quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Felicidade do Tarefeiro Espírita

Livro: Mereça Ser Feliz
Autora Espiritual: Ermance Dufaux

Capítulo 2

"Em que consiste a felicidade dos bons Espíritos?"
"Em conhecerem todas as coisas;" (...)
O Livro dos Espíritos - Questão 967

Observamos um quadro comum nas fileiras abençoadas do serviço espírita: alguém procura apoio e consolo, recebendo a recomendação acertada para buscar o trabalho e o estudo - medicações essenciais para recuperação e desenvolvimento da felicidade e da paz.

Assim, o aprendiz começa sua faina espiritual, doando-se nas atividades de amor ao próximo e na afanosa busca de conhecimento. O tempo passa e a melhora é evidente. Contudo, o próprio trabalhador observa, em determinado momento, que se encontra diante de si mesmo com o grave compromisso de transformação e crescimento, tendo uma longa jornada a encetar. Nesse ínterim, experimenta a sensação de que o progresso efetivado não é compensador e passa a debater-se com a questão da felicidade, do equilíbrio e da superação de velhos vícios. Percebe que estudo e trabalho, por si só, não geram a transformação e a excelsitude desse estado íntimo que requer um tanto mais de aplicação do servidor a novos campos de labor na sua intimidade.

Nessa hora decisiva da caminhada espiritual, se o discípulo espírita não dispuser de elevadas doses de atenção e paciência na compreensão de suas necessidades profundas, poderá sucumbir nos estados de descrença e desânimo, vindo a permitir-se o desencanto com o idealismo superior. Falta-lhe horizontes sobre os caminhos a construir para aquisição da paz legítima, respostas mais consistentes aos seus dramas interiores, os quais deseja superar em busca do homem novo.

Pensará então de si para consigo: para que tanto esforço, se não observo melhoras na minha vida pessoal? Com que objetivo trilhei esse caminho, se não consigo vencer certas limitações que atormentam minha consciência? Por que não logrei um tanto mais de felicidade ante tanta movimentação e empenho na trilhas de espiritualização?

Comum observar, igualmente, o pessimismo em que se encontram muitas lideranças valorosas, entregues ao desânimo depois de ricos investimentos na lavoura doutrinária em anos de trabalho e devoção, desacreditando de tudo e de todos, projetando no movimento espírita o derrotismo que tomou conta de seu campo mental.

Falta de horizontes, rotina exaustiva, sensação de faltar algo na melhoria das atividades, sem conseguir se dar conta do que seja, ausência de criatividade de novas alternativas e soluções para os velhos problemas de grupo e comportamento, cansaço na luta com as imperfeições sem encontrar caminhos para o progresso pessoal: esses são os resultados de algumas de suas tarefas depois de anos peregrinando nas vivências espiritistas. O que estará acontecendo? Será uma obsessão? Um descuido? O que ocorre nessas circunstâncias? Será normal esse tipo de vivência ou será o fruto de semeadura mal trabalhada?

Essa questão sutil da vivência espírita tem passado desapercebida de muitos, e não é por outra razão que bons tarefeiros têm abandonado a sementeira ou tombado em diversos insucessos do comportamento...

Façamos uma análise sobre o assunto, tomando por base um campo preparado para o plantio, onde o agricultor não deitou as sementes nas covas. Que resultados esperar dessa sementeira sem semeadura? Em outro quadro, poderíamos supor que o lavrador semeou, no entanto, sua impaciência e intransigência com a natureza lhe retiram a força para continuar os cuidados imprescindíveis com a gleba.

Assim é a situação do tarefeiro. Trabalhar e estudar são os caminhos de descoberta e fortalecimento. Todavia, se ele não se aplica ao serviço essencial da transformação de si próprio, buscando o autoconhecimento com pleno domínio do mundo interior, deixará de semear no seu terreno pessoal as sementes vigorosas que vão lhe conferir, no futuro, a liberdade e a farta colheita do júbilo almejado por ele mesmo. E esse processo exige tempo, disposição incansável de recomeçar, meditação, cultivo de novos hábitos, oração, renúncia, capacidade de sacrifício, vigilância mental, vontade ativa, disciplina sobre os desejos, diálogo fraternal, dever cumprido e amparo espiritual.

