quinta-feira, 29 de outubro de 2020

O Milênio de Jesus

Livro: Laços de Afeto
Autora Espiritual: Ermance Dufaux

Prefácio

“Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus.”

Jesus (Mateus 5:8)

Com essa obra homenageamos os dois mil anos do nascimento de Jesus comemorados hoje na Terra.

Celebramos a data relembrando o Amor - cerne das propostas educacionais do Mestre.

E a inspiração para nossas anotações buscamo-la no Seu discípulo da Era Nova, Allan Kardec, tomando por base o excelente tratado de vida interpessoal contido no capítulo 29 de O Livro dos Médiuns, “Das Reuniões e das Sociedades Espíritas”. A atualidade das questões enfocadas pelo Codificador sobre relacionamentos entre companheiros de ideal é roteiro consistente e seguro para a edificação da convivência harmoniosa.

Objetivamos, em “Laços de Afeto”, propor a meditação e o estudo conjunto a partir de fatos colhidos aqui e acolá, na faina doutrinária, destacando a importância da afetividade como degrau para autênticas relações de Amor e base para a criação de um clima espiritual ideal nas instituições fraternais do Espiritismo.

A afetividade é tema de profundos estudos e pesquisas científicas na humanidade, porém, objetivando conduzir os textos para o coração e a meditação, abstraímo-nos do rigor técnico que exigiria pesquisa intelectual dos conteúdos abordados, tarefa essa que vem sendo desenvolvida por competentes cooperadores, em ambos os planos de vida, com expressiva clareza e utilidade.

Alertamos os leitores, especialmente os espíritas, para evitarem conceber nossas abordagens como “manual prático de vida”, transformando os apontamentos em psicologismo ou regras de felicidade imediata. Chamamos a atenção para esse ponto por constatarmos uma tendência humana a “canonizar” ideias provenientes de intercâmbios mediúnicos, convertendo-as em caminhos coletivos da verdade ou normas de soluções fáceis ante os problemas da existência. Cada um deverá absorver nessa ou naquela consideração algo que contribua para seu crescimento, utilizando sempre a “relativização” do saber, do entendimento e da experiência.

Portanto, nada além fizemos que reunir temas sugestivos para o debate amigo e sincero entre equipes de serviço e estudo, priorizando ângulos que emergem como imperativos misteres nas agremiações bafejadas pela luz espírita. Pinçamos alguns itens de valor do capítulo 29 de O Livro dos Médiuns, e sugerimos o estudo minucioso desse texto da obra basilar, por acreditarmos que constituirá investimento incomparável para a instrumentalização das equipes espiritistas.

Educadores e outros especialistas maduros e cônscios de seus deveres sociais e espirituais poderão, no futuro, contribuir em muito para o desenvolvimento de nossas ideias, levando ao centro espírita os recursos diversos de sensibilização e aprimoramento relacional entre as criaturas, colaborando com o desenvolvimento da vida afetiva em suas nuanças através de técnicas que facilitem a compreensão das “leis e mecanismos do coração”. Programas educativos do afeto farão parte dos círculos de Amor do Espiritismo em tempo não muito longínquo...

Sociedades espíritas fraternas só serão construídas por homens e mulheres mais dóceis e cordiais, mais confiantes e afáveis, mais amigos e amáveis. A criação dessas novas relações é garantia de uma aprendizagem mais sólida e bem aproveitada em nossas casas espirituais, facultando melhor assimilação dos conteúdos doutrinários e sua consequente aplicação no desenvolvimento de habilidades morais e emocionais, tão escassas na convivência entre as criaturas perante a pressão das lutas da vida terrena. Teremos assim, mais afeto, melhor ambiente e bem-estar para conviver e maior motivação para servir e aprender!

Os resultados serão percebidos e sentidos na dilatação da criatividade para soluções dos problemas, na solidariedade aos projetos de Amor desenvolvidos por outros colaboradores, na superação das fronteiras institucionais, no suporte emocional às lutas individuais para alcançar as metas de melhoria interior e, sobretudo, na disposição com os deveres assumidos junto à comunidade que serão executados com mais comprometimento e cuidados nascidos na prestabilidade espontânea.

