sexta-feira, 22 de novembro de 2019

A Palestra de Eurípedes Barsanulfo

Livro: Mereça Ser Feliz
Autora Espiritual: Ermance Dufaux

Capítulo 1


"Vem um dia em que ao culpado, cansado de sofrer, com o orgulho afinal abatido, Deus abre os braços para receber o filho pródigo que se lhe lança aos pés. As provas rudes, ouvi-me bem, são quase sempre indício de um fim de sofrimento e de um aperfeiçoamento do Espírito, quando acatas com o pensamento em Deus. E' um momento supremo, no qual, sobretudo, cumpre ao Espírito não falir murmurando, se não quiser perder o fruto de tais provas e ter de recomeçar. Em vez de vos queixardes, agradecei a Deus o ensejo que vos proporciona de vencerdes, afim de vos deferir o prêmio da vitória. Então, saindo do turbilhão do mundo terrestre, quando entrardes no mundo dos Espíritos, seres aí aclamados como o soldado que sai triunfante da refrega."

O Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 14 - Item 9

Apesar dos volumosos afazeres junto ao Hospital Esperança(1), Eurípedes Barsanulfo sempre destaca periodicamente alguns dias para a tarefa de esclarecimento e preparação de servidores para os labores do bem.

Oportunamente, reuniu cem cooperadores desencarnados em atividade nos serviços de psicografia mediúnica durante vinte dias em regime intensivo, a fim de ministrar-nos um curso cujo título foi "A Proposta Educacional de Jesus". Foram dias de profunda meditação e sabedoria que preencheram nossos corações de idealismo e sensibilidade.

Deixaremos a seguir um breve resumo da "aula inaugural" que serviu de fio condutor para os debates e estudos dos dias subsequentes, considerando que a abordagem do benfeitor compromete diretamente a todos os que se encontram envolvidos com as atividades libertadoras da abençoada Doutrina Espírita, incluindo nós outros, os desencarnados.

"Irmãos, Jesus seja nossa inspiração."

"A proposta educacional de Jesus tem por objetivo a felicidade e sua pedagogia assenta-se no amor e na esperança. Essa felicidade, no entanto, tem um preço: a construção do Reino dos Céus aludido pelo Mestre na intimidade de cada ser."

"Ele asseverou que "o Reino de Deus não vem com aparência exterior"(2). Contudo, para a maioria esmagadora dos homens, Deus ainda é procurado por fora - um atavismo que tem raízes em tempos imemoriais nos degraus do processo evolutivo."

"Aqui no Hospital Esperança temos constatado todos os dias, e cada vez mais, a urgência de se conclamar os nossos co-idealistas na Terra a uma campanha pelo "Espiritismo por dentro". Lamentavelmente, embora seja compreensível, o "vazio existencial" que toma conta do homem comum tem sufocado também as esperanças frágeis de muitos corações espíritas que se encontram à míngua de uma réstia de força."

"Por que estariam muitos confrades nessa situação? Qual a razão de optarem pela treva quando a luz já lhes ilumina os rumos novos?"

"Todos que aqui nos reunimos somos testemunhas dos efeitos da negligência e da invigilância de muitos amigos queridos que foram bafejados pela luz do Consolador, mas que não se deixaram penetrar pelos raios da educação espiritual."

"Compete-nos fazer algo mais em favor desse estado de coisas!"

"Precisamos dilatar as concepções dos trabalhadores da seara acerca dos objetivos de sua adesão aos serviços de esclarecimento e edificação moral. Muitos discípulos, mais desatentos e mal informados que infiéis, têm procurado o serviço espírita imbuídos de elevadas expectativas de vantagens pessoais embaladas por sonhos de imediatismo e facilidades. Recorrem aos centros espíritas à cata de soluções fáceis e raramente se comprometem com a essência do "Espiritismo por dentro". Demonstram boa vontade e generosidade, todavia, em muitas ocasiões, as próprias organizações doutrinárias não lhes orientam coerentemente para serem eles próprios a solução de suas vidas, através do trabalho transformador em busca da felicidade individual."

