domingo, 27 de dezembro de 2015

O que Procede do Coração

Reforma Íntima Sem Martírio - Capítulo 4


“Escutai e compreendei bem isto: Não é o que entra na boca que macula o homem; o que sai da boca do homem é que o macula. – O que sai da boca procede do coração e é o que torna impuro o homem”. (Mateus, 15:11)

O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo 8 - Item 8

"Dentre os velhos inimigos a burilar na caminhada evolutiva, as tendências que assinalam nosso estágio de aprendizado espiritual constituem fortes impulsos da alma que desviam o ser de seu trajeto natural na aquisição das virtudes.

Tendências são inclinações, pendores que determinam algumas características comportamentais da personalidade. Muitas delas foram adquiridas em várias etapas reencarnatórias e sedimentam o sistema de valores, com o qual a criatura faz suas escolhas na rotina da existência.

Entre essas inclinações, vamos encontrar a adoração exterior como sendo hábito profundamente arraigado na mente, determinando forte vocação para a ritualização, o místico e a valorização de tradições religiosas, por meio das quais o homem faz seu encontro com Deus.

Muito natural que nos dias atuais as manifestações exteriores em relação à divindade prevaleçam na humanidade terrena, considerando que o seu trajeto espiritual se encontra bem mais perto da animalidade que da angelitude.

Nesse sentido, é interessante analisar que, mesmo nas fileiras da doutrina da fé raciocinada, encontra-se a maioria de seus adeptos engalfinhados em vigorosas reminiscências que fizeram parte das movimentações da alma nas vivências das religiões tradicionais. Atrofiamento do raciocínio, supervalorização dos valores institucionais, engessamento de conceitos, sensação de missionarismo religioso, atitude de supremacia da verdade, idolatria a seres superiores, submissão de conveniência a líderes, relação de absolvição ou penitência com práticas espíritas, desvalorização de si mesmo em razão da condição de pecador, condutas puritanas perante a sociedade e seus costumes, cultivo de comportamentos moralistas, confusão entre pureza exterior e renovação íntima, essas são algumas tendências que se apresentam aos nossos celeiros espíritas, remanescentes de fortes condicionamentos psíquicos. Semelhantes caracteres imprimiram um padrão de práticas e conceitos no movimento espírita que, de alguma forma, estipulam referências a serem adotadas por seus seguidores.

Com todo respeito a fraternidade, necessitamos urgentemente ter a coragem de avaliar com sinceridade as influências “éticas” perniciosas dessas tendências no quadro de nossas vivências espiritistas. São reflexos inevitáveis do crescimento evolutivo que ninguém pode negar, mas daí a aceitá-las sem nenhum esforço de melhoria, é conivência e covardia. Torná-las uma referência religiosa pela qual se deva reconhecer o verdadeiro seguidor do Espiritismo é uma atitude recheada de ancestralismo e hipocrisia.

A comunidade espírita, que tantas benfeitorias tem prestado ao mundo, carece de uma reavaliação global em sua estrutura no que tange à noção de comprometimento. Convém que os líderes mais sensibilizados instiguem a formação da cultura da franqueza com fraternidade e clareza, no intuito de estabelecer uma oxigenação na sementeira para obtenção de mais qualidade nos frutos.

Muitos companheiros, os quais merecem nossa compreensão, costumam disseminar a concepção de que tudo deve correr conforme os acontecimentos, e justificam-se com a frase: “Se fazendo assim está dando certo, porque mudar?” Em verdade, o que deveríamos pensar é: "Se fazendo assim estamos colhendo algo, então quanto não colheríamos se fizéssemos melhor, se nos abríssemos às renovações que a hora reclama?"

Há uma acomodação lamentável que precisa ser aferida. A noção espírita de comprometimento foi lamentavelmente assaltada pelas velhas tendências de conseguir o máximo fazendo o mínimo. É a devoção exterior, a influência marcante da personalidade impregnada de religiosismo estéril querendo tomar conta da cabeça e do coração daqueles que estão sendo chamados a novos e mais altaneiros compromissos na espiritualização de si mesmo e da comunidade onde floresceram.

