segunda-feira, 11 de abril de 2016

Imunidade Psíquica

Reforma Íntima Sem Martírio - Capítulo 14


"O médium que queira gozar sempre da assistência dos bons Espíritos tem de trabalhar por melhorar-­se."
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"O médium que compreender o seu dever, longe de se orgulhar de uma faculdade que não lhe pertence, visto que lhe pode ser retirada, atribui a Deus as boas coisas que obtém.'

O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo 28 - Item 9

As tarefas sucediam-­se, uma após outra, no Hospital Esperança(1). A obra de amor do apóstolo sacramentano tornou-­se polo dispensador das bênçãos da Complacente Misericórdia.

Naquela manhã, antes  de o sol afugentar a madrugada, preparávamo-nos para mais uma caravana de aprendizado. Iríamos acompanhar Dona Maria Modesto Cravo(2) em atividade de assistência fraternal na Terra. Convidamos uma pequena equipe de jovens que faziam seus primeiros estágios de aprendizado na crosta, depois de alguns meses de adaptação pós-­desencarne.

Rumamos para o local previamente combinado, e lá encontramos Dona Modesta e outros amigos do Hospital. Após os cumprimentos, ela nos explicou a atividade com detalhes, nesses termos:

— Nossa intercessão desta hora é providência de urgência em favor de Cesário, dedicado médium da seara espírita. Nosso irmão te se apresentado com disposições valorosas ao trabalho, razão pela qual as investidas espirituais perseguem-­no com programação perseverante.

Aproximamo-­nos do médium oferecendo liberdade aos jovens componentes da equipe, pois a cena era muito educativa. Cesário estava se preparando para as atividades do dia em seu lar, por meio da oração. No entanto, à porta de sua residência, uma chusma de almas se postava em atenciosa expectativa. Percebemos nítido halo magnético, provindo das dependências de sua casa, abrangendo larga faixa de espaço até a vizinhança, impedindo a entrada daqueles que, certamente, estavam à espreita da oportunidade para alguma iniciativa infeliz.

Cesário preparava-­se para sair e notamos intensa movimentação. Dona Modesta fez um sinal ao irmão Ferreira, experiente companheiro dos serviços de defesa, e vimos toda a sua equipe em atitudes que bem recordavam os momentos que antecedem os combates da Terra. Cesário tornou a direção da rua com seu veículo, e o vozerio da turba foi ouvido com estrondo. Dona Modesta, na condição de condutora do trabalho, pediu­-nos a prece, o que fizemos com emoção. Após a oração, a visão espiritual de todos nós aguçou-­se e constatamos, ao lado do médium, sua amorosa benfeitora envolvendo-­o em dulçorosa paz. Um anel magnético muito luminoso, com cores violeta-­prateadas acomodava-­se sobre a cabeça de Cesário, como se fosse uma boina com a parte superior aberta. Constatávamos que petardos de matéria enfermiça eram atirados sobre o servidor, mas eram dissolvidos integralmente por alguma força especial que partia desse anel. Os jovens, curiosos, mas vigilantes nos serviços de apoio, olhavam para mim como a rogar orientação para a hora que se prenunciava como sendo portadora de gravidade.

Observamos, então, que o trabalhador da mediunidade, tão logo dispôs de alguns momentos, estacionou seu automóvel em razão de súbito mal­-estar ­mental.Sentia pelos canais medianímicos que algo não estava bem. Recorreu à prece e percebeu que estava sendo alvo de um ataque de adversários do amor. Tomou a iniciativa de criar um laço consistente com sua mentora, estabelecendo um clima de segurança, buscou a leitura refazente e orou com carinho pelos que lhe atacavam, pedindo a Jesus pelo bem de todos eles. Irmão Ferreira, com sua equipe de colaboradores, utilizava­-se de recursos eficazes de proteção. Rapidamente constatamos que a cilada foi frustrada, e todos nos reuníamos à Dona Modesta para agradecer a Deus e aprender um pouco mais. Assim que foram encerradas as atividades, a devotada servidora do Cristo colocou-­se à disposição dos jovens aprendizes para as oportunas indagações. Sérgio tomou a palavra e disse:

— Dona Modesta, podemos classificar as atividades dessa hora como uma desobsessão?

— Certamente. Podemos dizer que é um gênero específico de obsessão. Comumente encontramos três tipos de almas nos capítulos da obsessão: os nossos credores de outros tempos, os oportunistas que criam vínculos pela invigilância humana e os declarados adversários do bem.

