sábado, 1 de agosto de 2020

Perfis Psíquicos

Livro: Mereça Ser Feliz
Autora Espiritual: Ermance Dufaux

Capítulo 29


"Os que no Espiritismo vêem mais do que fatos; compreendem-lhe a parte filosófica; admiram a moral daí decorrente, mas não a praticam. Insignificante ou nula é a influência que lhes exerce nos caracteres. Em nada alteram seus hábitos e não se privariam de um só gozo que fosse. O avarento continua a sê-lo, o orgulhoso se conserva cheio de si, o invejoso e o cioso sempre hostis. Consideram a caridade cristã apenas uma bela máxima. São os espíritas imperfeitos."

O Livro dos Médiuns - Capítulo 3 - Item 28



Alma querida confidenciou-nos, nos círculos de aprendizado da erraticidade, que se encontrava muito surpreso com as revelações descerradas pela morte física, acerca dos estudos sobre os perfis psíquicos adquiridos por cada espírito no somatório de suas existências carnais. Analisando com mais atenção as características atinentes aos espíritas, deparou-se com informes que muito lhe levaram a meditar. Agora compreendendo melhor quais as forças morais e espirituais que medeiam as personalidades vinculadas às orientações do Consolador, solicitou-nos que, quando possível, enviássemos aos amigos domiciliados na Terra alguma nota acerca de suas conclusões.

Atendendo-lhe o pedido gentil e caridoso, passamos fielmente, na condição de mensageira, os apontamentos de nosso interlocutor, como segue:

"Nas vésperas de meu desencarne, os temperamentos dos espíritas foram alvos de profundas preocupações de minha parte. Suas atitudes faziam-me recordar a trajetória religiosa do homem comum, e isso a mim intrigava. Somente na vida espiritual pude compreender com mais lucidez a questão dos perfis espirituais que definem os temperamentos e o caráter, encontrando então respostas convincentes a muitas de minhas dúvidas.

Em registros similares ao da ciência humana, vim a deparar-me com volumosa literatura destinada a estudos antropológicos e sócio-espirituais. Em capítulo específico tomei conhecimento de belíssimo e incomparável estudo sobre os perfis evolutivos, minudenciando características psíquicas e traços emocionais sobre os mais variados protótipos da sociedade humana.

Com interesse, aprofundei nas reflexões sobre os religiosos de todos os tempos, e pude assim melhor entender o perfil espiritual dos espíritas, que merece abordagem detalhada em tais compêndios antropológico-espirituais.

Considerei então o significado de algum dia poder transmitir aos amigos na Terra algo de minhas conclusões, objetivando cooperar no esclarecimento e alerta. Deixo assim minhas anotações na seguinte linha de ideias:

Compulsando literatura especializada do plano extrafísico,  pude perceber a antropogênese sócio-espiritual das almas que hoje são atraídas para as fileiras do Consolador.

Apenas para compor anotações com finalidades de despertamento, em breves linhas descreverei algo sobre a "personalidade espiritual" dos mesmos nos últimos dois mil anos.

Amantes incondicionais dos ensinos da figura excelsa de Jesus, habituaram-se ao discurso do bem, seguindo-lhe as palavras, mas sem a prática.

Exímios exegetas dos textos evangélicos, entregaram-se ao costume de interpretar-lhe para obter vantagens pessoais, em franco desrespeito à opinião alheia.

Dedicados estudiosos da letra evangélica, passaram-se a julgar representantes Divinos e exclusivos portadores da Verdade, estabelecendo tribunais aos que não lhes atendiam aos interesses.

Dotados de grande influência, arregimentaram adeptos e ramos religiosos, elegendo a exclusão  e a heresia para os desleais.

Fascinados com a hierarquia eclesiástica, disputavam a qualquer preço a ordenação e o destaque, a fim de lograrem o aval dos cargos para perpetrar os abusos do poder.

Detendo o monopólio do saber, incensaram dogmas e sacramentos como instrumentos de fé fácil e negociável.

Agravando a condição espiritual de tais perfis, as anotações davam conta que nos últimos seiscentos anos acostumaram-se à adoção popular de lavrar sentenças infalíveis e condenatórias, em julgamentos acerca das atitudes alheias em deplorável atitude de intolerância, resquício moral da ação de Gregório IX que em 1231 oficializou os "tribunais da vergonha" elegendo os padres domini-canes, ou "cães do senhor", como herdeiros da "gloriosa missão" de torturar fisicamente os heréticos.

