sexta-feira, 19 de maio de 2017

Meditação: Cuidando da Criança Interior

Livro: Escutando Sentimentos
Capítulo 16


"Jesus, chamando a si um menino, o colocou no meio deles e respondeu: Digo-vos, em verdade, que, se não vos converterdes e tornardes quais crianças, não entrareis no reino dos céus."

O Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 7 - Item 3

Na formação do homem novo, temos de fazer renascer a criança que deixamos no tempo... Escutar seus sentimentos.

Todos temos uma "criança interior", um estado natural de pureza que as vivências milenares no egoísmo soterraram sob os escombros dos desatinos morais.

O Sábio Judeu ensina-nos que o reino de paz pretendido por todos nós depende de recuperarmos essa condição psicológica, que ainda sobrevive em nossa intimidade amordaçada e ferida. Se não vos converterdes e tornardes quais crianças, não entrareis no reino dos céus.

Por que teria Jesus colocado um menino em meio aos aprendizes para significar a maioridade? Que valores possuem as crianças que serviram de base para esse ensinamento do Mestre?

A didática aplicada de Jesus é sublime advertência para nós todos que nos matriculamos nas lições do Consolador.

As crianças são fantásticas nas relações por não nutrirem expectativas na convivência, desobrigando-se de cobranças, ofensas, insatisfações e aborrecimentos.

Aceitar homens como são e respeitar-lhes a caminhada é medida salutar de paz. Aceitar-se como se é sem condenações estéreis e críticas impiedosas é a base de uma vida saudável.

A parcela psíquica de pureza adormecida que trazemos na alma solicita tratamento para manifestar-se em sensações de bem-estar, desprendimento e amor.

Imperioso resgatar essa luz das emoções nobres. São instintos e sabedoria que dormitam na sombra interior. Vamos conhecê-los?

Inspirados no renomado poeta português, Fernando Pessoa, tomaremos emprestada a estrofe de um de seus mais belos poemas intitulado A Criança que Fui Chora na Estrada. Diz o poeta:

A criança que fui chora na estrada.

Deixei-a ali quando vim ser quem sou;

Mas hoje, vendo que o que sou é nada,

Quero ir buscar quem fui onde ficou.

***

Acomode-se da melhor forma. Observe as orientações básicas para meditar: local, silêncio, horário...

Pega uma foto de tua infância. A predileta. Aquela que te lembra dos momentos de alegria. Não possuindo a foto, recorda tua infância. Deixa as lembranças despontarem.

Vamos iniciar nossa viagem.

Estás dentro de um grande teatro. Estás sozinho e assentado. Olhas para a cortina fechada no palco aguardando o espetáculo.

Olha o palco e sinta-te em paz contigo. O espetáculo começa e as imagens da tua infância surgem ininterruptas. Tua primeira escola, as festas de aniversário, os brinquedos prediletos, as histórias contadas pelos avós, as professoras abençoadas, o carinho dos amigos, as diversões.

Pouca luz no ambiente, mas suficiente para te dirigires até o véu que te separa do bastidor. Vá até lá, pois vamos nos preparar para abrir esse véu. Atrás dele encontra se tua sombra, teu mundo desconhecido.

Prepara-te; ao contar até três, tu vais abrir o véu com coragem. Um, dois... Três! Vá! Abre a cortina serenamente.

Sombra. Luz nenhuma, nenhuma luz. Escuridão. Onde estou meu Deus?!

Para. Acalma-te. Tu estás em ti mesmo, não há por que temer. Tua sombra é criação de tua história evolutiva. Tem calma. Respira fundo e sente-te seguro. Repete por três vezes: Eu estou seguro! Eu estou bem!

Agora vê! Tudo escuro, mas tu sabes que podes enxergar. Enxergar com os olhos da alma. Escuta as vozes de ti mesmo! Escuta. Ouve por um instante as vozes interiores.

Repentinamente, em meio aos muitos sons, um choro te chama atenção. É um choro de criança. Um choro de medo, baixinho, gostoso de ouvir e ao mesmo tempo preocupante, inspirador de piedade.

Quem será? Não posso ver! Acalma-te! Recompõe-te interiormente e caminha na tua sombra. Tu vais encontrar quem chora.

Segue a intuição, teus instintos!

Lá está! É uma criança. Mentaliza tua criança interior.

Agora chega bem pertinho, mas vai devagar para não assustá-la. Coloca-te intimamente com desejo de acolhimento e bondade.

