sexta-feira, 21 de agosto de 2020

Severos, Porém, Sem Culpa

Livro: Mereça Ser Feliz
Autora Espiritual: Ermance Dufaux

Capítulo 31

"Sede, pois, severos para convosco, indulgentes para com os outros." 
José, Espírito protetor (Bordéus, 1863)

O Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 10 - Item 16

Severidade conosco significa vigilância mental ativa, crescente e permanente para não permitirmos hiatos nos esforços educativos das nossas inclinações. Esse cuidado com a personalidade é essencial ao progresso moral e espiritual, porque é exatamente nos instantes de relaxamento interior que costumam brotar o derrotismo, a obsessão e as más ideias; é quando se percebe com mais clareza as insatisfações que vinham sendo esquecidas e superadas no trabalho do bem, mas que sob uma análise descuidada podem tomar proporções onerosas aos projetos de elevação nos quais nos encontramos incursos, levando a decisões precipitadas e imprevisíveis.

Limite tênue existe entre severidade como regime de disciplina e o sentimento de cobrança que conduz-nos a querer fazer o que ainda não damos conta. Uma imposição para a qual não temos preparo, sendo injustos conosco.

Em tudo deve vigorar o equilíbrio. A recomendação de José, o Espírito protetor, não deve ser entendida como uma atitude de inflexibilidade e castigo a nós mesmos. Ser severo com compassiva tolerância às nossas fragilidades é o que sugere o bom senso e a caridade. Auto-aceitação sem conivência.

No entanto, o sentimento de culpa, com suas lamentáveis consequências, tem comparecido em boa parte dos aprendizes da doutrina espírita em razão de reminiscências da condenação eterna, fundamento da formação religiosa tradicional. Surge na forma de sutil desconfiança na possibilidade verdadeira de crescimento e melhoria individual, gerando uma atmosfera de descrença nos ideais e no seu próprio esforço. Quanto mais passa o tempo, mais a criatura estabelece cobranças no seu aperfeiçoamento moral e, não atingindo os patamares desejados, cai no desânimo e na deserção.

Por conta dessa sábia instrução contida na codificação, muitos corações idealistas, portadores de valores forjados no sacrifício da renovação interior, habituaram a julgar-se hipócritas e desleais perante seus deslizes, penetrando as faixas emocionais da autopunição em descaridosos episódios de desamor a si próprios. Nesse quadro, esquecem-se do quanto já edificaram de bom na intimidade e optam por fixar-se em crenças negativas, supervalorizando suas imperfeições, negando autoperdão, caminhando para conflituosos estados íntimos que ativam os sentimentos de desprezo, raiva, desânimo, ansiedade, tristeza, desespero e pessimismo.

Grande diferença existe entre "ser imperfeito" e "estar imperfeito". Não fomos criados para o sofrimento e o mal. O fato de cometer faltas não intencionais faz parte do demorado processo de transformação da personalidade. Os que verdadeiramente nos comprometemos com a melhoria interior precisamos nos dar conta de que as vacilantes intenções de ser um homem novo necessitam do otimismo para se concretizar. Não somos infelizes, estamos, passageiramente, deprimidos. Somos luzes, somos deuses...

Trágico equívoco acreditar na perfeição instantânea depois de milhares de anos no cultivo intencional de ervas daninhas no solo do coração. Conhecimento não basta. Quando Jesus afirma o valoroso ensino Conhecereis a verdade e ela vos libertará¹, certamente não se referia à verdade que permanece na órbita do cérebro, porque se assim fosse todos os espíritas, detentores de largos fachos de luz da verdade, estariam libertos da lutas contra a inferioridade que ainda nos aprisiona nas celas da vaidade e do orgulho. O Mestre, evidentemente, referia-se à verdade que atinge as distantes regiões do coração, à verdade sobre nós mesmos, a nossa realidade.

Mister efetuar o serviço delicado nas leiras do sentimento, aprendendo a arar as tendências, hábitos e desejos em direção aos roteiros do bem. Mergulhar na vida profunda do inconsciente - o desconhecido reino do automatismo - e pesquisar as raízes afetivas de nossas vivências.

Culparmo-nos, pelo mal que ainda não conseguimos vencer, em nada nos melhora. Certamente em alguns casos de personalidade rebelde ela funciona como uma defesa a fim de não desistirmo-nos de lutar, impulsionando a criatura ao recomeço para não agir novamente da mesma forma. Afora isso, é um instrumento pouco eficiente para promover a correção.