Frágil padrão de validação da conduta espírita tem tomado conta dos costumes entre os idealistas. Enraizou-se o axioma “espírita faz isso e não faz aquilo” que tenta enquadrar o valor das ações em padrões de insustentável bom senso. Padrões, como seria óbvio, que sofrem as fantasias do “homem velho”, habituado a sempre rechear com facilidades seu caminho em direção ao Pai, a fim de não ter de se enfrentar e assumir a árdua batalha contra suas ilusões enfermiças.

É assim que vamos notando uma supervalorização de coisas, como a não adoção de alimentação carnívora, a impropriedade de frequentar certos ambientes sociais, a fuga da ação política, a análise da vida dissociada das ciências e conquistas humanas, a interminável procura do passe como instrumento de melhoria espiritual ao longo de anos a fio, não chorar em velórios, distanciamento da riqueza como se fosse um mal em si mesma, cenho carregado como sinônimo de responsabilidade, silêncio tumular nos ambientes espíritas. Se fumar, não é espírita; se separar matrimonialmente, tem a reencarnação fracassada; se ingerir alcoólicos, não pode ser considerado alguém em reforma; se for homossexual, não pode entrar no centro; e assim prosseguem as predisposições particulares que são estipuladas uma aqui, outras acolá.

Absolutamente não devemos desprezar o valor de todas essas questões, quando bem orientadas para o bom senso e a lógica. Entretanto, nenhuma dessas posturas é referência segura sobre a qualidade de nossos sentimentos, o que parte do coração. O que sai do coração e passa pela boca é o critério de validação de nossa realidade espiritual. Por ele se conhece a verdadeira pureza, a pureza interior que é determinada pela forma como sentimos a vida que nos rodeia. E sobre esse assunto só temos condições de avaliar o que se passa no nosso íntimo, jamais o que vai no coração do outro.

A pureza exterior, sem dúvida alguma, pode ser um ensaio, um primeiro passo para o ingresso definitivo da Verdade em nosso coração. Todavia, amigos de ideal, pensemos se não estamos passando tempo demais na confortável zona do desculpismo, desejosos de facilitar para a consciência nossa noção sobre o que é ser espírita.

"... a qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá..."(1)

Em conclusão, convenhamos que há muitos companheiros queridos do nosso ideário satisfeitos com o fato de apenas evitarem o mal, entretanto, estejamos alerta para a única referência ética que servirá a cada um de nós no reino da alma liberta da vida física: fazer todo o bem que pudermos no alcance de nossas forças(2). Para isso, somente trabalhando por uma intensa metamorfose no reino do coração de onde procedem todos os males."

1. Lucas, 12:48.
2. O Livro dos Espíritos – Questão 770 a.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Projeto de Vida

Livro: Reforma Íntima Sem Martírio
Autora Espiritual: Ermance Dufaux

Capítulo 3

“O amor aos bens terrenos constitui um dos mais fortes óbices ao vosso adiantamento moral e espiritual. Pelo apego à posse de tais bens, destruís as vossas faculdades de amar, com as aplicardes todas às coisas matérias”.

O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo 16 - Item 14

"Materialismo é o estado íntimo que estabelece a rotina mental da esmagadora maioria das mentes no plano físico, focando os interesses humanos, exclusivamente, naquilo que fere os cinco sentidos. Posturas e noções culturais se desenvolvem nesse estado, levando a criatura a adotar o mundo das sensações corporais como sendo a única realidade.

O materialismo tem como base afetiva o sentimento de segurança e bem-estar, expresso comumente por vínculos de apegos e posse. Os reflexos mais conhecidos desses vínculos afetivos com a vida material são a dependência e o medo, respectivamente.

