segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Dores do Martírio

Livro: Reforma Íntima Sem Martírio
Autora Espiritual: Ermance Dufaux

Capítulo 1

"Não imaginais, portanto, que, para viverdes em comunicação constante conosco, para viverdes sob as vistas do Senhor, seja preciso vos cilicieis e cubrais de cinzas.
Não consiste a virtude em assumirdes severo e lúgubre aspecto, em repelirdes os prazeres que as vossas condições humanas vos permitem."

O Evangelho Segundo o Espiritismo – Capítulo 17 - Item 10

"No capítulo do crescimento espiritual torna-se essencial distinguir o que são as dores do crescimento e as dores do martírio. Não existe reforma íntima sem sofrimento, mas martírio é uma forma de autopunição, são penitências psicológicas que nos impomos como se, com isso, estivéssemos melhorando.

Em razão do complexo de inferioridade que assola expressiva parcela das almas da Terra, e cientes de que semelhante violência psicológica se deve ao nosso voluntário afastamento de Deus, ao longo das etapas evolutivas, fazendo-nos sentir inseguros e impotentes, hoje criamos as capas mentais para nos sentirmos minimamente bem e levar avante o desejo de existir e viver. Essas capas são as estruturas do eu ideal que nos leva a crer sermos mais do que realmente somos, uma defesa contra as mazelas que não queremos aceitar em nós mesmos.

A melhoria íntima autêntica ocorre pelo processo de conscientização, e não pelas dores decorrentes de cobranças e conflitos interiores, que instalam circuitos fechados e pane na vida mental.

Sem dúvida, todos sofremos para crescer; martírio, no entanto, é o excesso que nasce da incapacidade de gerir com equilíbrio o mundo emotivo, assumindo proporções e facetas diversificadas conforme o temperamento e as necessidades de cada qual. Não o confundamos também com sacrifício – ato que ocasiona dores intensas com o objetivo de alcançar alguma meta ou superar alguma dificuldade.

O que define a condição psíquica de martirizar-se é o fato de se crer no desenvolvimento de qualidades que, de fato, não estão sendo trabalhadas na intimidade. São as dores impostas a nós mesmos pelas atitudes de desamor, quando acreditamos no eu ideal e negamos ou fugimos de eu real.

Quase sempre as dores do martírio decorrem de não querermos experimentar as dores do crescimento. Um exemplo típico é quando somos convocados a examinar certa imperfeição apontada por alguém e, entre a dor da autoavaliação e a dor da negação, preferimos a segunda, a qual integra a lista das dores-excesso.

Dentre as formas autopunitivas mais comuns, destacamos que a maneira pela qual reagimos a nossos erros tem sido um canal de acesso a infinitas dimensões expiatórias. Muitos corações transformam o erro e a insatisfação com suas experiências em quedas lamentáveis e irrecuperáveis, quando a escola da vida é um gesto de sabedoria e complacência, convidando  sempre a nos reerguer e recomeçar perante os insucessos do caminho.

Quando se diz “não posso mais falhar” será mais difícil a conquista de si mesmo. Dessa forma começamos a conhecer os grandes inimigos do autoamor no nosso íntimo. Um deles é o perfeccionismo – uma das fontes de martírio que costumam dizimar a energia de muitos aprendizes da espiritualização. Querendo se transformar, partem para um processo de não aceitação de si mesmos e de autorreprovação muito cruel, inclinando-se para a condenação. A questão não é de lutar contra nós mesmos, e sim conquistar essa parte enferma, recuperá-la, e isso jamais conseguiremos se não aprendermos a amar a esse nosso lado doentio.

Essa forma inadequada de reagir a nossos erros abre porta para muitas consequências graves, e às vezes maiores que o próprio erro em si, tais como: estado íntimo de desconforto e desassossego quase permanente, torturante sensação de perda de controle sobre a existência, baixa tolerância à frustração, ansiedade de origem ignorada, medos incontroláveis de situações irreais, irritações sem motivos claros, angústia perante o porvir com aflição e sofrimento por antecipação, excesso de imaginação ante fatos corriqueiros da vida, descrença no esforço de mudança e nas tarefas doutrinárias, mau humor, decisões infelizes no clima emotivo de confusão mental, intenso desgaste energético decorrente de conflitos, desânimo – são algumas dores do martírio.

Quando permanecem prolongadamente, esses estados psicológicos configuram uma auto-obsessão que pode atingir o campo do vampirismo e de ilimitadas doenças físicas.