Não existe felicidade sem pleno conhecimento de si mesmo. O mergulho nas águas abissais do mar íntimo é indispensável. E a convivência, nesse contexto, é escola bendita. Saber os motivos de nossas reações uns frente aos outros, entender os sentimentos e ideias nas relações é preciosa lição para o engrandecimento da alma na busca de si próprio.

Por isso, sempre ao lado de tarefas e estudos, incentivemos um melhor relacionamento, permitamos espaços no centro espírita para construção de grupos autênticos, que permitam falar de seus limites, de suas angústias, de suas lutas, de suas vitórias, de seus sonhos, em magnífica permuta de vivências embasada em tolerância e solidariedade, a fim de promover as agremiações doutrinárias a ambientes de lídima fraternidade, evitando as capas, as máscaras, o verniz.

Os excessos nesse tema são reais; a intransigência, a normatização, o clima de cobranças têm servido para assustar e aterrorizar muitos corações. Frases impiedosas e humilhantes têm sido estatuídas a pretexto de esculpir um modelo de conduta ou padrão para a vida espírita, calcadas em velhos chavões religiosistas no estilo "espírita faz isso, espírita não faz aquilo", subtraindo a possibilidade da conscientização, do amadurecimento, da interiorização dos conteúdos pelas vias sagradas do coração.

O ser humano está cansado da intransigência. Ele quer responsabilidade, liberdade e paz. E se não mudarmos a didática na forma de comunicarmos a mensagem espírita, continuaremos na obsoleta postura de educar de fora para dentro, quando educação é tirar de dentro para fora, respeitando as singularidades da individualidade e permitindo-lhe o ajustamento pacífico entre os novos conteúdos apresentados pelo Espiritismo e sua bagagem espiritual, buscando, pouco a pouco, através da postura íntima, a responsabilidade, a mudança de hábitos, o controle sobre sua própria existência na direção de novos propósitos.

Ante essa abordagem, não temos dúvida em afirmar que quando orientamos quem quer que seja a estudar e trabalhar, jamais podemos deixar de alertar e relembrar que o compromisso da transformação é individual e exige esforço, a fim de não alimentarmos velhas ilusões de "negociatas com Deus" em favor de vantagens na vida.

Não podemos supor que a simples adesão do trabalhador ao trabalho trará paz e felicidade instantâneas. Por isso, todas as atividades que se erguem em nome do Espiritismo deveriam ter como objetivo primordial ensejar aos que dela participam uma visão do compromisso educativo no qual ele está ingressando. Essa responsabilidade está diretamente atrelada às funções daqueles que a dirigem, que devem ser os primeiros a terem consciência clara das linhas de aprendizado que cada atividade pode desenvolver no mundo mental, psicológico e emocional do tarefeiro.

Caridade com o próximo, porém igualmente conosco. A luz com a qual clareamos os caminhos alheios é crédito perante a vida, entretanto, somente a luz que fazemos no íntimo nos pertence e é fonte de liberdade e equilíbrio, paz e riqueza na alma.

Parece óbvio a nossa afirmativa, mas nem tanto! Há muitas pessoas esquecendo ou não querendo compreender semelhante princípio, submetendo-se a largo processo de autocobrança do qual não conseguem vencer, enredando-se em climas desgastantes de desamor a si próprias. E o mais lamentável é que muitos corações passam a acreditar que esse mecanismo de sofrimento é o resultado de reflexos de seu passado reencarnatório, quando, em verdade, a pessoa está no labirinto de si mesma sem conseguir encontrar as saídas pelas quais já poderia ter passado, caso guardasse melhor habilidade na arte de conviver bem consigo própria.

A felicidade, tão procurada no mundo da transitoriedade, está em nós, no ato de penetrarmos na desconhecida gleba do eu, arando esse terreno fértil para que floresça a Divindade da qual somos todos portadores. Essa é a felicidade dos Espíritos Superiores, conforme assertiva da codificação; todavia, pode também ser a nossa, ainda agora...

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

A Palestra de Eurípedes Barsanulfo

Livro: Mereça Ser Feliz
Autora Espiritual: Ermance Dufaux

Capítulo 1


"Vem um dia em que ao culpado, cansado de sofrer, com o orgulho afinal abatido, Deus abre os braços para receber o filho pródigo que se lhe lança aos pés. As provas rudes, ouvi-me bem, são quase sempre indício de um fim de sofrimento e de um aperfeiçoamento do Espírito, quando acatas com o pensamento em Deus. E' um momento supremo, no qual, sobretudo, cumpre ao Espírito não falir murmurando, se não quiser perder o fruto de tais provas e ter de recomeçar. Em vez de vos queixardes, agradecei a Deus o ensejo que vos proporciona de vencerdes, afim de vos deferir o prêmio da vitória. Então, saindo do turbilhão do mundo terrestre, quando entrardes no mundo dos Espíritos, seres aí aclamados como o soldado que sai triunfante da refrega."

O Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 14 - Item 9

Apesar dos volumosos afazeres junto ao Hospital Esperança(1), Eurípedes Barsanulfo sempre destaca periodicamente alguns dias para a tarefa de esclarecimento e preparação de servidores para os labores do bem.

Oportunamente, reuniu cem cooperadores desencarnados em atividade nos serviços de psicografia mediúnica durante vinte dias em regime intensivo, a fim de ministrar-nos um curso cujo título foi "A Proposta Educacional de Jesus". Foram dias de profunda meditação e sabedoria que preencheram nossos corações de idealismo e sensibilidade.

Deixaremos a seguir um breve resumo da "aula inaugural" que serviu de fio condutor para os debates e estudos dos dias subsequentes, considerando que a abordagem do benfeitor compromete diretamente a todos os que se encontram envolvidos com as atividades libertadoras da abençoada Doutrina Espírita, incluindo nós outros, os desencarnados.

"Irmãos, Jesus seja nossa inspiração."

"A proposta educacional de Jesus tem por objetivo a felicidade e sua pedagogia assenta-se no amor e na esperança. Essa felicidade, no entanto, tem um preço: a construção do Reino dos Céus aludido pelo Mestre na intimidade de cada ser."

"Ele asseverou que "o Reino de Deus não vem com aparência exterior"(2). Contudo, para a maioria esmagadora dos homens, Deus ainda é procurado por fora - um atavismo que tem raízes em tempos imemoriais nos degraus do processo evolutivo."

"Aqui no Hospital Esperança temos constatado todos os dias, e cada vez mais, a urgência de se conclamar os nossos co-idealistas na Terra a uma campanha pelo "Espiritismo por dentro". Lamentavelmente, embora seja compreensível, o "vazio existencial" que toma conta do homem comum tem sufocado também as esperanças frágeis de muitos corações espíritas que se encontram à míngua de uma réstia de força."

"Por que estariam muitos confrades nessa situação? Qual a razão de optarem pela treva quando a luz já lhes ilumina os rumos novos?"

"Todos que aqui nos reunimos somos testemunhas dos efeitos da negligência e da invigilância de muitos amigos queridos que foram bafejados pela luz do Consolador, mas que não se deixaram penetrar pelos raios da educação espiritual."

"Compete-nos fazer algo mais em favor desse estado de coisas!"

"Precisamos dilatar as concepções dos trabalhadores da seara acerca dos objetivos de sua adesão aos serviços de esclarecimento e edificação moral. Muitos discípulos, mais desatentos e mal informados que infiéis, têm procurado o serviço espírita imbuídos de elevadas expectativas de vantagens pessoais embaladas por sonhos de imediatismo e facilidades. Recorrem aos centros espíritas à cata de soluções fáceis e raramente se comprometem com a essência do "Espiritismo por dentro". Demonstram boa vontade e generosidade, todavia, em muitas ocasiões, as próprias organizações doutrinárias não lhes orientam coerentemente para serem eles próprios a solução de suas vidas, através do trabalho transformador em busca da felicidade individual."

"Expressiva parcela dos aprendizes do Consolador acostumam-se assim a verem nas tarefas um pesado ônus que assumem como se estivessem resgatando extensos débitos na busca da felicidade, deixando de efetuar a educação de si mesmos nas tarefas de amor e estudo. Passam anos ou a própria existência nessa condição do "Espiritismo por fora", entregues a posturas pudicas sem renovarem o sentimento, evitando o mal mas nem sempre com desejo real de afastar-se dele, entrincheirando-se nos labores da caridade como quem paga extensa conta com o próximo, mas nem sempre exercitando os sentimentos nobres com os quais faria sua redenção pessoal."

"Procuram, quase sempre, folga e facilidade, quando o serviço do Cristo se opera exatamente na direção oposta."

"Depois desencarnam à espera de louros que não fizeram realmente por merecer, porque plantaram o bem no próximo e nem sempre cultivaram o bem a si mesmos."