Em essência, o interesse central de todo materialista é tornar a vida uma permanência, manter para sempre o elo com todas as criações objetivas que lhe pertençam, sejam coisas ou pessoas. Contudo, a vida é regida pela Lei da Impermanência. Tudo é transformação e crescimento. Algumas palavras que asseguram uma linha moral condizente com essa Lei são: maleabilidade, incerteza, relativização, diversidade, ecletismo, pluralismo, alteridade, desprendimento, fraternidade, amor.

A volta do homem à vida corporal tem por objetivo o seu melhoramento, o engrandecimento de seus conceitos ainda tão reduzidos pela ótica das ilusões terrenas. Compreender que é um binômio corpo-alma, que tem um destino, a perfeição, e que a vida na Terra é um aprendizado são as lições que permitirão ao homem romper com os estreitos limites da visão materialista. Semelhantes conquistas interiores exigem preparo e devotamento a fim de se consolidarem como valores morais, capazes de levá-lo a cultivar projetos enobrecedores com os quais possa, pouco a pouco, renovar seus hábitos de vida.

Muito esforço será pedido para o desenvolvimento dessas qualidades espirituais no coração humano.

Uma semana na Terra é composta de dez mil e oitenta minutos. Tomando por base noventa minutos como o tempo habitual de uma atividade espiritual voltada para a aquisição de noções elevadas, e ainda levando em conta que raramente alguém ultrapassa o limite de duas ou três reuniões semanais, encontramos um coeficiente de, no máximo, duzentos e setenta minutos de preparo para implementação da renovação mental, ou seja, pouco menos de três por cento do volume de tempo de uma semana inteira. São nesses momentos que se angariam forças para interromper a rotina mental do homem comum. Por isso necessitamos tanto das tarefas espirituais para fixar valores, desenvolver novos hábitos e alimentar a mente de novas forças, tendo em vista a espiritualização a qual todos devemos buscar em favor da felicidade e da paz.

A superação da rotina materialista exige esforço, mas também metas, ideais, comprometimento.

Por isso a melhora espiritual não pode se circunscrever a práticas religiosas ou a momentos de estudo e oração. Imperioso será assumirmos o compromisso de mudança e elevação conosco mesmo, senão tais iniciativas podem reduzir-se facilmente a experiências passageiras de adesão superficial, sem raízes profundas nas matrizes do sentimento.

A reforma íntima solicita fazer de nossa vida um projeto. Um projeto de cumplicidade e amor!

Projeto de vida é outro nome da religião íntima, a da atitude, do comprometimento. Sem isso, como esperar que a simples frequência aos serviços  do bem, nas fileiras da caridade e da instrução, sejam suficientes para renovar a nossa personalidade construída em milênios de repetição no amor aos bens terrenos?

Um projeto de mudança espiritual não será tarefa infantil de traçar metas imediatistas, de fácil alcance, para nos causar a sensação de que aprimoramos com rapidez, mas sim o resultado do esforço pessoal em comprometer-se com ideais que motivem o nosso progresso e que, a um só tempo, constituam a segurança contra o desânimo e a invigilância. Ideais esses que se apresentam sempre em nossa caminhada como convites da Divina Providência para que possamos sair do lugar comum. Razão pela qual sempre encontraremos obstáculos e pedregais nas sendas da renovação espiritual. Isso porque aquele que realmente se eleva não deixa de causar mudança no meio onde estagia, atraindo para si todas as reações favoráveis e desfavoráveis aos ideais de ascensão. Isso faz parte de todo processo de espiritualização. Não há como não haver reações que podem ser, algumas vezes, sinais de que nos encontramos em boa direção...

Cumplicidade e comprometimento são as palavras de ordem no desafio do autoburilamento.