"Expressiva parcela dos aprendizes do Consolador acostumam-se assim a verem nas tarefas um pesado ônus que assumem como se estivessem resgatando extensos débitos na busca da felicidade, deixando de efetuar a educação de si mesmos nas tarefas de amor e estudo. Passam anos ou a própria existência nessa condição do "Espiritismo por fora", entregues a posturas pudicas sem renovarem o sentimento, evitando o mal mas nem sempre com desejo real de afastar-se dele, entrincheirando-se nos labores da caridade como quem paga extensa conta com o próximo, mas nem sempre exercitando os sentimentos nobres com os quais faria sua redenção pessoal."

"Procuram, quase sempre, folga e facilidade, quando o serviço do Cristo se opera exatamente na direção oposta."

"Depois desencarnam à espera de louros que não fizeram realmente por merecer, porque plantaram o bem no próximo e nem sempre cultivaram o bem a si mesmos."

"Levemos ao plano físico conceitos mais lúcidos sobre o que seja a felicidade para não se confundirem em ilusões fascinantes ou teorias doutrinárias mal interpretadas."

"Felicidade é o estado de satisfação existencial, uma questão toda interior e definitiva, bem diferente dos momentos fugazes de bem-estar e alegria que podem ser auferidos por empréstimo através do amparo espiritual, das genuflexões e da fluidoterapia espírita."

"Se algo podemos acrescer aos amigos domiciliados na carne, será apontar o conhecimento de si mesmo como roteiro de equilíbrio e caminho para a tão almejada felicidade, a fim de assumirem "o bom combate" no enfrentamento íntimo."

"Os Sábios Guias da Verdade já registraram que a felicidade dos Espíritos Superiores consiste em conhecerem todas as coisas"(3).

"Saber o que se passa conosco, entender as causas de nossas reações, mergulhar nos motivos de nossas afinidades e antipatias, pesquisar as origens de nossas tendências e pendores, conhecer as raízes das emoções e pensamentos indesejáveis são conquistas interiores, fonte imensurável de realização pessoal."  

"Definitivamente fica claro que ser feliz é uma questão de interiorização, uma investigação perseverante sobre a bagagem integral do espírito. Essa viagem interior permitirá resgatar, paulatinamente, o reencontro com a "Centelha Divina", o Pai que foi "abandonado" pelo Filho Pródigo, a parcela "imaculada" de Deus no íntimo. Esse passo será um laborioso trabalho de "dissolver" os escombros morais sob os quais encontram-se soterrados, há milênios, os valores espirituais em razão da tragédia da "orfandade escolhida", ou seja, a infeliz escolha de abandonar a segurança da plenitude, em comunhão com as Leis Divinas, pela opção da "liberdade" para construir o caminho da insatisfação e da insaciedade através do egoísmo."

"A exemplo do Filho Pródigo do Evangelho, o homem está escravizado pela insegurança perturbadora causando-lhe dores inconsoláveis e sentimentos de revolta, desamor e tristeza que nascem do reflexo cruel do personalismo viciado."

"Nesse trajeto de distanciamento da "luz paternal" nasceu o maior inimigo de todos nós, o orgulho, como sendo saliente sentimento de superioridade que nos vimos obrigados a gestar para "encenarmos" a segurança que perdemos por "desligarmos" do Pai. Sentimento esse que nos transportou a todo tipo de arbitrariedades nos domínios da ilusão, ampliando mais e mais nossa frustração e desajuste consciencial."

"A retomada desse processo exigirá o compromisso de operar incansavelmente nas faixas da renovação interior em favor de "novos padrões de existir e de ser", tornando-nos merecedores dos júbilos da alma perante a vida."

"Até agora o que compreendemos por felicidade, quase sempre, tem sido o resultado da Misericórdia Divina, que nunca nos desampara em nome do amor, oferecendo-nos recursos que "não merecemos", a fim de que tenhamos as condições mínimas para palmilhar o caminho das conquistas interiores na busca da felicidade merecida, que ninguém poderá nos retirar no futuro glorioso que nos espera a todos."