"Levemos ao plano físico conceitos mais lúcidos sobre o que seja a felicidade para não se confundirem em ilusões fascinantes ou teorias doutrinárias mal interpretadas."

"Felicidade é o estado de satisfação existencial, uma questão toda interior e definitiva, bem diferente dos momentos fugazes de bem-estar e alegria que podem ser auferidos por empréstimo através do amparo espiritual, das genuflexões e da fluidoterapia espírita."

"Se algo podemos acrescer aos amigos domiciliados na carne, será apontar o conhecimento de si mesmo como roteiro de equilíbrio e caminho para a tão almejada felicidade, a fim de assumirem "o bom combate" no enfrentamento íntimo."

"Os Sábios Guias da Verdade já registraram que a felicidade dos Espíritos Superiores consiste em conhecerem todas as coisas"(3).

"Saber o que se passa conosco, entender as causas de nossas reações, mergulhar nos motivos de nossas afinidades e antipatias, pesquisar as origens de nossas tendências e pendores, conhecer as raízes das emoções e pensamentos indesejáveis são conquistas interiores, fonte imensurável de realização pessoal."  

"Definitivamente fica claro que ser feliz é uma questão de interiorização, uma investigação perseverante sobre a bagagem integral do espírito. Essa viagem interior permitirá resgatar, paulatinamente, o reencontro com a "Centelha Divina", o Pai que foi "abandonado" pelo Filho Pródigo, a parcela "imaculada" de Deus no íntimo. Esse passo será um laborioso trabalho de "dissolver" os escombros morais sob os quais encontram-se soterrados, há milênios, os valores espirituais em razão da tragédia da "orfandade escolhida", ou seja, a infeliz escolha de abandonar a segurança da plenitude, em comunhão com as Leis Divinas, pela opção da "liberdade" para construir o caminho da insatisfação e da insaciedade através do egoísmo."

"A exemplo do Filho Pródigo do Evangelho, o homem está escravizado pela insegurança perturbadora causando-lhe dores inconsoláveis e sentimentos de revolta, desamor e tristeza que nascem do reflexo cruel do personalismo viciado."

"Nesse trajeto de distanciamento da "luz paternal" nasceu o maior inimigo de todos nós, o orgulho, como sendo saliente sentimento de superioridade que nos vimos obrigados a gestar para "encenarmos" a segurança que perdemos por "desligarmos" do Pai. Sentimento esse que nos transportou a todo tipo de arbitrariedades nos domínios da ilusão, ampliando mais e mais nossa frustração e desajuste consciencial."

"A retomada desse processo exigirá o compromisso de operar incansavelmente nas faixas da renovação interior em favor de "novos padrões de existir e de ser", tornando-nos merecedores dos júbilos da alma perante a vida."

"Até agora o que compreendemos por felicidade, quase sempre, tem sido o resultado da Misericórdia Divina, que nunca nos desampara em nome do amor, oferecendo-nos recursos que "não merecemos", a fim de que tenhamos as condições mínimas para palmilhar o caminho das conquistas interiores na busca da felicidade merecida, que ninguém poderá nos retirar no futuro glorioso que nos espera a todos."

"A advertência inesquecível de Jesus, Mestre e profundo conhecedor da psicologia humana, assinalou que o Reino de Deus não surgiria com aparências exteriores; e esse estado íntimo assinalado é o reinado da paz, decorrente das almas felizes que se fizeram "escolhidas" para serem filhos pródigos de retorno à Casa Paternal."

"Essa ensancha de optar e renovar os caminhos nessa direção está entregue a cada um de nós, recordando que o simples fato de renascer no corpo físico é indício certo de que Deus abriu "Seus braços" para nós, os filhos infiéis, e nos disse: "Porque este meu filho estava morto, e reviveu, tinha-se perdido, e foi achado. E começaram a alegrar-se"(4).

"Nossa tarefa será levar aos irmãos iluminados pela Doutrina da imortalidade que é preciso vencer as aparências e exterioridades, vigiar as decisões para não permitir o equívoco de procurar a felicidade nas questões efêmeras, repetindo velhas atitudes de religiosidade estéril em comportamentos moralistas e autoritários com os quais acredita-se possuir o reino dos céus."

"Confirmemos, em nome da caridade que pede a sinceridade, que o joio da atitude pernóstica e arrogante tem rondado a sementeira do Cristo com ares de trigo vicejante..."