Em linhas gerais, semelhantes condutas talharam um "caráter espiritual" típico e peculiar que define a grande maioria dos "espíritos-espíritas", resumidos assim:

- Não habituaram a terem suas interpretações pessoais contestadas.

- Acostumaram-se a fazer do seu conhecimento intelectual a verdade que ainda não aprenderam a sentir.

- Encantam-se com a ritualização exterior como forma de desonerarem-se das obrigações íntimas, adulando guias, responsabilizando obsessores, amando cargos, práticas e idolatria.

- Guardam imensa dificuldade de amar a quantos  não lhes partilham os pontos de vista, contagiando-se facilmente com a animosidade crônica.

- Nutrem acentuada desconfiança uns nos outros em razão de suas infidelidades e desonras de outrora.

Assim, conquanto amantes do bem, percebi pelos informes, que seus descuidos eram mais fruto da imaturidade que da perversidade, embora isso não tenha sido suficiente para desonerar-lhes de muita dor e do confinamento a regiões infelizes da erraticidade, retomando reencarnações atrozes em busca da melhora.

Cansados de sucessivos e desastrosos recomeços, passaram a alimentar traumas e receios de retornar à escola da Terra e cometerem os mesmos desatinos. Foi então que o próprio Jesus, conjuntamente com a Divina Providência, intercedeu em favor de tais corações que lhe amavam o testemunho e a palavra, mas que não a honravam com a vivência, e recambiou suas almas atormentadas aos círculos benfazejos da Nova Revelação do Espiritismo. A princípio, ainda desencarnados, frequentaram as atividades socorristas da mediunidade na condição de sofredores e oponentes religiosos; posteriormente, de ânimo novo, acordando para novas perspectivas dos ensinos do Evangelho, adequados aos novos tempos, então se decidiram por reingressar na carne junto aos ambientes do Consolador como única medida aceitável para a grande maioria, face à rebeldia e ao montante das culpas que acrisolavam em sua intimidade.

Renascem padres, bispos, pastores, calvinistas, inquisidores, pítons e todos aqueles que algum dia na história experienciaram o contato com as Verdades evangélicas sem, contudo, fazerem-se "cartas vivas" da mensagem do Cristo. Renascem com esperanças novas e com visões ampliadas sobre suas responsabilidades.

Naturalmente que encurtei os dados com intuito de alerta e reflexão. Verificando minúcias do assunto, porém, é surpreendente e mesmo curioso a trajetória da grande maioria daqueles que hoje militam nas frentes espíritas. A partir disso passei à aquisição de respostas para antigas dúvidas sobre o modo de comportar dos espíritas, dilatando em muito meus sentimentos de compaixão para com todos e minha sensibilidade fraternal para com suas lutas pessoais.

Entendi que, mesmo sendo portadores do conhecimento e da fé, precisarão de mais tempo para permitirem uma renovação nesse perfil milenar. Os espíritas de "segunda vez" começam a renascer desde o último quartel do século XX, quando então, mais conscientes e tendo culpas milenares aliviadas pelos benemerentes serviços de caridade de seara espírita, começarão arregimentar condições propícias para uma viagem interior em busca de si mesmo e de sua própria elevação.

Constatei ainda nos registros, que o Brasil, celeiro eclético de crenças, tendo como fio condutor o Catolicismo, representa uma estrada com extrema riqueza de alternativas para esses corações temerosos e dispostos ao reinício.

Chamou-me ainda mais a atenção o trecho referente ao programa que fora delineado para atender essa demanda sócio-espiritual da humanidade. Consta nas notas que Bezerra de Menezes e um grande grupamento de servidores insculpiriam, com seu trabalho coletivo, as bases para o erguimento desse edifício de solidariedade e reencaminhamento.Segundo as conclusões de sábio psicólogos Celestes, o maior obstáculo íntimo, para almas com esse perfil, seria a indisposição ao contato comunitário, o que, então, os levou, sob o testemunho dos "médico dos pobres", a incitar o serviço da unificação como medida apropriada para que a lição da convivência em comunidade pudesse ser aprendida e desenvolvida, considerando outros compromissos maiores no futuro.

