quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Sexualidade e Hipnose Coletiva

Reforma Íntima Sem Martírio - Capítulo 7


"O dever primordial da vida de toda criatura humana, o primeiro ato que deve assinalar a sua volta à vida ativa de cada dia, é a prece. Quase todos vós orais, mas quão poucos são os que sabem orar!"

O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo 27 – Item 22

"Intenso desejo acompanha a humanidade em todos os tempos: ser feliz. Entretanto, um incômodo sentimento de impotência aprisiona o homem na realização desse projeto, ou seja, a ignorância sobre como trabalhar por sua felicidade. Como vencer esse abismo que se abre entre a necessidade de paz interior e as grandes lutas que se apresentam a cada dia, afastando-o cada vez mais desse ideal?

Desorientada pelo cansaço de não encontrar respostas lúcidas e satisfatórias para sua meta de júbilo e harmonia, a maioria das criaturas rendem-se às propostas humanas de prazer como sendo a alternativa que mais fácil e rapidamente lhe permite obter alguma gratificação, ainda que passageira.

Forma-se assim, pelo mecanismo mental da reflexão automática, um processo coletivo de hipnose sob o jugo da ilusão e da mentira consentidas, escravizando bilhões de almas no atoleiro dos vícios comportamentais de variados matizes.

Reflexão automática é o hábito de consumir pensamentos, estabelecendo uma rotina mental, sem utilização da consciência crítica, um processo que funciona por estimulação condicionada, sem a participação ativa da vontade e da inteligência, interligando todas as mentes em todas as esferas de vida. Indução, sugestão e assimilação são operações psíquicas que respondem por esse quadro que, em sã análise, constitui uma grave questão social. Fenômenos telepáticos e mediúnicos formam a radiografia básica desse ecossistema psíquico. Patologias mentais e orgânicas, obsessões e auto-obsessões surgem nesse cenário compondo a psicosfera de bairros e cidades, estados e países, continentes e mundos.

Composta de aproximadamente 30 bilhões de almas, a população geral da Terra tem hoje um contingente de pouco mais de 1/6 de sua totalidade no corpo carnal. Considere-se que nessa extensa e vigorosa teia de ondas, mesmo esses 5/6 de criaturas fora da matéria têm como centro de interesse o planeta das provas e expiações terrenas, influindo, sobremaneira, na economia psíquica da humanidade em perfeito regime de troca, determinando, mais do que se imagina, os rumos coletivos e individuais na dignidade ou na leviandade de propósitos, na paz ou no conflito armado.

Convém-nos, nesse contexto, em favor da reeducação de nossos potenciais, refletir com seriedade sobre um dos mais delicados temas da atualidade: a sexualidade.

Naturalmente, a mentira destruiu esse campo sagrado das conquistas humanas com lastimável epidemia de imitação decorrente da massificação. A palavra mentira vem do latim e, entre seus vários significados, extraímos esse: inventar, imaginar. Sob expressiva influência da mídia eletrônica, o sexo em desalinho moral obteve requintes de inferioridade e desvalor por meio de tolas invenções do relaxamento moral. Depois da televisão, a internet, propiciou ainda mais estímulos para a devassidão em domicilio, preenchendo o vazio dos solitários de imagens degradantes de perversidade pela pornografia sem valores éticos.

Os costumes no lar, já que boa parcela dos educadores perdeu a noção de limite, avançam para uma derrocada nos hábitos a pretexto de modernização. Diante da beleza corporal, os pais, ao invés de ensinarem responsabilidade e pudor, quase sempre excitam a sensualidade precoce e a banalização, porque se encontram também escravos de referências de conduta, conquanto o desejo de não verem os filhos desorientados. Amargam elevada soma de conflitos pessoais não solucionados que interferem na sua tarefa educacional com a prole.

Nesse clima social, os delitos do afeto e do sexo continuam fazendo vítimas e gerando dor. Telepatias deprimentes e vinculações mediúnicas exploradoras formam o ambiente astral de várias localidades, expelindo energias entorpecedoras e hipnóticas, abalando o raciocínio e instigando os instintos animalescos, aos quais a maioria de nós ainda se encontra jungida.

O desafio ético de usar o sexo com responsabilidade continua sendo superado por poucos que se dispõem ao sacrifício de vencer a si mesmos, dentro de uma proposta de profundidade nos terrenos da alma.

A força das estimulações exteriores compromete os propósitos sinceros mesmo daqueles que acalentam os ideais renovadores, exigindo do candidato à autotransformação um esforço hercúleo para atingir suas nobres metas.

A força sexual é comparável a uma represa gigantesca que, para ter seu potencial utilizado para o progresso, carece de uma usina controladora, a fim de drenar a água em proporções adequadas, evitando inundações e desastres de toda espécie nos domínios do seu curso. Se a energia criadora não for disciplinada pelas comportas da contenção, da fidelidade e do amor fraternal, dificilmente tal força da alma será dirigida para fins de crescimento e libertação.

Nesses dias tormentosos, o sexo ganha o apoio da mídia na criação de ilusões de espectros sombrios sob a análise ético-comportamental. A mentira do "amor sexual" condicionado à felicidade é uma hipnose coletiva na humanidade, gerando um lamentável desvio da saúde e alimentando as miragens da posse nas relações, fazendo com que os relacionamentos, carentes de segurança e da fonte viva da alegria, possam se chafurdar em provas dolorosas no campo do ciúme e da inveja, da dependência e do desrespeito, da infidelidade e da crueldade – algumas das vielas de fuga pelas quais percorrem os encontros e desencontros entre casais e famílias.