"Os túmulos caiados, da passagem do Evangelho, estão ressurgindo em nossa obra de amor... Ressurgem nas fileiras da caridade espírita na condição daqueles que acreditam estar com suas questões espirituais resolvidas tão somente em razão da refazente sensação de paz nos movimentos abençoados das doações, que, no entanto, se fortalecem a alma, não são suficientes para resolver seus problemas de consciência - única salvaguarda para a "morte feliz".

"Além de caridade e estudo, na forma como nossos companheiros terrenos têm compreendido, precisamos ensinar-lhes a cultivar ideais, a desenvolverem projetos de vida, a terem metas existenciais afinadas com a Proposta Educacional de Jesus e a entenderem com mais acerto o que é a humildade, para não cederem às injunções dolorosas da depressão e da desistência, tão comuns mesmo sob a tutela das tarefas doutrinárias. Conduzamo-los o quanto antes ao contato com as Verdades Evangélicas, estudadas com sensatez e fé racional, para sedimentarem uma esteira nova de motivações em todos os campos de sua vida."

"Levemos, portanto, ao plano físico, especialmente aos lidadores espíritas, a mensagem de que felicidade tem preço: o preço da renúncia e da abnegação de si mesmo em favor da efetiva implantação dos ideais renovadores no cérebro e no coração. A vitória sobre o nosso orgulho será o triunfo da paz nos rumos da humildade - sentimento de reconhecimento da real condição de Filhos Pródigos diante do universo."

"Enquanto muitos irmãos operosos e idealistas estão comparando-se a missionários dos tempos modernos, carecemos incutir-lhes nas nascentes do coração o sentimento de humildade no resgate da realidade da qual são portadores, que não ultrapassa a excelente condição de filhos arrependidos em busca de melhora e recuperação."

"A Proposta Educacional de Jesus utiliza-se da pedagogia do amor a Deus, ao próximo e a si mesmo. Sua didática está contida no ensino: aquele que quiser vir após mim, negue-se a si mesmo...(5)

"Portanto, amor e renúncia da personalidade exigente são nossos caminhos de libertação espiritual e resgate para a aquisição da condição de Filhos de Deus."

"Felicidade está amplamente vinculada ao merecimento, e merecimento é a Divina Concessão da Vida que responde aos nossos esforços no bem com maiores possibilidades para trabalhar e servir, aprender e amar, na conquista da harmonia interior que é o outro nome da felicidade."


l. Obra de amor fundada por Eurípedes Barsanulfo na vida espiritual.
2. Lc 17:20
3. O Livro dos Espíritos - Questão 967
4. Lc 15:24
5. Mt 16:24

terça-feira, 29 de outubro de 2019

Mereça Ser Feliz - Prefácio

Livro: Mereça Ser Feliz
Autora Espiritual: Ermance Dufaux


... "o Reino de Deus não vem com aparência exterior." Lc, 17:20

Estamos informados que todos merecemos a felicidade. Porém, nem todos possuímos na intimidade a crença de que a merecemos.

Para gozar do direito natural de ser feliz não basta simplesmente cumprir com algumas receitas de conduta, como se fossem fórmulas prontas para êxito imediato. Merecimento é um estado afetivo a ser conquistado, um sentimento sem o qual permanecemos reféns da tirania da culpa e do medo. Merecimento é a liberdade conferida pela consciência para o florescimento de elevados recursos interiores; é resultante do esforço de aperfeiçoamento espiritual, constituindo vigoroso campo de atração para o recolhimento da "boa parte" da vida; é o estado íntimo que só começaremos a sintonizar quando passarmos a ouvir a sublime melodia da consciência em substituição ao valor que damos à gritaria do ego.

As concepções humanas, quase sempre, interpretam felicidade como sorte ou "escolha divina" buscando-a através de "fórmulas mágicas" de imediatismo. Diante desse quadro, torna-se imperiosa a necessidade de redefinir seu conceito à luz da espiritualidade, estudando os caminhos para readquirirmos a condição de paz da qual deliberadamente nos afastamos em milênios de experiências no terreno das aparências insufladas pelo orgulho. Prepondera na Terra uma falsa noção de felicidade através da satisfação de carências estimuladas pelas ilusões da vida moderna, enquanto felicidade é conquista de valores inalienáveis e realização existencial. Não basta viver, temos que existir, ser. A auto-realização legítima nem sempre é aquilo que desejamos para nossas vidas. A cultura humana de ajustar anseios pessoais aos padrões coletivos da sociedade tem constituído campo de revolta e desânimo para muitas criaturas.

