segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Inteligência Intrapessoal

Livro: Mereça Ser Feliz
Autora Espiritual: Ermance Dufaux

Capítulo 6

"Em que consiste a felicidade dos bons Espíritos?"
"Em conhecerem todas as coisas; (...)" 

O Livro dos Espíritos - questão 967

O estudo dos pilares básicos da boa convivência é como janela que se abre para o grande sol da experiência e da felicidade.

Conviver é possibilidade conferida a todos; a boa convivência, porém, é para quem deseja crescer e educar-se.

Boa convivência não é somente polidez social. Consignemos como pilares dessa arte de relacionar o auto-amor, o autoconhecimento, o afeto e a ética.

Estudemos alguns ângulos do amor a si mesmo por se tratar de pilar mestre das relações saudáveis, duradouras e gratificantes; sem conviver bem consigo, amando-se, não haverá harmonia nas interações humanas com o outro.

A vida que nos circunda é rica de elementos indutores do mundo íntimo; nenhum deles, porém, é tão expressivo quanto o contato interpessoal. Respostas emocionais são acionadas a partir da convivência, desenvolvendo um novo mundo de sentidos para quem dela faz parte.

Renova-se a criatura a cada novo contato; cada episódio da interação humana é um convite ao crescimento, ao estabelecimento de novos valores na intimidade. Mesmo os desacordos e desencontros constituem escolas oportunas de reflexão e reavaliação da vida pessoal.

Analisemos um fato ilustrativo da rotina humana: um coração amigo, em um momento de atribulação íntima, discutia celebremente com as imagens mentais que formulava acerca de um ente querido de sua convivência. Envolvido em suas mentalizações discutia, revidava, e era tão descontrolado seu estado emocional que gesticulava mãos e rosto sem se dar conta que as pessoas à sua volta lhe observavam, uns com preocupação, outros com chacota... Ele estava em plena fila de um banco para quitar uma conta telefônica...

Esse tem sido um quadro comum, o retrato fiel de como lidamos conosco em relação aos outros - um dos pilares da boa convivência, senão o principal. Nesse caso, o companheiro estava em litígio com os seus próprios sentimentos relativamente a alguém, era uma "briga mental".

Esse estado de ensimesmamento - a vivência mental das relações - tem sido uma tônica dos dias atuais, face ao contínuo mascarar do mundo íntimo que o homem moderno tem se imposto na garantia da satisfação de seus fins em sociedade. Nem sempre podendo externar o que sente a quem deveria, então passa a formular para si mesmo o que gostaria de expressar a outrem ante as pressões internas das discordâncias, dos agastamentos, das traições, dos gestos impensados e de tantos outros lances dos conflitos do relacionamento.

A questão em análise é fundamental para o entendimento dos laços que construímos com as pessoas de nossa rotina diária.

O problema não é como convivemos com o outro, mas sim como convivemos com o que sentimos e pensamos em relação ao outro.

Por isso a boa convivência consigo mesmo é o princípio seguro de equilíbrio para uma interação proveitosa. Tal princípio consagra a necessidade de revermos os males da convivência, prioritariamente, em nós mesmos, antes de quaisquer cobranças ou transferências de responsabilidade. E' o imperativo de estabelecermos acordos conosco a partir de um balanço e avaliação sobre tudo que envolva os atos que nos vinculam a esse ou aquele coração. Ainda que alguém divida conosco a rotina dos dias ou as circunstâncias passageiras e seja necessitado de corretivo, precisamos habituar a sondar as nossas disposições íntimas antes de qualquer investimento no outro; estar consciencialmente ajustado para somente depois partir de forma elevada em direção às necessidades do crescimento alheio, pois do contrário perdemos a autoridade e o controle necessários para ser agente de educação e alerta para o próximo.

Consideremos ainda que muitas vezes após nossos auto-exames poderemos perceber mais claramente a necessidade de mudança, tão somente, em nossos atos e decisões. O descuido nesse setor da conduta nos leva a detectar obstáculos somente na órbita dos que partilham-nos as vivências, enceguecendo-nos para as descobertas extraordinárias que poderíamos fazer sobre nós próprios, quando dispomos ao mergulho no estudo das nossas reações uns frente aos outros.

Essa postura é a bússola das relações indicando-nos a hora de calar, o momento de agir, o instante de corrigir, a ocasião de discordar e o ensejo de tolerar. Leis que conduzem-na ao patamar da caridade.

Essa interiorização, estudada pelas modernas ciências psicológicas, recebe o nome de Inteligência Intrapessoal, competência pela qual dominamos amplo espectro de habilidades como a empatia, a assertividade e a auto-revelação.

A socialização, princípio contido nas Leis Naturais, estabelece o encontro das singularidades humanas, objetivando sobretudo essa viagem à intimidade da individualidade. Quanto mais rápido penetramos nesse caminho educativo, mais identificaremos as razões das refregas do relacionamento, conquistando paz e alegria nas relações, visão e equilíbrio para conosco.

Face ao exposto, conclui-se sobre a indeclinável necessidade de avaliações permanentes no trabalho da autodescoberta, estudando os reflexos perturbantes das relações que edificamos, a fim de aquilatarmos com exatidão a origem de nossas reações.

Destacando o mal no outro, ativamos fios magnéticos de atração que nos ligam a essa energia que passamos a consumir e digerir no campo mental, detonando a crise íntima que poderá ser sustentada por adversários espirituais astutos. Dessa forma, mantemo-nos aferrados à sombra de nós mesmos, e sempre deflagramos maus sentimentos com os quais enveredamos pelos desencontros e aborrecimentos da convivência, porque sempre estaremos propensos a focar o negativo, as imperfeições.

A opressão dos conflitos é mantenedora da fuga de si mesmo, e o auto-amor somente ocorrerá quando dispormos ao auto-encontro, à redefinição da auto-imagem que oculta mazelas, à retirada da máscara: voltar o espelho da mente para si, interiorização.

Estar bem consigo é pilar essencial da boa convivência. Fazendo assim, partimos em direção ao próximo com o melhor de nós, aptos a vitalizar as relações com o alimento do bem e do amor, convertendo-nos em fulcros irradiadores de paz e contentamento que serão fortes atrativos de enobrecimento e cooperação onde estivermos, transmitindo esperança e educação para os que se encontrem no raio de nossas ações.

Urge fazermos o aprendizado do auto-amor, dialogarmos com a intimidade, indagar de nossos sentimentos a razão de sua existência, procurar os acordos íntimos. Se não aprendermos a gostar de nós, a nos aceitarmos, não conseguiremos a fluência do amor ao próximo.

Uma convivência pacífica com as imperfeições, a caridade conosco, será fonte de apaziguamento e elevadas emoções.

Nesse aprendizado espera-nos a grande lição de trabalharmos pelo desenvolvimento de nossos potenciais Divinos; ao invés de ficarmos lutando contra mazelas, faremos o serviço de laborar a favor de novos valores, prestigiando o positivo. Sem querer exterminar o passado, haveremos de aprender a transformá-lo.

Esse será o iluminado labor de conquistar a nossa sombra, amando-a, sem recriminações e culpas, sintonizando a mente no "ser" de luz e paz que existe embrionário em cada um dos Filhos de Deus, adentrando, definitivamente, o patamar declinado na resposta dos Sábios Guias da Humanidade a Kardec: a felicidade dos Espíritos superiores consiste em conhecerem todas as coisas, e nós inferimos: inclusive a si mesmo.

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