— Em que caso se enquadram os agressores de Cesário?

— São adversários ferrenhos do Espiritismo, que procuram atormentá-­lo. É um caso típico de obsessão controlada.

— Obsessão controlada?!

— Nosso irmão apresenta o recurso a imunidade psíquica com o qual nos permite uma tarefa de parceria. Ele é usufrutuário de um contrato de assistência permanente em razão dos méritos a que se fez credor.

Enquanto Sérgio interrogava, os demais amigos mal continham sua ânsia de saber. Prenunciando a curiosidade de todos, o coração querido de Pedro Helvécio, que nos acompanhava a tarefa, dirigiu a palavra à nossa instrutora buscando sintetizar as questões:

— Dona Modesta, explique­-nos, por caridade, sobre aquele anel luminoso na cabeça de Cesário.

— Sim, Helvécio. É uma criação de almas superiores em favor da obra do bem que todos, pouco a pouco, estamos construindo na Terra. Chama-­se imunizador psíquico. Composto de material rarefeito, mas de alta potência irradiadora de ondas mentais de curta frequência, é um aparelho de defesa mental que concede ao médium melhores recursos no desempenho de sua missão.

Tomada de um impulso, Rosângela, outra integrante de nosso grupo, que serviu com louvor às fileiras do Protestantismo, indagou:

— Todos os médiuns carregam esse anel?

— Não, minha jovem. O imunizador psíquico é uma concessão da misericórdia. Fruto de um planejamento no tempo...

— O que fez Cesário para merecê­-lo? Será um "espírito santo" com elevada missão? Terá ele algum mandato diante de Deus?

— Cesário vem se dedicando à tarefa da educação de si mesmo como todos os tarefeiros da Nova Revelação. Não é portador de missões especiais nem dotado de grande elevação moral. Sua qualidade mais saliente, por enquanto, é a devoção persistente que apresenta, ininterruptamente, durante duas décadas no serviço mediúnico socorrista de almas perturbadas.

— Quer dizer, então, que após um período de serviços de vinte anos os médiuns podem receber semelhante graça?

— Compreendo sua terminologia, considerando sua formação evangélica, mas não se trata de graça, Rosângela, e sim de mérito, justiça e complacência divina. Nosso irmão perseverou durante esse tempo, mas além disso integrou o escasso grupo dos servidores doutrinários que apresentam uma rara qualidade.

— E qual é essa qualidade, Dona Modesta?

— Cooperativismo cristão. Apesar de suas vivências doutrinárias restringirem-­se a uma casa espírita, desde os seus primeiros passos nos projetos doutrinários tem se oferecido pelo bem de outras agremiações, desenvolvendo um estimável labor coletivo na seara. Graças a isso, tem chamado a atenção dos inimigos da causa, que procuram desanimá-­lo do ideal com sorrateiras armadilhas. Sua sincera disposição de melhoria espiritual é seu verdadeiro recurso imunizador, todavia, algumas almas superiores analisaram o pedido de sua amável mentora para que lhe fosse prestado esse benefício para alento e estímulo. 

Sérgio, mais uma vez, retornou com outra pergunta:

— Será sensato entender essa concessão como prêmio?

— Prêmio, meu filho, à luz do Evangelho, significa recurso para trabalhar mais, e nosso companheiro encarnado já entendeu isso. Ele tem claramente estabelecido para si mesmo a consciência da concessão da qual foi alvo e com que objetivos lhe foi outorgada. Tão logo foi implantado o “anel” em seu cérebro, ele passou a experimentar uma maior capacidade de domínio interior que suavizou as dores íntimas e ampliou-­lhe as percepções extrafísicas. Sua avaliação, entretanto, ao invés de convergir para uma ideia vaidosa de dotes morais adquiridos ou virtudes conquistadas, conduziu-­se para o que expressa as intenções nobres do Plano Superior em relação ao seu dever, ou seja, amparo para melhor servir. Dessa forma, em regime de parceria que amadurece a cada dia, temos condições de manter as obsessões de nosso irmão sob controle rigoroso e proveitoso.

— Perdoai­-me a infantilidade, Dona Modesta, mas não posso deixar de expor meu pensamento: não haverá aqui alguma parcialidade na ajuda a Cesário?

— Absolutamente, Sérgio, não existe. Não se sinta tão infantil por perguntar. É um raciocínio comum para quem veio da Terra há tão pouco tempo como você. Pediria ao nosso Helvécio que pudesse ler para nós aquele conhecido trecho de O Livro dos Médiuns, para esclarecimento de todos.

