sábado, 27 de junho de 2020

Silenciosa Expiação

Livro: Mereça Ser Feliz
Autora Espiritual: Ermance Dufaux

Capítulo 24


"Fazer maior soma de bem do que de mal constitui a melhor expiação".

O Livro dos Espíritos – Questão 770 A


Todo esforço de transformação interior gera reações penosas no controle dos impulsos do automatismo. Renovar é uma operação mental de contrariar a rotina, o habitual, gerando incômodos e dores variadas. São as dores psíquicas, dores íntimas. Efeitos naturais da ação transformadora, constituindo verdadeira expiação, silenciosa expiação.

O vulcão é o fenômeno natural que melhor recorda esse estado de convulsões interiores na criatura em reforma espiritual. Um estado de agitação nas “lavas mentais incandescentes” que queimam as ervas daninhas do mal no calor das altas temperaturas do conflito e da dor.

A mudança interior significa o desapego de símbolos, mitos, costumes, ações e emoções. Essa ação leva a sentimentos de perda que se assemelham a verdadeiras “amputações psíquicas e afetivas”, causando, inicialmente, muita insatisfação, insegurança e revolta. Naturalmente, no caso da transformação à luz das propostas espíritas, a criatura é convidada a uma “perda do homem velho” para fazer a “aquisição do homem novo”, jamais permanecendo sem ideal, sem vida. Essa mudança, aliás, tem como único propósito nossa adesão consciente e espontânea à verdadeira fonte de vida e felicidade: a harmonia com o Pai que nos criou.

Certamente alguns quadros mentais, incluindo doenças, podem conjugar-se aos efeitos do processo de reforma íntima, agravando ainda mais os episódios de sofrimento daquele que optou por tomar conta de seu patrimônio espiritual. Entre esses quadros vamos encontrar as questões traumáticas da infância, o estresse, as depressões, as influências espirituais, as recordações do passado em forma de tendências e ideias. Todavia, independentemente da natureza patológica da dor, chamemos de "pressões psíquicas" essas dores aparentemente inexplicáveis e catalogadas por muitos psiquiatras humanos como desajustamento ou fragmentação da personalidade.

Particularmente, os portadores de sensibilidade mediúnica percebem mais facilmente tais fenômenos da vida mental, sofrendo com mais intensidade esse doloroso "expurgo vibratório" sob intenso "estado de pressão", conquanto sua aptidão também permite exonerar níveis mais volumosos dessa "matéria deletéria" de seu cosmo orgânico e perispiritual.

Destaquemos alguns sintomas típicos desse mecanismo sutil do mundo mental que ocasiona a dor-evolução:

- Estado íntimo de desconforto e desassossego quase permanente.

- Sensação de perda de controle sobre a existência.

- Preocupação inútil sem causas justificáveis.

- Desordem nos raciocínios.

- Conflitos afetivos sem participação da vontade.

- Tendências acentuadas para a culpa.

- Processos físicos de drenagem de energias.

- Ansiedade de origem desconhecida.

- Medos incontroláveis de situações irreais.

- Irritações sem motivos claros.

- Angústia perante o porvir com aflição e sofrimento por antecipação.

- Excesso de imaginação ante fatos corriqueiros da vida.

- Barreiras emocionais na relação interpessoal.

Perda do controle de si, causando um desespero mudo na vida interior! Um desespero silencioso e cansativo! Nisso se resume esses sintomas.

A reforma íntima é um período de transição em que deixamos de ser "donos" daquilo que não nos convém para aprendermos a nos apropriar daquilo que sempre foi nosso, mas nunca optamos por tomar conta. Nessa transição, o ser sente-se ostensivamente inseguro e infeliz.

É um sofrimento muito sutil, que dificulta para a maioria das criaturas uma identificação plena do que ocorre consigo mesmo. Somente as incursões constantes e perseverantes na auto-análise ensejarão, pouco a pouco, o discernimento e a constatação de semelhante prova da vida íntima. É tão sutil que muitos corações “acostumam-se” com os traços expiatórios descritos, supondo serem imperfeições integrantes da sua personalidade, quando, em verdade, são reflexos e efeitos que podem perfeitamente ser educados e extirpados no tempo, utilizando-se adequadamente as forças íntimas que dormitam à espera da vontade ativa e consciente.