Analisando sob o prisma da imortalidade, a conclusão que cheguei é a de que está tudo certo, tudo ótimo, tudo sob controle, e somente a visão inibida, comum à maioria de nós quando na Terra, é que pode levar-nos a enfocar a comunidade espírita como local de loucuras e atraso. Não poderia ser diferente e embora necessite de muita melhora, particularmente, não guardo mais dúvidas sobre o valor do movimento espírita, do progresso efetuado por esses corações "semi-católicos" e, sobretudo, quanto à grandeza da Doutrina Espírita, que funciona como medicação atualizada para esse mister.

Passei a entender, sob enfoque mais ampliado, que a identidade de uma religião atende também a fatores de "sociologia espiritual", acima mesmo de meros fatos históricos da evolução das culturas humanas, levando-me a meditar em novos enfoques para a questão religiosa do Espiritismo. Enquanto os homens discutem, sem concluir, sobre a inconveniência ou mesmo o prejuízo do caráter religioso da Doutrina, o problema, em verdade, encontra-se no religiosismo abundante das almas que para ela foram e são atraídas.

Sem quaisquer generalizações sobre o tema, porque outros perfis completamente distintos de minha análise adentram aos ambientes fecundos das agremiações Kardecianas, não será demais afirmar que os espíritas, em maioria esmagadora, são os mesmos espíritos que ao longo desses vinte últimos séculos estiveram, mais ou menos, comprometidos ou identificados com a mensagem do Evangelho, deixando concluir facilmente que católicos, protestantes e alguns crentes ecléticos do Cristianismo compõem, quase sem exceções, o passado espiritual e o perfil moral daqueles que hoje assumem a designação de trabalhadores e dirigentes espíritas."

§§§§§§§§


Alma querida, 

as anotações de nosso irmão não deixam dúvidas.

Agora, quando indagares como pode um espírita agir em desacordo com seu conhecimento, guarde a lição de nosso missivista como pérola inesquecível.

Agindo com tolerância e compreensão acolherás pela sintonia o pensamento das almas nobres, que agem imparcialmente no bem de todos.

De posse de semelhante estado superior, terá contigo melhores possibilidades de cultivar o amor e o afeto por aqueles que ainda te causam desagrado ou mesmo a ofensa, na esfera de sua convivência doutrinária.

Qual de nós estará fora das bem elaboradas reflexões aqui descritas?

Exclusões, hipocrisias, institucionalismo, interpretações unívocas, personalismo, vaidade, controle hegemônico são perfis ainda vivos e influentes nos traços da conduta do espírita, e somente uma relação vigorosa de afabilidade e doçura será capaz de estabelecer um processo relacional útil, e que permita algum benefício na superação de tais óbices morais.

Amizade sincera, respeito incondicional, afeto, paz na convivência são os caminhos prováveis para a vitória.
Achaques e agastamentos, radicalismos e intolerância, ativismo recriminante são velhas e malfadadas medidas que tendem a açular as sombras e a inferioridade moral.

Dizes que não podes ser omisso, e concordamos. Entretanto, o ativismo do Cristão recomenda brandura, paciência e equilíbrio de ações. Mais que "tocar trombetas" ou exercer movimentos infrutíferos, a situação carece do serviço honroso e útil, fraterno e transformador pela força do exemplo.

Pensemos na estratégia de Jesus a seu tempo e conceberemos o modelo ideal da ação, ante os perfis evolutivos de cada ser, aprendendo, paulatinamente, o que seja viver comunitariamente.

O tempo ensinará que as alocuções desse irmão de ideal, referente às conclusões em seus estudos, reúne farto conteúdo que suscita muita indulgência e compaixão dos seareiros do Consolador, uns com os outros.

Não bastasse as assertivas lógicas e sensatas dessa alma querida, é bom que estejamos informados que esse coração generoso e bom não é somente um informante de passagem, pedindo um favor quando solicita remeter essas ideais ao plano físico. Ele foi sim um baluarte da autenticidade e um severo defensor da Verdade que ficou empanada em séculos de "falso cristianismo". Seu nome: Cairbar Schutel.

Nenhum comentário:

Postar um comentário