Melhora real só obteremos com auto-estima, valorizando, severamente, a "parte boa" que possuímos, fixando as crenças no "homem novo" que já desejamos ser, guardando o "olhar mental" na meta gloriosa de ser hoje melhor que ontem, sem distrair com os chamados inferiores do "homem velho" que agoniza, mas teima em ressuscitar...

Culpa é tortura e desamor, impulso para baixo.

Severidade é crescimento e auto-amor, motivação para continuar nos desafios de aprimoramento.

Jamais desistamos da melhora. O tempo e a maturidade demonstrarão como é preenchedora a opção que escolhemos sob a égide dos luminosos ideais espíritas-cristãos. Sem perfeccionismo e fazendo o melhor que pudermos, experimentaremos a alegria da vitória, cujo troféu chama-se felicidade.

1. Jo 8:32.

domingo, 9 de agosto de 2020

Missão dos Inteligentes

Livro: Mereça Ser Feliz
Autora Espiritual: Ermance Dufaux

Capítulo 30

Não vos ensoberbais do que sabeis, porquanto esse saber tem limites muito estreitos no mundo em que habitais. Suponhamos sejais sumidades em inteligência neste planeta: nenhum direito tendes de envaidecer-vos. Se Deus, em seus  desígnios, vos fez nascer num meio onde pudestes desenvolver a vossa inteligência, é que quer a utilizeis para o bem de todos; é uma missão que vos dá, pondo-vos
nas mãos o instrumento com que podeis desenvolver, por vossa vez, as inteligências retardatárias e conduzi-las a ele.

Ferdinando, Espírito Protetor. (Bordéus, 1862)

O Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 7 - Item 13

Não somos a inteligência que amealhamos. Apesar disso, muitos a tratam como se fosse o traço mais valoroso da personalidade em razão dos sentimentos que o saber humano dinamiza no coração.

Ainda hoje, expressiva maioria das criaturas guarda agradável sensação de superioridade quando detentora da largas fatias de cultura e desenvoltura cognitiva. Possuí-la não é o problema, mas sim como nos enxergamos a partir do saber que acumulamos, porque o orgulho costuma encharcá-la de personalismo e vaidade criando uma paixão pela auto-imagem de erudição no campo mental.

Os homens de saber de todas as épocas, com poucas exceções, foram criaturas que sucumbiram sob o peso da vaidade. A capacidade para manejar a inteligência nem sempre era acompanhada pela habilidade em lidar com os sentimentos que decorriam do destaque e da lisonja com que eram tratados.

As pessoas inteligentes e cultas, não raro, tornam-se muito exigentes e excedem na avaliação acerca de sua importância perante o mundo; isso colabora para diminuir a proximidade espontânea em função de criarem conceitos que desnivelam seus relacionamentos, com propósito de manterem as imagens que cultuam de si próprias. Tais exigências são sustentadas pelo sentimento de onipotência originado dos estímulos sociais, que conceituam cultura como o quesito de realização pessoal dos mais importantes na Terra.

O que ocorre em nosso mundo interior, a partir da relação que travamos com a instrução que conquistamos, é fator fundamental para nossa felicidade. Num mundo que privilegia a inteligência como sinônimo de acúmulo de informações e abre os braços para os eruditos, marginalizando os incultos, é óbvio que essa faceta social promove na intimidade do homem um conjunto de fenômenos emocionais que influenciam, decisivamente, seu processo de crescimento espiritual. Quantos pais, por exemplo, educam seus filhos com a noção de sucesso e felicidade, realização existencial e vitória, conciliando-os com dinheiro e intelectualidade?

Portanto, que contingência cerca a alma no mundo do afeto a partir desse quadro?

Precisamos de melhores aferições nesse tema, porque se para o homem comum isso não passa de uma questão de oportunidade e competição social, para nós, que fomos agraciados com o saber espírita, torna-se uma questão de desafio e aproveitamento reencarnatório.

Conscientes de que a tarefa do homem inteligente no mundo é conduzir a humanidade para Deus, conforme assinala Ferdinando no trecho acima destacado, fica para nós a indagação: o que temos feito com a inteligência e a cultura em favor da comunidade onde estamos inseridos? Façamos alguns levantamentos:

Como tem procedido nesse sentido o médico espírita? Tem conseguido passar a seus pacientes a noção afetiva do Pai durante as suas oportunas consultas? Tem conseguido equacionar seus problemas de relacionamento com seus enfermos, buscando maior calor humano? Tem havido um desejo de pesquisar as razões subjetivas do sofrimento de seus beneficiados ou permanece na confortável poltrona da diplomacia universitária? Há o interesse em desbravar novos horizontes em torno das próprias pesquisas humanas na reciclagem da fragmentária informação acadêmica?