Assim, laços de confiança e fraternidade tecidos com o fio da sensibilidade resultam em alegria para os encontros, ânimo para a luta diária, força para os instantes de fragilidade e prova, e inclinação para o altruísmo no rompimento dos costumeiros limites, aos quais, quase sempre, guindamo-nos sob o domínio do egoísmo pessoal ou grupal, distanciando-nos uns dos outros na Vinha que é a mesma, e é de todos...

Trabalhar por essa meta é o desafio que a todos nos compete ante as responsabilidades delegadas pelo Divino Rabi e pelo exemplar Allan Kardec.

As bases fraternais na convivência entre os espíritas são os sinais da esperança acenando com as melhores perspectivas nos serviços a serem encetados no porvir do terceiro milênio. Essa é a única garantia de relações capazes a empreendimentos enobrecedores no campo do Espírito.

Trabalhar nas fibras do sentimento, para desenvolver o potencial do afeto cristão, significa direcioná-lo para realizações elevadas do relacionamento na expansão do “ser” - árdua tarefa reeducativa, considerando-se os extensos reflexos de narcisismo e paixão vividos por nós ao longo dos séculos.

Sociedades espíritas afetivas só se concretizam com corações dispostos a amar, e o Amor é suscetível de “treino” e educação para a consolidação de uma conduta amorosa, libertadora e preenchedora.

O Espiritismo abre-nos as portas do entendimento esclarecendo a razão para compreendermos Deus, mas após milênios de naufrágios nas águas turbulentas do religiosismo sem Amor, convém-nos, além de “saber Deus”, o “sentir Deus”, pois é pelas vias sagradas do sentimento que ocorre a fixação dos valores Divinos em nós, conduzindo a crença para os domínios da fé racional, transformando o coração no espelho daquilo que realmente lograremos ser, orientando-nos sempre pelas luzes da imortalidade da alma.

O “Guia e Modelo”, consciente desse assunto, exarou que quem mantivesse o coração limpo veria a Deus, e ver Deus é criar a sublime empatia com Sua obra, vibrando em uníssono com Sua criação, condição essa somente alcançada quando envolvemo-nos na aura do Amor.

O centro espírita, como unidade social do Espiritismo, precisa ser promovido a esse patamar de “escola de afeto cristão”, a fim de não estancar na superficialidade da proposta do Espírito Verdade para a humanidade do terceiro milênio, onde a afetividade será o centro das esperanças de um tempo melhor e a bússola segura para encontrarmos a felicidade em relacionamentos gratificantes e libertadores.

Espiritismo estudado, preciosa chave da informação no cérebro. Espiritismo sentido, alforria espiritual pela transformação do coração.

O terceiro milênio será o verdadeiro tempo de Jesus, liberto do dogmatismo e das negativas tradições passadas, vivido em Espírito e realidade.

Esperançosa em ter colaborado, mesmo que palidamente, com esse objetivo de instaurar um novo tempo para nossas agremiações, muito nos alentará saber que nossas palavras, pelo menos, serviram para deixar claro que a grande causa de nossas vidas é o Amor uns pelos outros acima de quaisquer postulados de caráter doutrinário ou religioso, conforme já fora asseverado pelo Pastor de nossas vidas: “Meus discípulos serão conhecidos por muito se amarem.”

Dois milênios sem ti Senhor, dois milênios que proclamamos teu nome sem honrar-te os ensinos. Ampara-nos para fazermos nos augúrios do terceiro milênio a era do Espírito imortal, ensejando nosso encontro contigo. Fortalece-nos para transformarmos nossos grupos em celeiros de paz e harmonia, lídimos Educandários do Amor, fiéis a teus postulados, conduzindo a sociedade para um milênio de justiça e lucidez sob a égide de Tua bonança. Auxilia-nos Senhor a limpar nosso coração para merecermos a tão almejada condição de Bem-aventurados.

Obrigado Jesus pelo Teu Amor durante esses últimos dois mil anos.

Ermance Dufaux

25 de dezembro de 2000

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