sexta-feira, 29 de maio de 2020

Azedume, Temperamento Epidêmico

Livro: Mereça Ser Feliz
Autora Espiritual: Ermance Dufaux

Capítulo 20

“Todas as vezes, pois, que, num grupo, um dos seus componentes cai na armadilha, cumpre se proclame que há no campo um inimigo, um lobo no redil, e que todos se ponham em guarda, visto ser mais que provável a multiplicação de suas tentativas. Se enérgica resistência o não levar ao desânimo, a obsessão se tornará mal contagioso, que se manifestará nos médiuns, pela perturbação da mediunidade, e nos outros pela hostilidade dos sentimentos, pela perversão do senso moral e pela turbação da harmonia. Como a caridade é o mais forte antídoto desse veneno, o sentimento da caridade é o que eles mais procuram abafar. Não se deve, portanto, esperar que o mal se haja tornado incurável, para remediá-lo; não se deve, sequer, esperar que os primeiros sintomas se manifestem; o de que se deve cuidar, acima de tudo, é de preveni-lo. Para isso, dois meios há eficazes, se forem bem aplicados: a prece feita do coração e o estudo atento dos menores sinais que revelam a presença de Espíritos mistificadores. O primeiro atrai os bons Espíritos, que só assistem zelosamente os que os secundam, mediante a confiança em Deus; o outro prova aos maus que estão lidando com pessoas bastante clarividentes e bastante sensatas, para se não deixarem ludibriar.”

O Livro dos Médiuns - Capítulo 29 – Item 340

Retifiquemos os conceitos sobre o azedume em favor do nosso autoconhecimento e vigilância.

Azedume não é traço emocional somente de mau-humorados e irritadiços, pois ultrapassa essas conotações mais conhecidas e encontra-se na raiz de muitos quadros  comportamentais da vida moderna.

O processo químico do azedume ocorre, igualmente, nos campos vibratórios humanos. É similar à fermentação que tornam alguns alimentos imprestáveis e fazem de outros uma fonte de transformação e reciclagem.

No mundo das vibrações, azedar é pestear a corrente centrífuga do perispírito de teores energéticos inferiores, "acidulantes".

Sua causa-matriz, na maioria dos casos, é a pertinaz insatisfação com a existência carnal da atualidade com escassa gratificação e prazer. Não significa privação exterior, mas inibição íntima. Homens existem que vivem na prodigalidade de recursos para a auto-realização, no entanto, não conseguem fruir afetivamente a satisfação com o que possuem, sobraçando em queixume irritabilidade ao menor sinal de contrariedades com as quais convivem continuamente, em face de acentuada predisposição a incomodar-se com bagatelas da vida. É uma permanente insatisfação, em verdade, com origem na individualidade espiritual.

Azedume é a postura de "revolta muda e impulsiva" da criatura que se abateu na luta pela superação de seus desgostos e desamor a si mesmo. Tal estado de perturbação do afeto é uma fuga de difícil diagnose aos mais experientes esculápios, e apresenta variado quadro de sintomas avaliados, habitualmente, como quadros mentais patológicos ou obsessões pertinazes.

Tomemo-lo como uma espécie de "neurose original", ou seja, um desajuste entre as escolhas pré-reencarnatórias e a sua realidade na Terra. O desconforto e a inaceitação geram uma insatisfação seguida de alterações no estado de humor, tipificando-se em múltiplos processos morais, psíquicos e emocionais.

Fenômeno muito sutil da vida mental e emocional, porque enreda o doente no sofrimento sem que se lhe possa entender de imediato as razões causais profundas, que estão nos estados interiores de desagrado e inconformação com as provas da existência. Algumas de suas facetas são a autopiedade, irritação, tendência agressiva, revide, aspereza, amargura, rigidez de caráter, depressões, aversões a locais, assuntos e pessoas, pessimismo, antipatia, perfeccionismo, deficitária auto-estima, bloqueio do afeto, revolta e até ódio; fatores esses que levam a extremas "pressões psíquicas" decorrentes de faixas mentais de ansiedade e preocupação confirmando um caso de auto-obsessão, em muitas ocasiões, seguidas de influenciações de outras mentes desencarnadas.

Apresenta-se como situação comum nos dias atuais, em que a ilusão insufla a mentira e convence os incautos a  escravizarem-se a modismos e estereótipos sociais de consumismo, sob a égide do materialismo.

Revoltados com o corpo, abatem-se sob o sentimento do azedume em síndrome de inveja ante as infelizes comparações com aqueles que desfilam nas bajuladas passarelas públicas da elegância e da beleza.