Evitemos, assim, confundir a simples adesão a práticas doutrinárias ou ainda o acúmulo de cultura espiritual como sendo iluminação e adiantamento, quando nada mais são que estímulos valorosos para o crescimento. Lembremos que só terão valor real, na nossa libertação, se deles soubermos extrair a parte essencial que nos compete interiorizar no fortalecimento de nosso projeto de vida no bem.

Lacordaire é muito lúcido ao afirmar que destruímos as faculdades de amar quando as reduzimos aos bens materiais. O cultivo da paixão ao adiantamento espiritual é a solução para todos os problemas da humanidade terrena, e o único caminho para um mundo melhor. Quando aprendemos isso, verificamos que a existência, mesmo que salpicada de problemas e dores, tem luz e vida porque plantamos na intimidade a semente imperecível do idealismo superior, o qual ninguém pode nos roubar."

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Ética da Transformação

Livro: Reforma Íntima Sem Martírio
Autora Espiritual: Ermance Dufaux

Capítulo 2


“Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral ...”
O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo 17 - Item 8

"A reforma íntima é um trabalho processual. Processual significa aquilo que obedece a uma sequência. Em conceito bem claro, é a habilidade de lidar com as características da personalidade melhorando os traços que compõem suas formas de manifestação. Caráter, temperamento, valores, vícios, hábitos e desejos são alguns desses caracteres que podem ser renovados ou aprimorados.

Nessa saga de mutação e crescimento, o maior obstáculo a transpor é o interesse pessoal, o conjunto de viciações do ego repetido durante variadas existências corporais e que cristalizaram a mente nos domínio do personalismo.

O hábito de atender incondicionalmente às imposições dos desejos e aspirações pessoais levou-nos à cruel escravização, da qual muito será exigido nos esforços reeducativos para nos libertamos do império do eu.

Negar a si mesmo ou despersonificar-se, esvaziar-se de si mesmo, tirar a máscara é o objetivo maior da renovação espiritual. Esse o grande desafio a seguido por todos os que se comprometeram com seriedade nas nobres finalidades do Espiritismo com Jesus e Kardec.

Extenso será esse caminho reeducativo na vitória sobre nossa personalidade manhosa e talhada pelo egoísmo...

O meio prático e eficaz de consegui-lo, conforme ensinam os Bons Espíritos da codificação, é o conhecimento de si mesmo (1).

Entretanto, para levar o homem ao aprimoramento, o autodescobrimento exige uma nova ética nas relações consigo mesmo e com a vida: é a ética da transformação, sem a qual a incursão no mundo íntimo pode estacionar em mera atitude de devassar a subconsciência sem propósitos de mudança para melhor. O Espiritismo é inesgotável manancial no alcance desse objetivo. Seu conteúdo moral é autêntico celeiro de rotas para quantos desejam assumir o compromisso de sua transformação pessoal com segurança e equilíbrio. Sem psicologismo nem atitudes de superfície, a Doutrina Espírita é um tratado de crescimento integral que esquadrinha os vários níveis existenciais do ser na ótica imortalista.

Nem sempre, porém, verifica-se tanta clareza de raciocínio entre os espíritas acerca dessa questão. Conceitos mal formulados sobre o que seja a renovação interior têm levado muitos corações sinceros a algumas atitudes de puritanismo e moralismo que não correspondem ao lídimo trabalho transformador da personalidade em direção aos valores capazes de solidificar a paz, a saúde e a liberdade na vida das criaturas. Por esse motivo, será imperioso que as agremiações do mundo erguidas em nome do Espiritismo ou aquelas que expandam a luz da espiritualização entre os homens investiguem melhores noções sobre a ética da transformação, a fim de oferecer a seus seguidores uma base mais cristalina sobre os caminhos e obstáculos no serviço da iluminação de si mesmos.

A prática essencial e meta fundamental dos ensinos dos Bons Espíritos é a melhoria da humanidade, a formação do homem de bem. O Espiritismo, em verdade, está nos elos que criamos uns com os outros e que passam a fazer parte da personalidade nova que estamos esculpindo com o buril da educação. As práticas doutrinárias são recursos didáticos para o aprendizado do amor – finalidade maior de nossa causa. Na falta do amor, as práticas perdem seu sentido divino e primordial.