Olha a criança. Tu mesmo em tempos idos. Pequeno. Grandioso. Entretanto, com medo. Vê como a criança tem medo de ti mesmo. Olhos esbugalhados. Cabelos despenteados. Faltam alguns cuidados à criança. Observa por instante. Sente-a. Evita tocá-la.

Agora, ao contar três, oferece tua mão com o melhor sentimento de teu coração. Prepara-te. Um, dois... Três. Estende a mão. Mãozinha macia, dedinhos curtos. Medo de tocar.

Com muito receio, o pequerrucho aceita.

Agora lhe diz: Vamos caminhar? Venha! Quero-o bem. Muito bem!

A criança que fui chora na estrada.

Deixei-a ali quando vim ser quem sou;

Mas hoje, vendo que o que sou é nada,

Quero ir buscar quem fui onde ficou.

Olá, minha criança! Vim buscar quem fui, onde ficou. Que bom te reencontrar, pois sei que um dia deixei-te na estrada para ser quem sou. Voltei agora para te buscar. Perdoe-me por te abandonar. Enquanto choravas, eu dormia o sono das conquistas passageiras. Agora estou desperto, vim te buscar.

Não te assustes comigo. Eu não te deixei porque desejava. Não soube como fazer. Agora retorno a te buscar. Te aceito como és, incondicionalmente. Tu não és má porque tem imperfeições. Tu apenas tens imperfeições. Depois de tanto tempo, descobri que não sou capaz de viver sem teu poder.

Quero brincar, pular e ser feliz. Vem, ajuda com tua bondade. Ajuda-me com tua criatividade e espontaneidade.

Ah! Minha criança de luz, como te amo! Como quero te amar! Que vontade de sentir a tua espontaneidade, tua riqueza.

Agora pergunta: Queres passear comigo por este mundo de sombras? Ele balança a cabeça como uma criança ridente ao se lhe ofertar uma guloseima.

Faz teu passeio. Conversa com o menino. "Deixar vir a mim as criancinhas, deles é o reino dos céus"... Ouve teus sentimentos.

Agora, cuida de tua criança, arruma-a, porque tu vais levá-la ao palco. Diz a ela que lhe apresentará seu mundo real.

Arruma-a.

Vamos nos preparar para concluir a viagem interior. Ao contar três, tu vais passar de volta pela cortina e levar tua criança ao palco. Quando lá chegar, todas as pessoas da tua vida estarão assentadas nas cadeiras, aguardando para conhecê-la. Tu vais (sem sair do palco) apontar cada pessoa e falar quem é para tua criança. Vamos lá. Um, dois... Três.

Apresenta tua criança ao teu mundo exterior!

Agora vamos saudar tua criança. Todos se levantam naquele palco e batem palmas. Muitas palmas de amor para tua criança.

O menino corre para ti e te abraça emocionado, feliz. Ele reconhece teu amor.

Eu sou pureza! Eu sou luz! Há pureza em meu coração! A vida é presente em mim!

Uma voz altissonante desce do alto: Digo-vos, em verdade, que, se não vos converterdes e tornardes quais crianças, não entrareis no reino dos céus.

Mas hoje, vendo que o que sou é nada,

Quero ir buscar quem fui onde ficou.

Eu sou confiança! Eu sou pura energia, vitalidade! Meu corpo é abençoado com a energia das células infantis. Minha mente relaxa, meu ser expande-se em glória e sabedoria.

Louvemos na oração a benção desse momento de reencontro.

quinta-feira, 4 de maio de 2017

Cisão de Reino 2

Livro: Escutando Sentimentos
Capítulo 15

"Os Espíritos sofredores reclamam prece e estas lhes são proveitosas, porque, verificando que há quem neles pense, menos abandonados se sentem, menos infelizes. Entretanto, a prece tem sobre eles ação mais direta: reanima-os, incute-lhes o desejo de se elevarem pelo arrependimento e pela reparação e, possivelmente, desvia-lhes do mal o pensamento."

O Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 27 -Item 18


Após a prédica do instrutor Calderaro, atravessamos os portais do Hospital Esperança em direção a zonas abissais da Terra. Em certa etapa do caminho, abstemos da volitação por ser impossível exercê-la na psicosfera densa. Transpomos níveis muito "abaixo" dos umbrais terrenos. Muita escuridão e frio. Era uma região pantanosa com lagos que se formavam em vários pontos do trajeto. Vislumbramos uma luminosidade artificial a distância. Era a "cidade do poder".