O oposto da felicidade não é a tristeza, é a insatisfação. A insatisfação humana ocorre porque as criaturas estão vivendo, mas não sabem existir. A tristeza é emoção, pode ser passageira; todavia a insatisfação é estado, resultado de uma enorme sequência de insucessos, más escolhas que levam o homem a sucumbir e vagar nos caminhos da "porta larga" sob os convites das futilidades mundanas.

O importante é ser, existir, plenificar-se para passarmos pela vida sem deixar que ela passe por nós, ser "proprietários do destino", merecer a liberdade. Entretanto, para nós, os calcetas das reencarnações, essa alforria tem um preço: a educação nos roteiros do amor.

À luz da sabedoria espiritual, satisfação individual decorre da plena identificação com as linhas mestras do projeto reencarnatório que antecede o retorno do Espírito ao corpo físico, cujo objetivo prioritário é colocá-lo em melhores condições ante o infalível tribunal da consciência. Portanto, ser feliz é uma questão de afinar as atitudes e sentimentos com esse "plano de espiritualização", somente possível pelo "reencontro" com a Verdade sobre nós mesmos. Esse reencontro com o "Eu Divino" é o resgate da consciência lúcida, é a conscientização, é o preço que se paga para ser feliz.

O centro espírita, nesse panorama social de deseducação para a conquista da plenitude, tem um relevante papel por ensejar um entendimento mais amplo sobre como efetuar esse reencontro conosco próprio, em regime de paz e esperança.

Especialmente os espíritas, depositários do inesgotável tesouro do Espiritismo, carecem avaliar com urgência e humildade os assuntos aqui considerados, tendo em vista o número cada vez maior de corações afins no ideal que carregam para cá, na vida extrafísica, exageradas expectativas de salvação e elevação em razão de movimentações de superfície nos compromissos junto à abençoada seara espiritista. E, para aqueles outros que realmente se comprometeram com a mudança de si mesmos, nossas análises podem lhes abrir uma visão mais ampla dos mecanismos sutis da vida íntima, favorecendo o domínio sobre "forças ignoradas" na direção da harmonia definitiva.

Um desafio urgente nos espera nas tarefas de amor às quais nos matriculamos em serviço pela felicidade alheia: descobrir como operar também a nossa felicidade pessoal para que o desânimo e as distrações do caminho não nos enganem com os apelos de deserção e cansaço - atitudes comuns em servidores valorosos, porém, invigilantes e menos abnegados.

Apesar da lógica dos conhecimentos espíritas, muitos corações idealistas e generosos, iludidos por si mesmos, optam por suporem-se grandiosos e livres do laborioso dever da renovação de suas atitudes somente porque adornam-se com títulos, que causam a sensação de "evolução realizada" tais como os médiuns, doutrinadores, palestrantes, dirigentes, escritores e tarefeiros de diversos gêneros.

O objetivo da obra Mereça ser Feliz, prosseguindo a série Harmonia Interior, é ajudar a pensar alguns caminhos para esse auto-enfrentamento. Nada mais fizemos que oferecer reflexões para incursões no desconhecido mundo de nós próprios. Enfoques diferentes para velhos temas morais no intuito de facilitar o entendimento e avaliação que, habitualmente, assinalamos distante e fora de nós. Nossos enfoques nada possuem de definitivos ou conclusivos. O debate saudável e as investigações sérias, entre todos aqueles que almejam a melhoria espiritual, poderão acrescer-lhes vastos horizontes de entendimento.

Portanto, nossa esperança repousa, tão somente, em oferecer aos amigos reencarnados uma pequenina fresta pela qual se possa vislumbrar um pouco mais sobre a realidade evolutiva eivada de necessidades das quais ainda somos portadores. Sem nos darmos conta da extensão dessa realidade, continuaremos iludidos sob a hipnose do orgulho, acreditando em virtudes que ainda não conquistamos, acalentando anseios e júbilos dos quais ainda não nos fizemos credores, vindo a tombar, após a morte, no reino da decepção e do queixume tão pertinentes àqueles que vislumbram as verdades espíritas, mas que esperam mais do que merecem na imortalidade.