Em face dessas reflexões, evidencia-se a urgência da edificação de laços de afeto nos grupamentos humanos, no intuito de fixarmos na intimidade as mensagens do Evangelho e do bem universal. Afeto é a seiva vitalizadora dos processos relacionais e o construtor de sentidos nobres para a existência dos homens.

O autoconhecimento, por meio das luzes de imortalidade que se estendem dos fundamentos espíritas, é um mapa de como chegar ao eu verdadeiro, à consciência. Todavia, essa viagem não pode ser feita somente com o mapa. Necessita de suprimentos morais preventivos e fortalecedores, precisa de uma ética de paz consigo mesmo. Somente se conhecer não basta, é necessário um intenso labor de autoaceitação para não cairmos nas garras de perigosas ameaças nessa viagem de retorno a Deus, cujas mais conhecidas são a culpa, a autopunição e a baixa autoestima, as quais estabelecem o clima psicológico do martírio. É preciso uma ética que assegure à transformação pessoal um resultado libertador de saúde e harmonia interior. Tomar posse da verdade sobre si mesmo é um ato muito doloroso para a maioria das criaturas.

À guisa de sugestões maleáveis, consideremos alguns comportamentos que serão efetivos roteiros de combate, vigília e treinamento para a instauração das linhas éticas no processo autotransformador: 


- Postura de aprendiz – jamais perder o vistoso interesse em buscar o novo, o desconhecido. Sempre há algo para aprender e conceitos a reciclar. A postura de aprendiz se traduz no ato da curiosidade incessante, que brota da alma como sendo a sede de entender o universo e nossa parte na dança dos 
ritmos cósmicos. Romper com os preconceitos e fugir do estado doentio da autossuficiência.

- Observação de si mesmo – é o estudo atento de nosso mundo subjetivo, o conhecimento das nossas emoções, o não julgamento e a autoavaliação constante. Tendemos a avaliar o próximo e esquecer o serviço que nos compete. No entanto, relembremos que perante a imortalidade só responderemos por nós, no que tange ao serviço de edificação dos princípios do bem na intimidade.

- Renúncia – a mudança íntima exige uma seletividade social dos ambientes e costumes, em razão dos estímulos que produzem reflexos no mundo mental. No entanto, a renúncia deve ampliar-se também ao terreno das opiniões pessoais e valores institucionais, para os quais, frequentemente, o orgulho nos ilude.

- Aceitação da sombra – sem aceitação da nossa realidade presente poderemos instaurar um regime de cobranças injustas e intermináveis conosco e, posteriormente com os outros. A mudança para melhor não implica em destruir o que fomos, mas dar nova direção e maior aproveitamento a tudo que conquistamos, inclusive nossos erros.

- Autoperdão – a aceitação, para ser plena, precisa do perdão. Recomeço é a palavra de ordem nos serviços de transformação pessoal. Sem ela o sofrimento e o flagelo poderão estipular provas dolorosas para a alma. É uma postura de perdão às faltas que cometemos, mas que gostaríamos de não cometer mais.

- Cumplicidade com a decisão de crescer – o objetivo da renovação espiritual é gradativo e exige devoção. Não é serviço para fins de semana durante nossa presença nas tarefas do bem, mas serviço continuado a cada instante da nossa vida, onde estivermos. Somente assumindo com muita seriedade esse desafio o levaremos avante. Imprescindível a atitude de comprometimento com a meta de crescimento que assumimos. Somos egressos de experiências frustradas no desafio do aperfeiçoamento pessoal, portanto, muito facilmente somos atraídos para ilusões variadas. Somente com severidade e muita disciplina construiremos o homem novo almejado.