Calderaro solicitou um instante e, utilizando seus poderes mentais, sondou o ambiente, enquanto todos os que o acompanhávamos permanecemos no apoio vibratório e na vigilância. Os odores e sensações eram desconfortáveis pela natureza das energias reinantes. Após um instante, manifestou o benfeitor:


- Ajoelhemo-nos meus irmãos, e deixemos que os incômodos das sensações sejam recebidos na nossa alma com amor. Na casa de meu Pai há muitas moradas! Aqui também é a Casa de Deus, que permite, aos Seus Filhos, a liberdade de se acomodarem conforme suas escolhas. Nutramo-nos de respeito e piedade para orarmos em conjunto.

Após a luz da oração feita por um dos integrantes, Calderaro solicitou-nos a armadura da coragem. O bando defensivo de irmão Ferreira, o "cangaceiro do Cristo", que estava aguardando-nos a chegada, veio em nossa direção orientando-nos sobre as condições locais.

Absteremos da narrativa sobre a operação socorrista por não harmonizar com o objetivo e o conjunto desta obra.

No retorno ao Hospital Esperança, após bem sucedido resgate, Calderaro reservou alguns minutos para as indagações dos dirigentes aprendizes sobre o que presenciaram.

- Esse estado perispiritual dos "vibriões" pode ser considerado uma "segunda- morte"?

- Eles se encontram a caminho da ovoidização. A "segunda- morte" é o resultado de longas incursões da alma em atitudes mentais de rebeldia e incontinência nos sentimentos. Nosso irmão assistido semeou a arrogância durante séculos nos solos sagrados de sua mente. Agora, colhe os frutos da inclemência e da loucura de seu procedimento. Teceu no tempo as condições psíquicas para a cisão de reino. Desorganizou suas matrizes do "molde mental", onde se encontram os alicerces do equilíbrio humano.


- Poderá renascer em corpo saudável?

- Raríssimos casos de "vibriões" apresentam condições para reencarnação imediata. A organização somática pode obedecer a fatores de ordem genética, caso haja vantagens motivacionais para o Espírito no seu aprendizado. Nenhuma Lei Natural, porém, permite intercessão junto ao dinamismo da vida mental, que retrata o conjunto de necessidades e conquistas da alma. Até mesmo a Misericórdia Celeste, que dispõe de recursos benditos para usar o cérebro como uma "comporta" reguladora das dosagens de matéria enfermiça para o corpo, em determinado "instante evolutivo" não pode impedir os desajustes nas substâncias neurotransmissoras. Surgem psicopatologias variadas. A doença mental é o regime expiatório de última instância para almas que se rebelaram contra os Chamados Divinos no transcorrer de longo tempo. Dessa forma, encontraremos inúmeros "vibriões" reencarnados em corpos saudáveis. Entretanto, não escapam das celas educativas da tormenta mental.

- Que tipos de doenças mentais?

- Desde o desconforto neurótico até as mais severas psicoses. Incluindo aquelas não classificadas oficialmente no Código Internacional das Doenças na sociedade terrestre. Há de se considerar que a base de tais provas da mente é o remorso. A noção clara que a alma adquire no intervalo das encarnações, sobre a gravidade de sua situação espiritual.

- Então já reencarnam com remorso?


- Uma soma grandiosa de Espíritos reencarnados na Terra encontra-se sob a sanção do remorso adquirido antes do renascimento. Experimentam "dores psicológicas" de variada natureza. Os "vibriões", quase sempre, carregam para a vida corporal trâmites dolorosos nas vivências da depressão, depois de exaustivas tentativas frustradas de reencarnação. Uma vez que partiriam para a desistência de querer viver até mesmo fora da matéria, alguns deles inclusive com dramas de auto-extermínio físico, agora regressam em busca da recuperação desse Valor Natural - o dom de existir como criatura humana, de lutar e querer viver.

- Por essa razão estão imóveis, como se não tivessem vida?

- No fundo, "optaram", evidentemente, sem consciência disso, pela "regressão" ao estágio do "não pensar", do "não ter que ser responsável". Não querem humanizar-se. Vivem, verdadeiramente, uma condição de "saudade inconsciente da animalidade". "Querem regredir". Tentam negar o que sentem, defendem-se do impulso doloroso da culpa e do instinto para o progresso. A isso denominamos cisão de reino. Para se alcançar esse patamar de enfermidade são necessários séculos de repetição e fuga.