Por que esperar a morte para enxergar e mudar o que se pode e deve ser burilado em plena romagem terrena? Por que esperar a vida espiritual para olhar no espelho da consciência e mirar a autêntica criatura que não se quer perceber na intimidade?

As anotações desse volume despretensioso foram inspiradas num curso de vinte dias que realizamos no Hospital Esperança (1), sob a direção de Eurípedes Barsanulfo. O amado benfeitor, utilizando-se do versículo acima, reuniu uma centena de almas que cooperam ativamente no labor da psicografia junto ao movimento espírita, concedendo-nos a alegria de compartilhar de sua venerável bagagem em admiráveis e inesquecíveis lições de vida, enfocando o orgulho como o principal obstáculo para a aquisição do contentamento eterno e da paz íntima. O benfeitor fez inspiradas análises sobre suas causas, seus efeitos e conduziu sempre nossos raciocínios e sentimentos ao imperativo da humildade como quesito primordial para a instauração do Reino de Deus no altar íntimo da consciência.

Fazemos um caminho de volta ao Pai. Somos os "Filhos Pródigos" que constroem sendas de libertação e aprimoramento, sendo exigido muito esforço e vontade nesse doloroso retorno. Entretanto nunca desistamos de ser feliz. Fomos criados para esse Alvo Divino. Acreditemos e sigamos com a certeza que pagar o preço do sacrifício pelo triunfo da paz interior é fonte de luz em qualquer tempo da vida.

Indubitavelmente, a sábia colocação de Jesus ao destacar o Reinado de Deus distante das aparências exteriores é, sobretudo, oportuna indicação inclinando-nos a deduzir que de ninguém dependemos para alcançarmos a plenitude da felicidade, a não ser de nós próprios.

Trabalhemos com afinco por merecê-la e façamos o bem pelo próximo, mas, igualmente, o façamos em nosso favor aprendendo a ser boas companhias para nós mesmos através de uma convivência pacífica e gratificante.

Lutemos pela nossa felicidade, mesmo que, por enquanto, no quadro escuro das provas, ser feliz seja apenas viver um pouco melhor hoje do que ontem.

Esperançosa em ter contribuído palidamente para vê-los felizes, desejamos aos nossos leitores e amigos votos de paz e bom proveito em nossas singelas reflexões.

Ermance Dufaux
11 de fevereiro de 2002


1. Obra de amor fundada por Eurípedes Barsanulfo na vida espiritual.

Nota do médium:
Durante o período de psicografia dessa obra, a autora espiritual citou inúmeras vezes o estudo realizado por Allan Kardec como título "O Egoísmo e o Orgulho" em "Obras Póstumas", primeira parte. Segundo Ermance Dufaux, é uma das mais completas abordagens sobre o tema em toda a literatura espírita até o presente momento. Compartilhamos esta informação no intuito de oferecer mais subsídios em torno do tema desenvolvido em Mereça ser Feliz.

terça-feira, 6 de agosto de 2019

Mereça Ser Feliz - Apresentação

Livro: Mereça Ser Feliz
Autora Espiritual: Ermance Dufaux

APRESENTAÇÃO


"É necessário que ele cresça e que eu diminua."
João Batista - Jo 3:30


Não tenho o que se poderia chamar de uma linguagem estética e coerente com a beleza e a harmonia da obra Mereça ser Feliz. Porém, minha identidade com o coração de Ermance Dufaux, seu trabalho no Hospital Esperança (1) e seu amor pela causa que nos une leva-me a arriscar algumas frases singelas de estímulo.

O orgulho é grave doença espiritual que afeta a mente em severos quadros de desequilíbrio. Vencer essa perigosa "bactéria da alma" significa desiludir da falsa imagem que criamos para que nos sintamos importantes na vida. Essa necessidade surge do profundo sentimento de inutilidade que a maioria dos espíritos têm agasalhado em seus corações atrelados à esfera da Terra. Baixa estima a si mesmo e insatisfação são suas manifestações costumeiras.

Os enfoques deste livro são vigoroso receituário moral para a erradicação da doença do orgulho e, ao mesmo tempo, um tratado para a busca da felicidade, que só começará a despontar quando tivermos a coragem de apedrejar os espelhos da ilusão e quebrar as imagens fictícias de nós mesmos, mirando o espelho da realidade no resgate do "eu divino" e exuberante ao qual todos nos destinamos ser.

Severo desafio aguarda os espíritas!