Poder-se-ia indagar a origem mais profunda de tantas lutas e teríamos que vagar por um leque de alternativas tão amplo quanto são as individualidades. Todavia, para nossos propósitos desse momento, convém refletirmos sobre uma das mais pertinentes atitudes que têm levado os discípulos espíritas aos sofrimentos voluntários com o seu processo de interiorização. Sejamos claros e evitemos subterfúgios para o nosso bem. O culto à dor tornou-se uma constante nos ambientes espíritas. Condicionou-se a ideia de que sofrer é sinônimo de crescer, de que sofrer é resgatar, quitar. Portanto, passou-se a compreender a dor punitiva como instrumento de libertação, quando, na verdade, somente a dor que educa liberta. Há criaturas dotadas de largas fatias de conhecimento espiritual sofrendo intensamente, mas que continuam orgulhosas, insensatas, hostis e rebeldes.

Não é a intensidade da dor que educa, é sim o esforço de aprender a amenizá-la.

O espírita costuma neurotizar a proposta da reforma íntima. É a neurose de santificação, um modo imaturo de agir em razão da ausência de noções mais profundas sobre a sua verdadeira realidade espiritual. Constatamos que existe muita impaciência com a reforma íntima por causa da angústia causada ao espírito por entrar em contato com sua verdadeira condição diante do Universo. Cria para si mesmo, através de mecanismos mentais, as virtudes de adorno ou compensações artificiais a fim de sentir-se valorizado perante a consciência e o próximo. São os esconderijos psíquicos nos quais quase sempre nos enfurnamos para não tomar contato com a verdade pessoal.

Essa neurotização da virtude gera um sistema de vida cheia de hábitos e condutas rígidas, a título de seguir orientações da doutrina. Adotam-se procedimentos que não são sentidos e avaliados pela arte de pensar. Isso nos desaproxima ainda mais da autêntica mudança, e passamos então a nos preocupar com o que não devemos fazer, esquecendo o que devíamos estar fazendo. Certamente esse caminho gera martírio e ônus para a vida mental.

Existem muitas dores naturais no crescimento espiritual que estabelecem um processo crônico de pressão psicológica, entretanto, diferem muita da autoflagelação, porque elas impulsionam e fazem parte da grande batalha pela promoção de todos nós. Observa-se, inclusive, que alguns corações sinceros, inseridos no esforço autoeducativo, experimentam essa silenciosa expiação, mas, por desconhecerem os percalços do trabalho renovador, terminam por desistir de prosseguir e se atolam no desânimo. Acreditam-se piores quando constatam semelhantes quadros de dor psicológica e deduzem que, ao invés de progredirem, estão em plena derrocada. Diga-se de passagem, não são poucos os quadros que temos observado com essas características no seio do movimento doutrinário.

Frequentemente existe um trio de malfeitores da alma que chicoteiam durante as etapas do amadurecimento, são eles: culpa, baixa autoestima e medo de errar. Apesar de serem sofrimentos psíquicos, funcionam como emuladores do progresso quando nos habilitamos a gerenciá-los. Assim, a culpa se transforma em autoaferição da conduta e freio contra novas quedas, a baixa autoestima se converte em capacidade de descobrir valores e o medo de errar se promove a valoroso arquivo de experiências e desapego de padrões.

Diante do exposto, indaguemos sobre quais seriam as medidas que deveriam ser implementadas nos núcleos educativos do Espiritismo, em favor da melhor compreensão dos roteiros de transformação interior. Aprofundemos o debate entre dirigentes sobre quais iniciativas poderiam ser facilitadas aos novos trabalhadores em favor de um aprendizado sem os torturantes conflitos originados da crueldade aplicada nos mesmos, quando não somos criativos o bastante para lidar com nossa sombra e tombarmos em martírios inúteis.

Reforma íntima deve ser considerada melhoria de nós mesmos, e não a anulação de uma parte de nós considerada ruim. Uma proposta de aperfeiçoamento gradativo cujo objetivo maior é a nossa felicidade.

Quem está na reforma interior tem um referencial fundamental para se autoanalisar ao longo da caminhada educativa, um termômetro das almas que aprimoram; inevitavelmente, quem se renova alcança a maior conquista das pessoas livres e felizes: o prazer de viver."