- Mas não assevera a Codificação que o Espírito não retrograda na evolução? (1)


- Esse lance da evolução não significa retrocesso, mas uma tentativa de retrocesso. Jamais a alma deixará seu caminho natural de humanização depois de adquiridas as habilidades da razão. Na vida subjetiva do Ser, encontra-se depositada toda a sua trajetória na condição humana. Ninguém burla o Fatalismo Paternal.

- Então a questão dos sentimentos está na base dessa deformação perispiritual?

- Esse coração socorrido plasmou em séculos a sua desdita de agora. Depois de alguns "fracassos" no seu posto hierárquico naquele vale de perdição, iniciou uma derrocada psíquica acelerada que já se encontrava potencializada de longas eras. Preso em calabouços e castigado severamente, penetrou em faixas de ódio e revolta que deterioraram sua estrutura mental. O vulcão da tormenta íntima expeliu de uma só vez a matéria contida pelos mecanismos defensivos ao longo do trajeto na maldade empedernida. Verificando sua condição que "animalizava", foi enxotado para esse lugar.

- Com que propósito?

- Alguns grupos diretivos do Vale do Poder desenvolveram técnicas de agressão ao bem, utilizando a psicosfera pestilencial de tais almas. Estudaram o estado vibratório desses Espíritos, e perceberam quão nocivas são suas auras, portadoras de uma irradiação espontânea em nível de ondas longas, de teor energético, acentuadamente, contagiante. Passaram então a utilizá-los para infestar psicosferas de certos ambientes terrenos, propícias à depressão e a todo o contingente de sentimentos na órbita da tristeza. Como a condição dos "vibriões" exige ausência de luz e baixa temperatura, as entidades da perversidade costumam "implantá-los", no plano físico, envolvidos por aparelhagem adequada que os mantém nas condições de adaptação.

- Com quais finalidades são utilizadas tais técnicas de implantação?


- As mais diversas. Obsessões familiares, exploração do sentimento de indignidade, adoecimento em organizações. Alguns corações que desejam perturbar a vida de encarnados com cobranças pretéritas graves tornam-se assalariados do mal e em troca tem a seu dispor, por algum tempo, esse recurso de infelicitação. Certos serviços de magia contam com os "vibriões". Onde quer que predominem a disputa, a arrogância explícita ou camuflada, o jogo do poder, caminhos percorridos por essas almas escravizadas, tornam-se pontos de sintonia para esse tipo de exploração. Núcleos políticos, empresariais, militares e religiosos têm sido alvo dessa tática nefanda de entorpecimento e contágio. E muitas organizações do bem, inclusive casas espíritas, são atingidas por semelhante iniciativa, que lhes custam, muita vez, a sobrevida.

- Centros espíritas? Mas como pode? Não são protegidos?


- Qualquer organização humana, mesmo servindo ao bem espontâneo, está também sujeita às Leis Naturais. Os núcleos doutrinários do Espiritismo são ambientes de pessoas adoecidas em busca de amparo e orientação, tanto quanto nós mesmos. Portanto, lidam com situações gravíssimas e, ao prestarem sua assistência, em nome do amor, se sujeitam a desafiantes experiências no que tange aos interesses de grupos espirituais. Por essa razão, os trabalhadores do Cristo que conduzem as casas de amor devem se munir dos recursos do Evangelho no coração a fim de absorverem a proteção dos Servidores do Bem a que se fazem dignos. Nem sempre, porém, temos observado esse cuidado. Os próprios aprendizes trazem em si mesmos traços similares de tristeza e inconformação, revolta e rebeldia, decorrentes de ciclos emocionais de disputa arrogante e complexa. Traços pertinentes a todos nós na caminhada de ascensão e dos quais somente nos livraremos com educação. Não se surpreendam, pois, que muitos espíritas trilharam a vivência como "vibriões" e, hoje, buscam, a duras penas, a recomposição de si próprios perante a consciência.

- Por qual razão ocorrem os ataques com os "vibriões" se existe a proteção espiritual e as imperfeições são obstáculos naturais da caminhada?