E os missionários das ciências psíquicas? Têm se permitido serem fraternos com seus consulentes ou preferem a frieza do divã e dos psicotrópicos? Têm conseguido entender seus pacientes como familiares queridos que a vida colocou em seu caminho ou como almas atordoadas e sem futuro? Têm conseguido aplicar-lhes a excelente medicação da esperança e caridade, somente possíveis quando se permite sensibilizar-se com os dramas alheios? E com o montante de informes que possui, como têm procedido perante a vida? Têm utilizado da sabedoria da vida inconsciente para si mesmos, resolvendo suas próprias lutas interiores, ou têm apenas se deliciado com o ato de destacar-se como profissional aquilatado em congressos e eventos, que infundem ainda mais a sensação de grandeza e domínio em relação ao "mundo desconhecido" das técnicas e caminhos da vida mental?

E o autodidata espírita? Como tem usado o que sabe? Tem promovido criaturas ou usado de seu tesouro para consolidar posições de "homens com todas as respostas"? Tem relativizado os assuntos espirituais ou tem agido com certezas conclusivas sobre temas extremamente versáteis da metafísica? Tem procurado tornar útil à comunidade sua bagagem doutrinária ou tem se encastelado no preciosismo de gastar enorme tempo para construir teorias talhadas no perfeccionismo? Tem sabido ouvir opiniões diversas com caridade e proveito ou se mantido no círculo estreito de suas ideias, originadas em fartas pesquisas que lhe causam a impressão de descobertas inusitadas?

Somente crendo que há algo superior regendo os mecanismos do universo, e compreendendo nossa realidade nesse contexto sistêmico da Leis Naturais é que teremos recursos para agir com consciência acerca do nosso papel na harmonia cósmica.

O que importa é aprender a usar a inteligência para despertar nas almas o desejo de serem solidárias na vida e consolidarem a ideia de Deus no coração - algo extremamente escasso na atualidade, considerando que mestrados e teses quase sempre são defendidos com o único propósito de melhorar proventos financeiros...

Cultura é indício de compromisso. Inteligência é traço mental solicitando o complemento do amor para conduzir o homem aos rumos do bem. O dever natural de quem sabe mais é ajudar quem sabe menos a entender o que vale a pena saber para ser feliz, é tornar-se responsável pelo meio onde labora auxiliando entendimento e cooperando com o progresso.

Pouco importa para um espírita culto a mais avançada técnica da atualidade, se ele não souber incutir dentro de si e dos outros a alma da vida, o amor.

Despertar nos seres humanos o gosto de servir, o respeito à natureza e o sentimento da existência de Deus é a grande missão do homem espírita inteligente na Terra. Se, ao contrário, preferir manter-se nas gélidas posturas do homem científico, que separa academicismo e espiritualidade, estará repetindo velhos erros e sendo iludido pela crueldade sutil da soberba e da necessidade de prestígio. A consequência mais grave desse quadro é o sentimento de auto-suficiência em que estacionará, supondo encontrar nos valorosos avanços da ciência humana o essencial para cumprir sua missão, ou mesmo cultivar a velha ilusão de que conhecimento é sinônimo de elevação espiritual.

Espiritismo sempre se mãos dadas com a ciência e a sociedade: essa é a plataforma sobre a qual devemos nos conduzir nos assuntos da inteligência, sem que um se sobreponha ao outro. Esse o desafio!

Fica claro que, para conseguir esse objetivo, somos convidados a severo regime de auto-análise sobre quais são as motivações e tendências que movimentamos, perante a cultura que adquirimos em alguma matéria específica do saber mundano, ou mesmo nas experiências da lavoura doutrinária.

Renovemos o conceito de cultura à luz dos princípios espíritas e da educação.

Igualmente reciclemos a noção de inteligência à luz da ciência humana, absorvendo as "novas" noções da multiplicidade desenvolvida por Howard Gardner¹.

Cultura é convite a realizar mais e melhor. Inteligência é um conjunto de habilidades que nem sempre significa muita cultura.

Procuremos saber com clareza também se não estamos sofrendo de "poluição intelectual", ou seja, se temos sabido ser seletivos relativamente ao conhecimento, porque há um "lixo" nas ideias terrenas que, em princípio, parecem ser temas extremamente importantes e essenciais, mas que não oferecem nenhuma utilidade para a conquista da paz, da saúde e do crescimento dos povos.