Diante isso, um turbilhão energético provido de vida e movimento permeia por toda a psicosfera do orbe. Qual se fosse uma serpente sedutora criada pelas emanações primitivas, resulta das atitudes perante a sexualidade entre todas as comunidades. Semelhante a um enxame epidérmico e contagiante, essas aglomerações fluídicas são absorvidas e alimentadas em regime de troca pelas esferas vivas do grande ecossistema da psicosfera terrena.

A defesa da vida interior requer mais que contenção de impulsos. Muito além disso, faz-se urgente aprender o exercício do bem gerando novos reflexos pela consolidação de interesses elevados no reino do espírito. Decerto a disciplina dos instintos será necessária, mas somente o desenvolvimento de valores morais sólidos promover-nos-á a outros estágios de crescimento nas questões da sexualidade. A esse respeito compete-nos ponderar a postura que adotamos ante a maior fonte de apelos da energia erótica, o corpo físico. Que sentimentos e pensamentos devem nortear o cosmo mental na relação diária com o corpo? Como adquirir uma visão enobrecida do instrumento carnal? Como olhar para o templo sagrado do corpo alheio e experimentar emoções enriquecedoras? Como impedir a rotina dos pensamentos que nos inclinam à vaidade e à lascívia ante os estímulos da estética corporal?

Zelo e cuidados necessários com o templo físico em nada podem nos prejudicar, contudo o problema surge nos sentimentos que nos permitimos perante as atrações físicas. Esmagadora parcela das almas reencarnadas adota atitudes pouco construtivas nesse tema. Além dos estímulos pujantes dos traços anatômicos, o corpo é dotado de elementos magnéticos irradiadores com intensa força de impulsão. Quando acrescido da simples intenção de atrair e chamar a atenção para si mesmo, essa impulsão assemelha-se a filamentos sutis, similares a tentáculos aprisionantes expelidos pela criatura na direção daquele ou daqueles a quem deseja causar admiração, tornando-se uma passarela de atrações que lhe custará um ônus para a saúde e o equilíbrio emocional.

Tudo se resume à lei universal da sintonia. Veremos o corpo conforme o que trazemos na intimidade. Sabemos, todavia, à luz da visão imortalista, que além do corpo carnal, a ele se encontra integrado o ser espiritual, repleto de valores e vivências que transcendem os limites sensoriais da matéria. Aprender a identificar-nos com essa essencialidade é o caminho para a reeducação das tendências eróticas. Torna-se imprescindível vivermos o "estado de oração", aprendendo a sondar o que existe para além do que os olhos podem divisar. Saint-Exupéry afirmou: "o essencial é invisível aos olhos", e quando V. Monod recomenda, na frase acima transcrita, que a prece seja o primeiro ato do dia, é porque estamos retomando o contato com o corpo após uma noite de emancipação. É o preparo para que consigamos nos elevar acima das sensações e permitir a fluência dos sentimentos nobres, antes mesmo de ingressarmos no vigoroso ímã da convivência pública. É o estado da mente alerta que vai nos ensejar "olhos de ver".

Aprender a captar a essencialidade do outro é perceber os eflúvios da sua alma, seus medos, suas dores, seus valores, suas vibrações e necessidades. É ir além do perceptível e encontrar o mundo subjetivo do próximo sentindo-o integralmente. O resultado será a sublimação de nossos sentimentos pela lei de correspondência vibracional, atraindo forças que vão conspirar em favor de nossos objetivos de ascensão.

Assim como preparamos o corpo para o despertamento, igualmente devemos nos lançar ao preparo espiritual para retomar as refregas do dia. A essa atitude chamamos de interrupção do fluxo condicionado da vida mental. É adentrar na teia de correntes etéreas para não se contaminar nem ser sugestionado pela força atrativa desse mar de vibrações pestilenciais de ambientes coletivos.

Esse estado de oração é a alma sintonizada com o melhor de todos, condição interior que requer, por enquanto, muita vigilância e oração de todos nós para ser atingida. Quem ora, recolhe auxílio para os interesses elevados. Quem ora, toma contato com o Deus interno, ativando a expansão da consciência, desatando energias de alto poder construtivo e libertador sobre todos os corpos físicos e espirituais e na psicosfera ambiente. A vida conspira com os propósitos do bem, basta que nos devotemos a eles.

Estabelecido esse estado interior de dignificação espiritual, o próximo passo é lançar-se ao esforço reeducativo na transformação dos hábitos. O tempo responderá com salutares benefícios interiores de paz, com o psiquismo livre das energias enfermiças da hipnose coletiva do despudor e da lascívia, tornando a mente acessível ao trânsito das inspirações e ideias saudáveis em clima de plenitude.

Portanto, inscrevamo-nos nesse curso diário da oração preparatória tão logo despertos do sono físico. Faça seus cuidados fisiológicos para o despertamento sensorial, após o que amplie os cuidados com o Espírito. A oração desperta forças ignoradas que serão farta fonte de manutenção do estado de paz que carecemos ante a empreitada sobre o dinâmico mundo das percepções e dos estímulos. Somente dessa forma iluminaremos nossos olhos para que tenhamos luz na visão do mundo que nos cerca, e segundo o Divino Condutor, "...se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz"(1)."

1. Mateus, 6:22.

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