- Por descuidarem dos sentimentos. Se analisarmos com mais cautela, o fenômeno da cisão de reinos tem proporções infinitas. De alguma forma, expressiva parcela da humanidade, se pudesse, faria uma tentativa de retrocesso. Todos temos, até certo estágio de crescimento, uma atração natural para o passado. Voltar ao que éramos. O homem do século XXI está sendo asfixiado psiquicamente pelo sentimento de baixa auto-estima, agravado pelos padrões da mídia social. A ausência de auto-amor tornou-se calamidade sócio-moral em quaisquer continentes e classes. Vivemos o instante de separação do joio e do trigo. É um momento de definição na Terra. Este é o século da sensibilidade, no qual o patrimônio dos sentimentos será o centro das cogitações da ciência e da religião, e base de sustentação de um mundo novo. Uma infinidade de almas, em ambas as esferas de vida, no corpo ou fora dele, padecem de crises existenciais que não conseguem resolver. A depressão é eminente nessas vivências, encurralando a alma nos despenhadeiros da apatia, da indiferença e da solidão. Esses sentimentos, quando prolongados em demasia, causam o desejo de parar, deixar de existir. Desistir e "encerrar o processo evolutivo". Uma nítida sensação de fracasso, impotência e confusão assenhoreiam-se da mente em crises dolorosas.

- Mas há espíritas nessa condição?


- Os espíritas, assim como nós, não são seres especiais. São almas que procuram Jesus Cristo dentro daquela condição exarada pelo Mestre: os sãos não precisam de médicos, mas sim os doentes. Muitos espíritas que receberam a medicação excelsa da Doutrina são "ex-vibriões" que, sob regimes de inigualável misericórdia, conseguiram regressar ao corpo físico no intuito de reerguerem-se perante as "penas conscienciais". Exaram o serviço e o bem como únicas sendas de reparação. São Espíritos de grande valor que tombaram nos despenhadeiros do domínio e na sede de poder. Almas que padecem de enorme aflição de melhora, todavia, sentem-se com grilhões na vida mental. Isso lhes dificulta, sobremaneira, a fluência do entendimento sobre suas amarguras interiores. Purgam, paulatinamente, em "depressões controladas" a matéria mental proveniente de suas construções enfermiças de outros tempos. Carregam sofridas feridas evolutivas no coração, quais sejam: abandono, solidão, falibilidade e inferioridade. Sentimentos que lhes fazem sentir inadequados perante a vida. Indignos do amor alheio e de Deus. Colhem em si mesmas, o fruto amargo de suas escolhas pretéritas. Entretanto, são corações que resgataram a esperança. Experimentam na atividade do bem a sensação de "Retorno a Deus". Sentem que podem recomeçar, mesmo sorvendo o cálice da indignidade. Estando no corpo, resguardam-se das perseguições mais severas e caminham, sob a tutela de avalistas amoráveis, quais Eurípedes Barsanulfo, que lhes estendem assistência incondicional.

- Que fazer para auxiliar esses companheiros na carne como espíritas?

- Transformar os núcleos doutrinários em escolas de amor a Deus, de auto-amor e amor ao próximo. Trabalhar os sentimentos nobres e promover os grupos espíritas a centros de estudos sobre si mesmo, colaborando com a melhor compreensão de nossas necessidades e sobre como desenvolver nossas aptidões ou educar nossas habilidades.

- E o que fazer pelos locais onde ainda jazem tantos irmãos nossos naquelas "gavetas" frias em pátios de escravidão?

- Orar até que Deus nos permita algo mais. "Os espíritos sofredores reclamam preces e estas lhes são proveitosas, porque, verificando que há quem neles pense, menos abandonados se sentem, menos infelizes. Entretanto, a prece tem sobre eles ação mais direta: reanima-os, incute-lhes o desejo de se elevarem pelo arrependimento e pela reparação e, possivelmente, desvia-lhes do mal o pensamento". Existem grupos de corações que vão todos os dias até aquele local onde oramos, para fazerem preces coletivas pelos pântanos da maldade. Raios luminíferos de compaixão e piedade chegam até os "lixões", renovando esperanças e cooperando decisivamente na recomposição de nossos companheiros atormentados. O homem encarnado, igualmente, pode-se somar a esses esforços de humanismo com suas rogativas sinceras e promotoras de paz. Estejamos convictos quanto ao futuro. O Fatalismo Divino é a perfeição. Ainda que tramitando em pântanos de animalidade, o progresso faz luz sobre a escuridão e o homem avança, incontinenti. Se existe a cisão de reinos para a retaguarda, esse é o momento decisivo para efetivarmos nossa cisão com o mal, com o materialismo e caminhar em direção à humanização.

1. O Livro dos Espíritos - questão 118