Compulsando a obra do codificador sem nenhuma dificuldade e como quem já esperava semelhante pedido de Dona Modesta, o nosso amigo destacou o item 268, questões 19 e 20, que dizem:

"Poderiam os Espíritos superiores impedir que os maus Espíritos tomassem falsos nomes? Certamente que o podem; porém, quanto piores são os Espíritos, mais obstinados se mostram e muitas vezes resistem a todas as injunções. Também é preciso saibais que há pessoas pelas quais os Espíritos superiores se interessam mais do que outras e, quando eles julgam conveniente, preservam-nas dos ataques da mentira. Contra essas pessoas os Espíritos enganadores nada podem".

"Qual o motivo de semelhante parcialidade? Não há parcialidade, há justiça. Os bons Espíritos se interessam pelos que usam criteriosamente da faculdade de discernir e trabalham seriamente por melhorar-­se. Dão a esses suas preferências e os secundam; pouco, porém, se incomodam com aqueles junto dos quais perdem o tempo em belas palavras".

Terminada a leitura, como se nada mais restasse a perguntar, nossa instrutora concluiu com orientações que somente poderiam vir de um coração tão generoso e experiente nas questões da mediunidade:

— O médium em questão não está isento de sua luta autoeducativa em razão dos anéis defensivos, e sempre tem sido lembrado sobre isso em suas incursões noturnas fora do corpo. Esse artefato de proteção é implantado no corpo sutil entre o cérebro e o corpo perispiritual, junto ao centro coronário, mediante uma verdadeira cirurgia que lembra um transplante... E, assim como nos transplantes orgânicos, pode haver a rejeição, igualmente no tema em foco, se nosso irmão não continuar se alimentado dos benefícios do sentimento da fé e do amor, sustendo das nobres realizações. Poderá ocorrer uma suspensão natural da imunização psíquica. Até agora, entretanto, Cesário vem demonstrando bom proveito relativamente ao alívio mental da sobrecarga de vibrações que lhe são desfechadas, utilizando-­se desse empréstimo para investir mais no trabalho do bem. Dia virá, porém, em que suas defesas naturais superarão os recursos defensivos do anel protetor, e ele não mais terá a mesma função. Nessa ocasião, como sempre acontece com outros medianeiros, dentre os poucos que se fazem credores desses tipos de amparo, sua benfeitoria, obviamente, lhe oferecerá outros créditos, sempre visando a expansão da luz de todos. Os recursos nesse sentido são infinitos como expressões do Amor do Pai.

Arrematando sua fala sempre sincera e bem humorada, Dona Modesta assim encerrou sua lição:

— Importante considerar que o anel propicia-­lhe proteção, inclusive em relação às bombas mentais dos encarnados que não lhe são tão simpáticos aos esforços no bem coletivo. E não imaginem que seja de fora das lides doutrinárias a origem dessas forças contrárias. Essa é uma questão que deveria merecer de todos os espíritas encarnados uma investigação mais séria, porque, pelo que temos constatado, as obsessões de homem para homem são mais comuns que imaginam nossos irmãos encarnados. E sem querer decepcionar a ninguém, sou obrigada a concluir que, mesmo clareados com a luz do Espiritismo, existe muito espírita obsidiando espírita... Quem sabe, além do gênero que já mencionai sobre as obsessões controladas, poderíamos classificar mais esse tipo no capítulo das interferências obsessivas, talvez com o título obsessão espírita!

1. Obra de amor no plano espiritual fundada por Eurípedes Barsanulfo.
2. Maria Modesto Cravo nasceu em Uberaba a 16 de abril de 1899 e desencarnou em Belo Horizonte a 8 de agosto de 1964. Uma das pioneiras do Espiritismo em Uberaba, atuou com devotamento junto ao Centro Espírita Uberabense e ao Lar Espírita. Médium de excelentes qualidades, trabalhadora incansável do amor ao próximo e mulher de muitas virtudes, Dona Modesta, como era conhecida, foi a fundadora do Sanatório Espírita de Uberaba, voltado para tratamento dos transtornos mentais, inaugurado em 31/12/1933 e em plena atividade até hoje. Foi nessa casa de amor que se tornou conhecido o valoroso companheiro Dr. Inácio Ferreira, médico psiquiatra e um dos baluartes do bem.

2 comentários:

  1. bem esclarecedora a parte destacada, principalmente no comentário quanto a espírita obsidiando espírita.

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