A intensidade dessa expiação tomará graus diversos, conforme os compromissos e qualidades de cada individualidade, nunca ultrapassando o limite das forças de resistência e de sua capacidade de superar. Para uns será um período curto e inesquecível. Para outros terá um prolongamento em razão de sua rebeldia em aceitar os convites de renovação a que é chamado. Outros tantos, mesmo aceitando os alvitres da reforma, necessitam de um esticamento face ao volume de “matéria mental mórbida”, acumulada em milênios de repetição no erro, que vai escoando lentamente de seu psiquismo.

Passada a etapa de maior conflito, vem a calmaria, a condição mental de paz e tranquilidade para mais amplos voos de ascensão. Lavrada a terra mental é hora da semeadura produtiva. Passada a dor é tempo de maiores responsabilidades no trabalho. Essa exoneração é apenas o começo de uma longa caminhada, e sem ela o homem não se habilita aos requisitos para assumir com proveito as oportunidades na marcha do progresso, ante a coletividade na qual está inserido. Primeiro cuida de si, mesmo estando servindo ao próximo, posteriormente terá mais êxito e experiência para penetrar no desconhecido mundo do outro e auxiliar-lhe com o consolo e o roteiro, fazendo da caridade um ato de libertação e amor.

Ao descrevermos a silenciosa expiação, objetivamos esclarecer, a quantos estejam buscando os novos ideais espirituais de crescimento, que algumas disciplinas tornam-se insubstituíveis e urgentes, a fim de amenizar o ardor da batalha interior. Queremos recordar a menosprezada terapêutica da prece. Menosprezada, porque não é usada com a utilidade e proveito que se poderia, inclusive pelos próprios espíritas que possuem largos  conhecimentos sobre seu valor.


A prece é um bombardeio de luz rompendo o campo tóxico da aura e alcançando o corpo espiritual nesse caso das expiações interiores. É uma limpeza provocada por impulsos “mento-eletromagnéticos” na corrente dos chacras e dos nadis (1), restaurando o equilíbrio e causando uma agradável sensação de sossego na intimidade. Alívio, esse é o melhor efeito da oração. Mas a prece também descortina forças sublimes no superconsciente, energias ainda ignoradas por nós e que são capazes de tonificar o corpo e a alma.  Além disso, ela recolhe no universo do fluido cósmico  a "matéria rarefeita" que resulta do pensamento dos espíritos superiores, armazenando farto suprimento de "flocos de saúde e vitalidade".


O problema que costuma ocorrer na aplicação da terapia da oração é que o doente não se lembra de tomar a medicação na hora exata em que dela mais necessita. E não podemos deixar de assinalar que, no caso das "dores psíquicas", toda dose adicional será sempre um benefício a mais na preservação da qualidade de vida do paciente. É uma questão de disciplina e cumplicidade com o bem pessoal.

Excelente abordagem das Vozes da Verdade: "Fazer maior soma de bem do que de mal constitui a melhor expiação".

O simples fato de desejar o bem dói muito, porque nosso desejo é sincero. Entretanto, entre o desejo e nosso passado existe um "monturo" de imperfeições a ser removido com muito trabalho. Um "monturo" que apresenta todas as condições insalubres para uma vida saudável e equilibrada, mas somente quem o construiu poderá transformá-lo em terra rica para o plantio sublime. Transformar o lixo em adubo fertilizante, essa é a tarefa.

Para nós que nos afastamos da Lei Divina será sempre assim: o bem tem um preço alto na conquista da felicidade!

Apesar disso, jamais desistamos de buscá-lo com muita humildade no reconhecimento de nossa verdadeira condição. Deus não faltará com o indispensável para esse projeto de ser feliz, beneficiando-nos sempre com o que merecemos ou precisamos.

1. Nadis: Canais de condução de energia no corpo vital, "nervos sutis". Também conhecidos como meridianos, são como pequenos chacras.

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