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Consciência de Si

Livro: Reforma Íntima Sem Martírio
Autora Espiritual: Ermance Dufaux

Introdução

“Em princípio, o homem que se exalça, que ergue uma estátua à sua própria virtude, anula, por este simples fato, todo o mérito real que possa ter. Entretanto, que direi daquela cujo único valor consiste em parecer o que não é? Admito de boamente que o homem que pratica o bem experimenta uma satisfação íntima em seu coração; mas, desde que tal satisfação se exteriorize, para colher elogios, degenera em amor-próprio”.
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO – Cap. 17, item 8
"Estudiosos discípulo do Espiritismo nos propôs a seguinte indagação: que revelações novas teriam os amigos espirituais em favor do aperfeiçoamento interior nessa hora de tantas lutas na humanidade?
Em resposta a seu pedido sincero de aprender, registramos os textos aqui discorridos. Não constituem novidades, e sim um enfoque prático para velhas questões morais que absorvem quantos anseiam pela melhoria de si mesmos. 
Nossa proposta é apresentar algumas ideias-chave para fins de meditação e autoaferição, ou ainda para estudos em grupos que anseiam por buscar respostas sobre as intrigantes questões da vida interior. Se não entendermos realmente a razão de nossas atitudes, não reuniremos condições indispensáveis para o serviço renovador de nós mesmos. 
A capacidade de administrar o mundo objetivo torna-se cada dia mais precisa e rica de tecnologia para melhor eficácia nos resultados, todavia, a inabilidade na gerência do mundo íntimo é comprovada, a todo o instante, pelos atestados de descontrole e insatisfação que o homem tem demonstrado em sua vida pessoal. Homens vencedores edificam pontes maravilhosas que se tornam cartões postais no mundo inteiro, porém, nem sempre dominam a arte de construir um singelo fio de atenção que possa estabelecer uma ponte entre ele e seu próximo, diminuindo a distância que os separa. Cirurgiões habilidosos transplantam órgãos sensíveis com precisão e controle nos dedos, e, no entanto, constantemente se desequilibram quando pequeno talher escapa das singelas mãos de seu filho, gerando perturbação e mal-estar na prole. 
Se a essência da proposta educativa do Espiritismo é a melhoria espiritual pela reforma íntima, essa, por sua vez, tem por objetivo elementar, libertar a consciência dos grilhões do ego para que possa brilhar com exuberância, sem as sombras que teimam em ofuscá-la. Travamos ao iniciar a renovação de nós mesmos, uma batalha entre o ego e consciência nos rumos da conquista do "self" definitivo e glorioso. 
Reforma íntima! Eis o tema predileto dos adeptos do Espiritismo no vastíssimo conjunto de assuntos elevados que nos desafiam o entendimento do ponto de vista do espírito imortal. Apesar de sua predileção, constata-se que a assiduidade com a qual é tratada não lhe tem garantido noções mais dilatadas que permitam o esforço consciente na transformação da personalidade humana.
Nessa ótica, detalhemos alguns conceitos sobre reforma íntima que merecem ser resgatados no seu melhor entendimento:
É uma construção gradativa de valores, visando à solidificação de qualidades eternas.
É uma proposta de plenitude e não de derrotismo. É fazer mais luz para varrer as sombras. Muitos, porém, acreditam que luz se faz extinguindo as trevas...
É a formação do homem de bem. Não se trata de deslocar vícios e colocar virtudes. É dada muita importância às imperfeições nos ambientes da doutrina, quando deveríamos falar mais das virtudes do homem de bem.
É um processo libertador da consciência. Não se trata de vencer o ego, mas conquistá-lo pelo domínio natural da voz divina que ecoa em nossa intimidade.
Reforma íntima não deve ser entendida apenas como contenção de impulsos inferiores. Muito além disso, torna-se urgente analisá-la como o compromisso de trabalhar pelo desenvolvimento dos autênticos valores humanos na intimidade. Circunscrevê-la a regimes de disciplina pela vigilância e vontade poderá instituir a cultura do martírio e da tormenta como quesitos indispensáveis ao seu dinamismo.
Contenção é aglutinação de forças de defesa contra a rotina mental dos reflexos do mal em nós, todavia, somente a edificação da personalidade cristã, pródiga de qualidades morais nobres, permitirá a paz interior e o serviço de libertação definitiva para além da morte corporal. Por essa razão, entre os seguidores da mensagem espírita urge difundir noções mais lúcidas sobre o nível de comprometimento a que devem se afeiçoar todos os seus aprendizes. Apenas evitar o mal não basta, é imperioso fazer todo o bem ao nosso alcance. A reforma de profundidade exige devoção integral aos deveres da espiritualização, onde quer que estejamos, criando condições para vivências íntimas que assegurem revoluções afetivas revitalizadoras e motivadoras a rumos mais vastos na ação e na reação: é a criação de condicionamentos novos elevados.
Assim como o corpo não extirpa partes adoecidas, mas procura harmonizá-las ao todo, a alma procede seu crescimento dentro do princípio de reaproveitamento de todas as experiências infelizes.
