrimento de quantos estejam abatidos sob o peso das lutas provacionais de cada dia. É quando então o trabalhador do bem é convocado a assumir parte do ônus psíquico do outro,  em nome da caridade que amenizará a dor e a tormenta alheia. Naturalmente, esse processo obedece ao controle da Divina Providência, mas os amigos espíritas necessitam ter um tanto mais de atenção no monitoramento e na ampliação de sua visão acerca das responsabilidades que assumiram na lavoura doutrinária, para não acolher como sendo suas as induções de desânimo e deserção que muito frequentemente advém de semelhantes episódios do labor fraternal.

Sentimentos variados ou quadros psíquicos incomuns e estranhos poderão surgir como reflexos das presenças espirituais que estão se beneficiando das realizações doutrinárias.

Temos um orgulho sutil, o de achar que não seremos obsidiados porque estamos no trabalho do bem e do amor. Outros, porque nunca viram ou ouviram nada de “sobrenatural”, desconhecendo os sensíveis mecanismos da vida paranormal, asseveram que se encontram livres e protegidos de semelhantes sintonias espirituais infelizes. Esse é um conceito muito dogmatizado para os assuntos da vida espiritual: crer-se protegido a troco de algumas “penitências”, uma reminiscência do religiosismo milenar.

A lógica espírita ensina-nos exatamente o oposto. A resistência moral e a maturidade só serão alcançadas à custa de muito esforço e na medida de nossa capacidade individual de vencer a nós mesmos, embora alguns corações embevecidos pelo ideal da transformação de si mesmos esperam, ingenuamente, a “harmonia de empréstimo” ou “transformação por osmose” através de orações, tarefas, passes e outros benefícios de fortalecimento. Decerto a misericórdia nunca escasseia e ampara a todos por esses meios, mas não pode em tempo algum mimar nossos pedidos para que não acostumemos a receber sem manifestarmos a decisiva coragem de enfrentar-nos.

Harmonia interior é o fruto sadio da valorosa semeadura de esforços auto-educativos exercidos no cumprimento fiel dos roteiros de crescimento.

Nesse prisma a obsessão é teste de aprimoramento e reeducação.

O pensamento fixo, as decepções prolongadas que se tornam mágoas, o rancor que guardamos por alguém, as tendências que lutamos para superar, as intenções desonestas e ocultas, o interesse pessoal à custa de prejuízo de alguém, os gestos menos felizes, o excesso de velocidade no trânsito, a intransigência em não aceitar as faltas alheias, a presunção de supor-se o melhor em tudo, a irredutibilidade nas opiniões pessoais, a fofoca, o costume de enxergar pontos negativos na tarefa do próximo, a indisposição para o perdão, o vício de prestígio, os sonhos de vida fácil na abundância material, a preguiça e a ociosidade, o atraso nos compromissos, a indiferença com a diferença do outro, o excesso de alimentação, o imediatismo para alcançar metas, o apego à televisão, o relax pelo alcoolismo, o excesso de trabalho são pequenas portas abertas diariamente para a instalação de um processo obsessivo que pode ou não ter uma sequência a níveis mais acentuados de domínio e intensidade.

Será muita pretensão e inexperiência pensar que a devoção aos ideais ou tempo de experiência serão suficientes para livrar-nos da possibilidade das interferências obsessivas. Mais uma vez o orgulho comparece trazendo-nos prejuízo nessa questão.

A ingerência ardilosa dessa imperfeição na vida mental provoca um bloqueio que impede a auto-análise sincera e desprovida de defesas, no contato livre com a intimidade de nós próprios.

O personalismo, filho predileto do orgulho, arquiteta uma imagem exageradamente valorizada de nossas qualidades e conquistas, e quando somos convidados a uma incursão no mundo íntimo, através de críticas ou situações que nos obriguem a admitir a presença de determinada imperfeição, esquivamo-nos de todas as formas, não as confessando a nós mesmos e quanto mais aos outros.

Esse mecanismo sutil do orgulho cria dotes que não possuímos, mas que, obstinadamente, imaginamos possuir.

O orgulho não deixa de ser uma defesa para nossa angústia básica, a angústia que decorre da nossa insatisfação em conhecer a inferioridade da qual ainda somos portadores e que tentamos camuflar e esquecer a todo custo.

Não se admitir em erro ou isento das interferências de adversários do bem é uma atitude invigilante e perigosa que, por si só, já é uma porta aberta para o acesso dos maus espíritos.

Examinemos cuidadosamente nossas ações. Admitamos e estudemos como superar a inveja, a vaidade e a pretensão em nossas vidas, especialmente entre companheiros do ideário espírita, se desejamos verdadeiramente encontrar as pistas deixadas pela personalidade orgulhosa que está dentro de nós em contínua fuga para não ser capturada.

Fujamos da capas com as quais queremos esconder os conflitos e sentimentos.

Humildade é a láurea de segurança para quantos anseiam por êxito nos seus investimentos de aperfeiçoamento.

Nós espíritas estamos precisando de muita coragem; coragem para ser humildes, confessar nossa condição, ouvir nossa consciência, conhecer nossas obsessões e trabalhar produtivamente para erradicá-las.

Prossigamos confiantes nessa busca.

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