Inconformados com a condição social, permitem-se a aspereza ante perdas e insucessos ou os atraem, quando enleiam-se por raciocínios que lhes fazem sentir injustiçados e “sem sorte”.

Infelizes com as uniões matrimoniais, homens e mulheres azedam o clima do lar em declarada “guerra do coração” por não conquistarem as expectativas alentadas com o enlace.

Inveja, perdas e expectativas não atendidas são pólos de atração para a insatisfação que se transforma em ingratidão, raiva, desânimo e desequilíbrio.

“Provas-surpresas” são outra fonte frequente, quando a criatura é colhida por fatos inesperados e periódicos, aferindo sua resistência e inteligência intrapessoal para conduzir as emoções às melhores possibilidades no encontro das soluções perante os revezes.

Azedume é atestado de escassa inteligência emocional ou incapacidade de controle e vigilância sobre os patrimônios da afetividade. As neurociências, no futuro, constatarão nosologias neurológicas provenientes dessa “rebeldia com a vida”, e a psiquiatria acatará essa”neurose original” como etiologia presente nos capítulos da distimia crônica...

Não bastasse a sanha infelicitadora para quem o cultiva, o azedume é “contagioso”. Epidemia hodierna crescente que surge em grupos através de sinergia e “simbiose-indutora”. O clima quase generalizado de descontentamento dilata-lhe a ação estabelecendo psicosferas acres, com teores energéticos que dispõem a variados distúrbios físicos, dolorosa pressão mental e “estranhos sentimentos” na convivência. Tais climas são predisponentes à perpetuação do contágio, um “temperamento” epidêmico!

Nos grupos, as pessoas acometidas pelo azedume agudo evitam conviver, ou se o fazem, recheiam-na de limites desnecessários e distanciadores, empobrecendo as relações, afastando uns e causando desgostos e agastamento a outros, sendo que ela própria, em crise íntima, desconhece estar sob seu domínio, sentindo incômodos inexplicáveis com os quais sofre em larga escala.

O estudo da referência acima de O Livro dos Médiuns assinala três reflexos da obsessão sobre aqueles que convivem com o obsidiado: hostilidade dos sentimentos, perversão do senso moral e turbação da harmonia.

Com o azedume não é diferente. Provoca maus sentimentos, subtrai força moral e destrona a harmonia naqueles que, invigilantemente, não adotam os antídotos da caridade na vida interpessoal com os que caíram nas malhas da "azedação psíquica".

Adotemos nas células de labor espiritual os cuidados imprescindíveis com essa epidemia de "cansaço de viver" ou "estresse do espírito", que dormita na incessante postura de reclamar e revoltar com o que se é e com o que se tem.

Azedumes em quaisquer circunstâncias precisam de nosso carinho e siso moral para trazermos sua vítima à sobriedade novamente, ampliando-lhe a visão sobre as bênçãos que a vido o "brindou", mas que ele ainda não descobriu ou esqueceu.

O serviço de resgatar essa lucidez terá resultados positivos quando assume a palavra de orientação, preferencialmente de alguém que superou lutas com as insatisfações comuns da existência, a fim de acenar com caminhos que tocarão o afeto dos descontentes e os chamarão para a conduta de determinação e fé n o futuro melhor, seguidos de muito trabalho, dia após dia, cumprindo o dever sem fugir das responsabilidades assumidas antes do renascimento corporal.

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Amigos de ideal,

além das considerações expostas, vale ressaltar que a transformação interior, assumida com decisão e comprometimento, costuma levar o espírito a uma espécie de "convalescença moral" ou "tristeza psíquica", por um período mais ou menos longo, em razão da abstinência dos interesses pessoais enfermiços e das novas metas que agora foram recém-aderidas.

Nessa etapa a vida afetiva pode ficar comprometida por episódios de azedume e sisudez, alimentados pelo próprio orgulho que não se extingue de vez. Um saudosismo do passado assoma-se como resquício mórbido no psiquismo.

Atentemos, portanto, para esse tema e não confundamos ciladas e reações de desencarnados com vivências que, independentemente de forças espirituais, podem trazer-nos muitos desacertos na rotina dos dias em razão  e recusarmos, em franca rebeldia, as inibições provacionais construídas por nós mesmos em vidas antecessoras ou nos atuais descuidos da imprudência, da inconsequência e da distração com os deveres.

Atenção para as “pressões psíquicas” e medidas de segurança em relação à “epidemia de azedume” serão fontes protetoras do afeto, mantendo-nos isentos de carregar, desnecessariamente, as correntes inferiores da infelicidade alheia, que está presente em quase todos os lugares.

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