"A advertência inesquecível de Jesus, Mestre e profundo conhecedor da psicologia humana, assinalou que o Reino de Deus não surgiria com aparências exteriores; e esse estado íntimo assinalado é o reinado da paz, decorrente das almas felizes que se fizeram "escolhidas" para serem filhos pródigos de retorno à Casa Paternal."

"Essa ensancha de optar e renovar os caminhos nessa direção está entregue a cada um de nós, recordando que o simples fato de renascer no corpo físico é indício certo de que Deus abriu "Seus braços" para nós, os filhos infiéis, e nos disse: "Porque este meu filho estava morto, e reviveu, tinha-se perdido, e foi achado. E começaram a alegrar-se"(4).

"Nossa tarefa será levar aos irmãos iluminados pela Doutrina da imortalidade que é preciso vencer as aparências e exterioridades, vigiar as decisões para não permitir o equívoco de procurar a felicidade nas questões efêmeras, repetindo velhas atitudes de religiosidade estéril em comportamentos moralistas e autoritários com os quais acredita-se possuir o reino dos céus."

"Confirmemos, em nome da caridade que pede a sinceridade, que o joio da atitude pernóstica e arrogante tem rondado a sementeira do Cristo com ares de trigo vicejante..."

"Os túmulos caiados, da passagem do Evangelho, estão ressurgindo em nossa obra de amor... Ressurgem nas fileiras da caridade espírita na condição daqueles que acreditam estar com suas questões espirituais resolvidas tão somente em razão da refazente sensação de paz nos movimentos abençoados das doações, que, no entanto, se fortalecem a alma, não são suficientes para resolver seus problemas de consciência - única salvaguarda para a "morte feliz".

"Além de caridade e estudo, na forma como nossos companheiros terrenos têm compreendido, precisamos ensinar-lhes a cultivar ideais, a desenvolverem projetos de vida, a terem metas existenciais afinadas com a Proposta Educacional de Jesus e a entenderem com mais acerto o que é a humildade, para não cederem às injunções dolorosas da depressão e da desistência, tão comuns mesmo sob a tutela das tarefas doutrinárias. Conduzamo-los o quanto antes ao contato com as Verdades Evangélicas, estudadas com sensatez e fé racional, para sedimentarem uma esteira nova de motivações em todos os campos de sua vida."

"Levemos, portanto, ao plano físico, especialmente aos lidadores espíritas, a mensagem de que felicidade tem preço: o preço da renúncia e da abnegação de si mesmo em favor da efetiva implantação dos ideais renovadores no cérebro e no coração. A vitória sobre o nosso orgulho será o triunfo da paz nos rumos da humildade - sentimento de reconhecimento da real condição de Filhos Pródigos diante do universo."

"Enquanto muitos irmãos operosos e idealistas estão comparando-se a missionários dos tempos modernos, carecemos incutir-lhes nas nascentes do coração o sentimento de humildade no resgate da realidade da qual são portadores, que não ultrapassa a excelente condição de filhos arrependidos em busca de melhora e recuperação."

"A Proposta Educacional de Jesus utiliza-se da pedagogia do amor a Deus, ao próximo e a si mesmo. Sua didática está contida no ensino: aquele que quiser vir após mim, negue-se a si mesmo...(5)

"Portanto, amor e renúncia da personalidade exigente são nossos caminhos de libertação espiritual e resgate para a aquisição da condição de Filhos de Deus."

"Felicidade está amplamente vinculada ao merecimento, e merecimento é a Divina Concessão da Vida que responde aos nossos esforços no bem com maiores possibilidades para trabalhar e servir, aprender e amar, na conquista da harmonia interior que é o outro nome da felicidade."


l. Obra de amor fundada por Eurípedes Barsanulfo na vida espiritual.
2. Lc 17:20
3. O Livro dos Espíritos - Questão 967
4. Lc 15:24
5. Mt 16:24

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