O movimento humano em torno das idéias doutrinárias edificou formalidades que adulam a vaidade pessoal e enaltece as vitórias institucionais. E o pior é que estão se acostumando com isso. Nessa miragem, o amor e a espontaneidade têm sido relegados a pretexto de atender protocolos de pureza filosófica, entravando lamentavelmente as riquezas da alma em detrimento de padrões que mais apontam para a vaidade que para a Verdade.

Doa a quem doer, mas hoje temos que admitir: existe um "espiritismo dos homens" e o Espiritismo do Cristo. E nem sempre eles se encontram na mesma direção!!!

A prova disso está nos inúmeros e lamentáveis casos que atendemos no Hospital Esperança, onde amigos queridos de ideal, que muito amamos, sofrem dolorosas crises de prepotência, atestando crises agudas de insanidade e arrependimento tardio depois de longas peregrinações nos vales do poder e da angústia...

Amigos que deveriam chegar aqui para trabalhar e servir em nossas leiras, mas que chegam cansados e doentes, tristes e culpados...

Quando os princípios religiosos são mais importantes do que os sentimentos, a fraternidade não tem vez e a fé é submetida aos roteiros do imediatismo nas cerimônias exteriores, bem a gosto do ego, desvalorizando os ditames da consciência.

Em Mereça ser Feliz encontraremos diretrizes para inverter a ordem em nossos programas no bem junto à lavoura espírita, caso tenhamos, de fato, suficiente humildade para aceitarmos quem somos verdadeiramente e decidirmos por interromper as fantasias de grandeza e elevação que, por enquanto, ainda não são conquistas definitivas de nossas almas.

Ao optarmos por sermos um pouco menores, diminuindo para que o Cristo cresça em nós, também optamos pela felicidade.

Da servidora de Jesus Cristo e trabalhadora da causa do amor e do bem,

Maria Modesto Cravo (2)
29 de março de 2002

1. Obra de amor fundada por Eurípedes Barsanulfo na vida espiritual.

2. Maria Modesto Cravo
Nasceu em Uberaba a 16 de abril de 1899 e desencarnou em Belo Horizonte a 08 de agosto de 1964. Uma das pioneiras do Espiritismo em Uberaba, atuou com devotamento junto ao "Centro Espírita Uberabense" e ao "Lar Espírita". Médium de excelentes qualidades, trabalhadora incansável do amor ao próximo e mulher de muitas virtudes, Dona Modesta, como era conhecida, foi a fundadora do "Sanatório Espírita de Uberaba" voltado para tratamento dos transtornos mentais, inaugurado em 31/12/1933 e em plena atividade até hoje. Foi nessa casa de amor que se tornou conhecido o valoroso companheiro Dr. Inácio Ferreira, médico psiquiatra e um baluarte do bem.

terça-feira, 28 de maio de 2019

Pérola de Deus

Livro: Mereça Ser Feliz
Autora Espiritual: Ermance Dufaux


A pérola, uma das mais belas jóias naturais, é formada a partir do instante em que as ostras são agredidas por algum agente externo e liberam uma substância chamada nácar, cujo objetivo é envolver aquele elemento agressor e protegê-las. O acúmulo de várias camadas de nácar em movimentos concêntricos forma a pérola depois de algum tempo.

A felicidade é como a pérola que se forma dentro da ostra: nasce dos embates de cada dia no esforço da transformação no reino do sentimento.

Portanto, mesmo com os problemas e dificuldades, não desanime ou interrompa teus ideais de espiritualização. A seu tempo, perceberás um clarão reluzente na tua intimidade refletindo a riqueza e a sabedoria do Pai, que servirão para embelezar a vida e fazer-te mensageiro da paz em ti mesmo. E a pérola da alegria definitiva.

Ser feliz é estar bem consigo e com o mundo. E deixar a pérola da alegria luzir para tudo que vibra à tua volta. Ser feliz é desconhecer barreiras, porque a felicidade anda de mãos dadas com a fé. Ser feliz! Quanto significa essa expressão!

Abra-te para a vida sem medo ou culpa, acredite no futuro, trabalhe e sirva, ame e perdoe. Inevitavelmente serás respondido pelas leis que conspiram a favor de teu progresso e ascensão.

Prossiga confiante na conquista de ti próprio e guarda a inabalável certeza que foste criado por Deus para ser feliz na condição de "ostra da Terra" e pérola de Sua Criação.

Ermance Dufaux