Muita informação pode não passar de "escora para interesses pessoais", quando o importante é saber converter a informação em agente de transformação pessoal e coletiva onde nos situamos. Em muitos casos, a sede do conhecimento pode camuflar complexos fenômenos da vida afetiva, nos capítulos da carência e da frustração.

Ser bem informado e guardar simplicidade - a virtude das almas solidárias - eis o convite para todos nós.

Ter respostas simples para coisas complicadas é a grande virtude do homem inteligente na Terra, porque somente vibrando no espírito da simplicidade é que somos capazes de tornar o saber uma alavanca propulsora, nos rumos da felicidade e da libertação entre os homens.


1. PHD em psicologia pela Harvard University. Criador da teoria das Inteligências Múltiplas.

sábado, 1 de agosto de 2020

Perfis Psíquicos

Livro: Mereça Ser Feliz
Autora Espiritual: Ermance Dufaux

Capítulo 29


"Os que no Espiritismo vêem mais do que fatos; compreendem-lhe a parte filosófica; admiram a moral daí decorrente, mas não a praticam. Insignificante ou nula é a influência que lhes exerce nos caracteres. Em nada alteram seus hábitos e não se privariam de um só gozo que fosse. O avarento continua a sê-lo, o orgulhoso se conserva cheio de si, o invejoso e o cioso sempre hostis. Consideram a caridade cristã apenas uma bela máxima. São os espíritas imperfeitos."

O Livro dos Médiuns - Capítulo 3 - Item 28



Alma querida confidenciou-nos, nos círculos de aprendizado da erraticidade, que se encontrava muito surpreso com as revelações descerradas pela morte física, acerca dos estudos sobre os perfis psíquicos adquiridos por cada espírito no somatório de suas existências carnais. Analisando com mais atenção as características atinentes aos espíritas, deparou-se com informes que muito lhe levaram a meditar. Agora compreendendo melhor quais as forças morais e espirituais que medeiam as personalidades vinculadas às orientações do Consolador, solicitou-nos que, quando possível, enviássemos aos amigos domiciliados na Terra alguma nota acerca de suas conclusões.

Atendendo-lhe o pedido gentil e caridoso, passamos fielmente, na condição de mensageira, os apontamentos de nosso interlocutor, como segue:

"Nas vésperas de meu desencarne, os temperamentos dos espíritas foram alvos de profundas preocupações de minha parte. Suas atitudes faziam-me recordar a trajetória religiosa do homem comum, e isso a mim intrigava. Somente na vida espiritual pude compreender com mais lucidez a questão dos perfis espirituais que definem os temperamentos e o caráter, encontrando então respostas convincentes a muitas de minhas dúvidas.

Em registros similares ao da ciência humana, vim a deparar-me com volumosa literatura destinada a estudos antropológicos e sócio-espirituais. Em capítulo específico tomei conhecimento de belíssimo e incomparável estudo sobre os perfis evolutivos, minudenciando características psíquicas e traços emocionais sobre os mais variados protótipos da sociedade humana.

Com interesse, aprofundei nas reflexões sobre os religiosos de todos os tempos, e pude assim melhor entender o perfil espiritual dos espíritas, que merece abordagem detalhada em tais compêndios antropológico-espirituais.

Considerei então o significado de algum dia poder transmitir aos amigos na Terra algo de minhas conclusões, objetivando cooperar no esclarecimento e alerta. Deixo assim minhas anotações na seguinte linha de ideias:

Compulsando literatura especializada do plano extrafísico,  pude perceber a antropogênese sócio-espiritual das almas que hoje são atraídas para as fileiras do Consolador.

Apenas para compor anotações com finalidades de despertamento, em breves linhas descreverei algo sobre a "personalidade espiritual" dos mesmos nos últimos dois mil anos.

Amantes incondicionais dos ensinos da figura excelsa de Jesus, habituaram-se ao discurso do bem, seguindo-lhe as palavras, mas sem a prática.

Exímios exegetas dos textos evangélicos, entregaram-se ao costume de interpretar-lhe para obter vantagens pessoais, em franco desrespeito à opinião alheia.

Dedicados estudiosos da letra evangélica, passaram-se a julgar representantes Divinos e exclusivos portadores da Verdade, estabelecendo tribunais aos que não lhes atendiam aos interesses.

Dotados de grande influência, arregimentaram adeptos e ramos religiosos, elegendo a exclusão  e a heresia para os desleais.