Quem busca o aprimoramento de si mesmo tem como primeiro desafio o encontro consigo. A ausência de ideias claras a nosso respeito constitui pesado ônus a ser superado, o qual tem levado corações sinceros e bem-intencionados a dolorosos conflitos mentais com a melhora individual, instaurando um doloroso processo de martírio a si mesmo.
Não existe reforma íntima sem dor, razão pela qual será oportuno discernir quais são as dores do crescimento e quais são as que decorrem de nossa incapacidade em lidar com as forças ignoradas da vida subjetiva em nós mesmos. A distinção entre ambas tornará nosso programa de melhoria pessoal um tanto mais eficaz e menos doloroso.
Fala-se muito do homem velho e quase nada sobre como consolidar o homem novo. Dominados pelo mau hábito de destacar suas doenças espirituais, criou-se um sistema neurótico de supervalorização das imperfeições morais que têm conduzido muitos espiritistas à condição de autênticos hipocondríacos da alma.
Conter o mal é parte do processo transformador; construir o bem é a etapa nova que nos aguarda.
Bem além de controle, educação.
Acima de disciplina com inclinações, desenvolvimento de qualidades inatas.
Maturidade pode ser definida pela capacidade individual de ouvir a consciência em detrimento dos apelos do ego. Quanto mais fizermos isso mais seremos maduros e libertos. A saúde é estar em contato pleno com a consciência, e a doença é a escravidão ao ego. Reformar-se é tomar consciência do si mesmo, da perfeição latente à qual nos destinamos. Em outras palavras, estamos enaltecendo o ato da autoeducação.
Foi o notável Jung que afirmou: “até onde discernir, o único propósito da existência humana é acender uma luz na escuridão do mero ser” (1).
Imperioso que acendamos essa luz, a luz que promana da autocrítica, sem a qual não nos educaremos.
E como exercer um juízo crítico honesto sem conhecimento das artimanhas da velha personalidade que geramos?
Senso crítico é, portanto, um dos pilares essenciais para a formação da autoconsciência, o qual nos permitirá desvendar as trilhas em direção aos tesouros divinos incrustados em pleno coração dessa selva de imperfeições, que trazemos do evo.
Apresentamos nessa obra alguns mapas para desbravar essa selva com segurança. Rotas para velhos temas morais já conhecidos de todos nós, mas que nem sempre conseguimos trazer à intimidade do entendimento satisfatório, atendendo ao anseio exuberante que espraia de nossas almas na construção da personalidade nova.
Decerto, como todo mapa, os caminhos para se atingir o destino são variados e pessoais, conforme a ótica e a escolha de cada qual, e por esse motivo entregamos todas as nossas abordagens com total despretensão quanto a resultados. Todavia, como a peregrinação pelos vales sombrios da nossa intimidade é repleta de imprevistos e ciladas, não abdicamos da palavra clara e sincera, acrescendo alguns exemplos de histórias dolorosas de quantos foram iluminados pela luz da Doutrina Espírita, sem iluminarem a si mesmos com a luz da experiência e da renovação.
Jamais nos moveu a intenção de que nossas considerações aqui exaradas pudessem constituir um roteiro de orientação ou uma tese didática sobre o tema com objetivo de traçar normas de conduta. Para nós não ultrapassam a condição de sugestões para diálogo em grupo ou meditações individuais. Nossos textos são um início de conversa, um ponto de partida para que vós outros na Terra empreendam a discussão livre e salutar sobre os caminhos da transformação humana, à luz do Espírito Imortal. Nosso coração estará sempre onde existirem os diálogos francos e produtivos acerca desse tema.
Sem pessimismo algum, mensurar a condição pessoal sem conhecimento pleno das histórias contidas em nossas fichas reencarnatórias, é, quase sempre, proceder a uma análise míope das condições espirituais autênticas que cercam nosso trajeto nos milênios. Por isso, palpitam muitas ilusões no terreno da nossa luta reeducativa, no plano físico ou fora dele. “Em princípio, o homem que se exalça, que ergue uma estátua à sua própria virtude, anula, por esse simples fato, todo mérito real que possa ter”.
Nossas reflexões destinam-se a uma autoavaliação. Sem uma incursão sincera no nosso mundo interior a fim de aquilatar o que somos e não somos, corremos o severo risco de repetir as múltiplas histórias que temos acompanhado por aqui, na vida imortal, na qual o coração bafejado pelas concepções doutrinárias acalenta uma miragem de si mesmo para além de suas reais proporções, tendo de se olhar, sem refúgios, no espelho da imortalidade amargando doloroso processo de desilusão.
Buscamos nossa inspiração em O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO – repositório ético para a felicidade humana e incomparável manancial de inspiração superior – no qual encontramos inesgotável fonte de instrução e consolo dos Bondosos Guias da Verdade, em favor dos roteiros dos homens ante suas provas e expiações. Considere-mo-lo como sendo um receituário moral para todas as necessidades humanas na Terra.
Entregamos nossos apontamentos com alegria aos leitores e amigos, esperançosa de que a celeste misericórdia multiplique nossas migalhas de amor, saciando a fome da alma com bênçãos de paz e estímulo na aquisição da consciência de si mesmo.
Afetuosamente,
Ermance Dufaux
Belo Horizonte, 16 de fevereiro de 2003."