- Vigilância – é a atitude de cuidar da vida mental. Cultivar o hábito de higiene dos pensamentos, da meditação no conhecimento de si mesmo, da absorção de nutrição mental digna nas boas leituras, conversas, diversões e ações sociais. Vigilância é a postura da mente alerta, ativa, sempre voltada para ideais enriquecedores.

- Oração – é a terapia da mente. Sem oração dificilmente recolheremos os germens divinos do bem que constituem as correntes de Energia Superior da Vida. Por meio dela, igualmente, despertamos na intimidade forças nobres que se encontram adormecidas ou sufocadas pelos nossos descuidos de cada dia.

- Trabalho - os Sábios Guias da codificação asseveram que toda ocupação útil é trabalho (2). Dar utilidade a cada momento do nosso dia é sublime investimento de segurança e defesa no projeto de crescimento interior.

- Tolerância – toda evolução é concretizada na tolerância. Deus é tolerância. Há tempo para tudo e tudo tem seu momento. Os objetivos da melhoria requerem essa complacência para conosco a fim de que haja mais resultados satisfatórios. Complacência não significa conivência ou conformismo, mas caridade com nossos esforços.

- Amor incondicional – aprender o autoamor é o maior desafio de quem assume o compromisso da reforma íntima, porque a tendência humana é desgostar de sua história de evolução ao tomar consciência do ponto em que se encontra ante os Estatutos Universais da Lei Divina. Sem autoamor a reforma íntima se reduz a tortura íntima. Aprender a gostar de si mesmo, independentemente do que fizemos no passado e do que queremos ser no futuro, é estima a si mesmo, um estado interior de júbilo com nosso retorno lento, porém gradativo, para uma identificação plena com o Pai.

- Socialização – se o interesse pessoal é o grande adversário de nosso progresso, então a ação em grupos de educação espiritual será excelente medicação contra o personalismo e a vaidade. Destaquemos, assim, o valor das tarefas doutrinárias regadas de afetividade e bom-senso moral. São treinamentos na aquisição de novos impulsos.

- Caridade – a socialização pode imprimir novos impulsos e reflexões no terreno da vida mental; a caridade é o dínamo de sentimentos nobres que secundará o processo socializador, levando-o ao nível de abençoada escola do afeto e revitalização dos ensinamentos espíritas.
Conviveremos bem com os outros na proporção em que estivermos bem conosco mesmos. A adoção de uma ética de paz, no transcorrer da metamorfose de nós mesmos, será medida salutar no alcance das metas que almejamos, ao tempo em que constituirá garantia de bem-estar e motivação para a continuidade do processo.

O exercício de negar a si mesmo não inclui o descuido ou o descrédito pessoal, confundindo a sombra que precisamos reciclar com necessidades pessoais que não devemos desprezar, para o bem-estar e equilíbrio. Cuidemos, apenas, de vincular essas necessidades aos novos rumos que escolhemos. Fazemos essa menção porque muitos corações queridos do ideal supõem que reformar é negar ou mesmo castigar a si mesmo, quando o objetivo do projeto de mudança espiritual é tornar o homem mais feliz é integrado à sua divina tarefa perante à vida.

Nos celeiros de luz dos ensinamentos do Evangelho, verificamos um exemplo de rara beleza e oportunidade que servirá como diretriz segura para a despersonificação dos servidores do Cristo na obra do amor: Ananias, o apóstolo chamado para curar os olhos do Doutor de Tarso. Quando o Mestre o chama pelo nome, o colaborador humilde, com prontidão e livre dos interesses pessoais, responde sadiamente: “Eis-me aqui, Senhor” (3)

O nome dessa virtude, no dicionário cristão, é disponibilidade para servir e aprender, o programa ético mais completo e eficaz para quantos desejam a autoiluminação."

1. O Livro dos Espíritos - Questão 919.
2. O Livro dos Espíritos - Questão 675.
3. Atos, 9:10.