Fascinados com a hierarquia eclesiástica, disputavam a qualquer preço a ordenação e o destaque, a fim de lograrem o aval dos cargos para perpetrar os abusos do poder.

Detendo o monopólio do saber, incensaram dogmas e sacramentos como instrumentos de fé fácil e negociável.

Agravando a condição espiritual de tais perfis, as anotações davam conta que nos últimos seiscentos anos acostumaram-se à adoção popular de lavrar sentenças infalíveis e condenatórias, em julgamentos acerca das atitudes alheias em deplorável atitude de intolerância, resquício moral da ação de Gregório IX que em 1231 oficializou os "tribunais da vergonha" elegendo os padres domini-canes, ou "cães do senhor", como herdeiros da "gloriosa missão" de torturar fisicamente os heréticos.

Em linhas gerais, semelhantes condutas talharam um "caráter espiritual" típico e peculiar que define a grande maioria dos "espíritos-espíritas", resumidos assim:

- Não habituaram a terem suas interpretações pessoais contestadas.

- Acostumaram-se a fazer do seu conhecimento intelectual a verdade que ainda não aprenderam a sentir.

- Encantam-se com a ritualização exterior como forma de desonerarem-se das obrigações íntimas, adulando guias, responsabilizando obsessores, amando cargos, práticas e idolatria.

- Guardam imensa dificuldade de amar a quantos  não lhes partilham os pontos de vista, contagiando-se facilmente com a animosidade crônica.

- Nutrem acentuada desconfiança uns nos outros em razão de suas infidelidades e desonras de outrora.

Assim, conquanto amantes do bem, percebi pelos informes, que seus descuidos eram mais fruto da imaturidade que da perversidade, embora isso não tenha sido suficiente para desonerar-lhes de muita dor e do confinamento a regiões infelizes da erraticidade, retomando reencarnações atrozes em busca da melhora.

Cansados de sucessivos e desastrosos recomeços, passaram a alimentar traumas e receios de retornar à escola da Terra e cometerem os mesmos desatinos. Foi então que o próprio Jesus, conjuntamente com a Divina Providência, intercedeu em favor de tais corações que lhe amavam o testemunho e a palavra, mas que não a honravam com a vivência, e recambiou suas almas atormentadas aos círculos benfazejos da Nova Revelação do Espiritismo. A princípio, ainda desencarnados, frequentaram as atividades socorristas da mediunidade na condição de sofredores e oponentes religiosos; posteriormente, de ânimo novo, acordando para novas perspectivas dos ensinos do Evangelho, adequados aos novos tempos, então se decidiram por reingressar na carne junto aos ambientes do Consolador como única medida aceitável para a grande maioria, face à rebeldia e ao montante das culpas que acrisolavam em sua intimidade.

Renascem padres, bispos, pastores, calvinistas, inquisidores, pítons e todos aqueles que algum dia na história experienciaram o contato com as Verdades evangélicas sem, contudo, fazerem-se "cartas vivas" da mensagem do Cristo. Renascem com esperanças novas e com visões ampliadas sobre suas responsabilidades.

Naturalmente que encurtei os dados com intuito de alerta e reflexão. Verificando minúcias do assunto, porém, é surpreendente e mesmo curioso a trajetória da grande maioria daqueles que hoje militam nas frentes espíritas. A partir disso passei à aquisição de respostas para antigas dúvidas sobre o modo de comportar dos espíritas, dilatando em muito meus sentimentos de compaixão para com todos e minha sensibilidade fraternal para com suas lutas pessoais.

Entendi que, mesmo sendo portadores do conhecimento e da fé, precisarão de mais tempo para permitirem uma renovação nesse perfil milenar. Os espíritas de "segunda vez" começam a renascer desde o último quartel do século XX, quando então, mais conscientes e tendo culpas milenares aliviadas pelos benemerentes serviços de caridade de seara espírita, começarão arregimentar condições propícias para uma viagem interior em busca de si mesmo e de sua própria elevação.

Constatei ainda nos registros, que o Brasil, celeiro eclético de crenças, tendo como fio condutor o Catolicismo, representa uma estrada com extrema riqueza de alternativas para esses corações temerosos e dispostos ao reinício.