1. Memórias, Sonhos e Reflexões - Capítulo Sobre a vida depois da morte, Nova Fronteira - Rio de Janeiro.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Angústia da Perfeição

Livro: Reforma Íntima Sem Martírio
Autor Espiritual: Ermance Dufaux

Preâmbulo

“Pode alguém, por um proceder impecável na vida atual, transpor todos os graus da escala do aperfeiçoamento e tornar-se Espírito puro, sem passar por outros graus intermediários?”

“Não, pois o que o homem julga perfeito longe está da perfeição. Há qualidades que lhe são desconhecidas e incompreensíveis. Poderá ser tão perfeito quanto o comporte a sua natureza terrena, mas isso não é a perfeição absoluta. (...)”

O Livro dos Espíritos – Questão 192

"Alma querida nos ideais renovadores, é natural que sofra inquietação por nutrir objetivos transformadores.

Ante a penúria de seus valores, você se declara sem mérito para receber a ajuda Divina. Perante a extensão de suas falhas, açoita a consciência com lancinante sentimento de hipocrisia ao repetir os mesmos desvios, os quais já gostaria de não se permitir. Essa é a estrada da perfeição, não se martirize.

Tudo isso é compreensível, parte integrante de quantos se candidatam aos serviços reeducativos de si mesmos, portanto, não sejas demasiadamente severo consigo mesmo.

Sem lástima e censura, perdoe-se e prossiga sempre.

Confie e trabalhe cada vez mais.

Por mais causticantes as reações íntimas nos refolhos conscienciais, guarde-se na oração e na confiança e enriqueça a sua fé nas pequenas vitórias.

A angústia da melhora é impulso para promoção. O remédio salutar para amenizá-la é a aceitação incondicional de si mesmo.

Aceitando-se humildemente como é e fazendo o melhor que possa, você se vitalizará com mais fortes apelos interiores para a continuidade do projeto de melhoria e corrigenda. Por outro lado, se você se pune estará assinando um decreto de desamor contra si mesmo.

Afeiçoe-se com devotamento e sensatez aos exercícios que são delegados pelas tarefas renovadoras do bem, aprimorando-se em regime de vigilância e paciência.

Sem alimentar fantasias de saltos evolutivos, dê um passo atrás do outro.

Sem ansiar pela grandeza das estrelas, ame-se na condição de singelo pirilampo que se esforça por fazer luz na noite escura.

Faça as pazes com suas imperfeições. Descubra suas qualidades, acredite nelas e coloque-as à serviço de suas metas de crescimento, essa é a fórmula da verdadeira transformação.

O tempo concederá valor e experiência a seus esforços, ajustando seus propósitos aos limites de suas possibilidades, libertando-te da angústia que provém dos excessos.

Caminhe um dia após o outro na certeza de que Deus o espera sempre com irrestrito respeito pelas tuas mazelas, guardando o único direito de um Pai zeloso e bom, que é a esperança de que amanhã você seja melhor que hoje, para sua própria felicidade."