Chamou-me ainda mais a atenção o trecho referente ao programa que fora delineado para atender essa demanda sócio-espiritual da humanidade. Consta nas notas que Bezerra de Menezes e um grande grupamento de servidores insculpiriam, com seu trabalho coletivo, as bases para o erguimento desse edifício de solidariedade e reencaminhamento.Segundo as conclusões de sábio psicólogos Celestes, o maior obstáculo íntimo, para almas com esse perfil, seria a indisposição ao contato comunitário, o que, então, os levou, sob o testemunho dos "médico dos pobres", a incitar o serviço da unificação como medida apropriada para que a lição da convivência em comunidade pudesse ser aprendida e desenvolvida, considerando outros compromissos maiores no futuro.

Analisando sob o prisma da imortalidade, a conclusão que cheguei é a de que está tudo certo, tudo ótimo, tudo sob controle, e somente a visão inibida, comum à maioria de nós quando na Terra, é que pode levar-nos a enfocar a comunidade espírita como local de loucuras e atraso. Não poderia ser diferente e embora necessite de muita melhora, particularmente, não guardo mais dúvidas sobre o valor do movimento espírita, do progresso efetuado por esses corações "semi-católicos" e, sobretudo, quanto à grandeza da Doutrina Espírita, que funciona como medicação atualizada para esse mister.

Passei a entender, sob enfoque mais ampliado, que a identidade de uma religião atende também a fatores de "sociologia espiritual", acima mesmo de meros fatos históricos da evolução das culturas humanas, levando-me a meditar em novos enfoques para a questão religiosa do Espiritismo. Enquanto os homens discutem, sem concluir, sobre a inconveniência ou mesmo o prejuízo do caráter religioso da Doutrina, o problema, em verdade, encontra-se no religiosismo abundante das almas que para ela foram e são atraídas.

Sem quaisquer generalizações sobre o tema, porque outros perfis completamente distintos de minha análise adentram aos ambientes fecundos das agremiações Kardecianas, não será demais afirmar que os espíritas, em maioria esmagadora, são os mesmos espíritos que ao longo desses vinte últimos séculos estiveram, mais ou menos, comprometidos ou identificados com a mensagem do Evangelho, deixando concluir facilmente que católicos, protestantes e alguns crentes ecléticos do Cristianismo compõem, quase sem exceções, o passado espiritual e o perfil moral daqueles que hoje assumem a designação de trabalhadores e dirigentes espíritas."

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Alma querida, 

as anotações de nosso irmão não deixam dúvidas.

Agora, quando indagares como pode um espírita agir em desacordo com seu conhecimento, guarde a lição de nosso missivista como pérola inesquecível.

Agindo com tolerância e compreensão acolherás pela sintonia o pensamento das almas nobres, que agem imparcialmente no bem de todos.

De posse de semelhante estado superior, terá contigo melhores possibilidades de cultivar o amor e o afeto por aqueles que ainda te causam desagrado ou mesmo a ofensa, na esfera de sua convivência doutrinária.

Qual de nós estará fora das bem elaboradas reflexões aqui descritas?

Exclusões, hipocrisias, institucionalismo, interpretações unívocas, personalismo, vaidade, controle hegemônico são perfis ainda vivos e influentes nos traços da conduta do espírita, e somente uma relação vigorosa de afabilidade e doçura será capaz de estabelecer um processo relacional útil, e que permita algum benefício na superação de tais óbices morais.

Amizade sincera, respeito incondicional, afeto, paz na convivência são os caminhos prováveis para a vitória.
Achaques e agastamentos, radicalismos e intolerância, ativismo recriminante são velhas e malfadadas medidas que tendem a açular as sombras e a inferioridade moral.

Dizes que não podes ser omisso, e concordamos. Entretanto, o ativismo do Cristão recomenda brandura, paciência e equilíbrio de ações. Mais que "tocar trombetas" ou exercer movimentos infrutíferos, a situação carece do serviço honroso e útil, fraterno e transformador pela força do exemplo.

Pensemos na estratégia de Jesus a seu tempo e conceberemos o modelo ideal da ação, ante os perfis evolutivos de cada ser, aprendendo, paulatinamente, o que seja viver comunitariamente.

O tempo ensinará que as alocuções desse irmão de ideal, referente às conclusões em seus estudos, reúne farto conteúdo que suscita muita indulgência e compaixão dos seareiros do Consolador, uns com os outros.

Não bastasse as assertivas lógicas e sensatas dessa alma querida, é bom que estejamos informados que esse coração generoso e bom não é somente um informante de passagem, pedindo um favor quando solicita remeter essas ideais ao plano físico. Ele foi sim um baluarte da autenticidade e um severo defensor da Verdade que ficou empanada em séculos de "falso cristianismo". Seu nome: Cairbar Schutel.